Poucas vezes assistimos uma semana tão intensa com capacidade de afetar os mercados de risco espalhados pelo mundo. A primeira conclusão é que os aplicadores de recursos de curto prazo terão que ser obrigatoriamente mais precavidos, já que os mercados vão assumir boa dose de imprevisibilidade.
O período engloba reuniões de vários dos mais importantes bancos centrais do mundo: 1) FED americano 2) BoJ do Japão 3) BOE Inglês 4) Bacen com o Copom brasileiro. Segundo o noticiário internacional e avaliações variadas, os bancos centrais têm boas chances de mexerem ou sinalizarem mudanças na política monetária e/ou na estrutura das taxas de juros. O movimento vai exigir reposicionamento das carteiras de investimento e novas avaliações de risco.
Donald Trump vem reclamando faz tempo do imobilismo do FED com críticas pesadas por acelerar a normalização da política monetária, classificando o banco central como “desorientado” diante da inflação baixa e baixo crescimento da economia global. Trump voltou a dizer que corte pequeno de juros não será suficiente. Alertou que a União Europeia e a China vão baixar juros e aumentar a liquidez de seu sistema financeiro enquanto o FED permanece parado. O Banco Central Europeu só deve baixar juros na reunião de setembro. Claramente tenta interferir numa decisão técnica. Mas o FMI apoia dizendo que é correta a postura em função da economia mundial e inflação fraca.
O Banco Central do Japão sinalizou taxas de juros baixas até meados de 2020. O presidente Kuroda declarou que fará o possível para manter a economia acessa, comemorando que o país saiu do processo de deflação. O Banco Central Inglês aparentemente está numa encruzilhada, semelhante ao Banco Central do Brasil. Existem inúmeras dúvidas sobre o que acontecerá com o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. A ascensão de Boris Johnson como primeiro ministro leva a conclusão que até 31 de outubro (data limite), os britânicos deixarão a União Europeia, com ou sem acordo. O fato agrega boa dose de dúvida sobre qual caminho será adotado.
No Brasil não é diferente. Caso a reforma da Previdência saia próxima dos tais R$ 933 bilhões de economia fiscal em dez anos, haveria espaço para boa redução da taxa Selic, já que a inflação está abaixo da meta e a economia está cada vez mais paralisada. Ocorre que depois da volta do recesso, ainda teremos três votações sobre a reforma da Previdência (duas no Senado), e houve tempo para grupos organizados prepararem lobbies que podem diluir a reforma. Será preciso ainda emendar outras reformas, até mais complicadas de serem aprovadas no Congresso, como a reforma tributária, administrativa e a política. Além disso, destacamos o crescente processo de judicialização que ocorre no país, onde tudo acaba terminando no Supremo Tribunal Federal. Que por sua vez anda absolutamente dividido em dois grupos.
A semana engloba ainda renovadas discussões comerciais entre os EUA e a China sobre comércio bilateral e propriedade intelectual. Há encontros marcados entre negociadores americanos (Mnuchin e Lighthizer) com o vice primeiro ministro Liu He. Apesar da boa vontade entre os dois países aparentemente não teremos uma definição rápida da situação.
Será divulgada a safra de balanços das principais empresas (no Brasil e exterior) referente ao segundo trimestre do ano de 2019 que interferem pontualmente na precificação dos ativos e podem interferir no próprio desempenho dos mercados. No Brasil teremos resultados: Petrobras (SA:PETR4), Vale (SA:VALE3) e Banco Itaú (SA:ITUB4) (as três maiores ponderações do Ibovespa) e outras empresas importantes e de setores diversos. Nos EUA, teremos o resultado da Apple (NASDAQ:AAPL), Chevron e ExxonMobil (NYSE:XOM), dentre outras.
Quanto aos indicadores de conjuntura, a virada do mês se encarrega de trazer dados importantes de emprego nos EUA via payroll. O payroll é a criação de vagas nos setores público e privado. Além do payroll, será divulgada a inflação medida pelo PCE (gastos com consumo). Indicador muito apreciado pelo FED para tomada de decisão. Como se vê deixando até de abordar outras vertentes como tensão no Oriente Médio e sanções impostas pelos EUA aos países como Rússia, Turquia Coreia do Norte. Ou mesmo conflitos comerciais entre Japão e Coreia do Sul.
Concluímos que será uma semana crucial para reequilíbrio dos preços dos ativos e é exatamente por isso que exige prudência operacional. Mas ao mesmo tempo abre espaço para apostas mais variadas. Principalmente para quem gosta de exposição ao risco irá capturar assimetrias dos mercados.