As atenções do mercado nesta primeira semana de abril estarão voltadas para questões de caráter jurídico e político, principalmente a sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) que deve julgar na quarta-feira o pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também para os desdobramentos da operação Skala, envolvendo o presidente Michel Temer.
Na agenda econômica local, destacam-se o anúncio, na terça-feira, dos números referentes à Produção Industrial de fevereiro — para a qual se espera alta modesta na variação mensal, após a retração vista em janeiro — e a divulgação da Balança Comercial de março, que sai já na segunda-feira e poderá mostrar desaceleração no acumulado em 12 meses.
De olho na inflação medida pelo IPC da Fipe e na produção de veículos em março
Serão conhecidos ainda, na terça-feira, o IPC da Fipe (março) e, na quinta-feira, os resultados da produção de veículos de março, anunciados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Dados de emprego nos EUA são destaque na agenda internacional
Na agenda internacional, o foco principal é o dado de emprego nos EUA, que nos últimos meses, segundo lembram analistas da Rosenberg Associados, tem registrado crescimento firme do número de postos de trabalho, com o desemprego se mantendo estável, combinação que não tem resultado em pressão sobre os salários. Também é esperado discurso do presidente do Federal Reserve (Fed – banco central americano), Jerome Powell, no Clube Econômico de Chicago.
Destaque ainda para divulgação, na quarta-feira, da taxa de desemprego (fevereiro) e de prévia de março da CPI (Consumer Price Index) na zona do Euro. No Japão, sairão na quinta-feira dados relativos à produção industrial de fevereiro.
Julgamento de habeas corpus de Lula e Temer na mira da Operação Skala
O cenário político neste início de mês é de expectativa e tensão, com o julgamento no STF do habeas corpus da defesa do ex-presidente Lula, que busca evitar sua prisão até a última apelação judicial, gerando manifestações públicas a favor e contra ele. Aguardam-se também os desdobramentos da prisão (e liberação) de amigos do presidente Temer na Operação Skala, somando-se ainda ao quadro as mudanças nos ministérios. No pano de fundo disso tudo, estão as eleições de outubro, mantendo a agenda política no centro das atenções.
Clima de tensão se intensifica
O clima na política vem se mostrando mais tenso nas últimas semanas, primeiro com o assassinato, no Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson, depois o ataque a tiros ao ônibus da caravana do ex-presidente Lula, no Paraná, e trazendo ainda pressões na área jurídica, como a mobilização de procuradores e juízes em favor de prisões após julgamento em segunda instância.
Mas, mesmo após a revogação das prisões do advogado José Yunes e do coronel da reserva João Baptista Lima Filho, Temer volta a conviver com o fantasma de uma terceira denúncia, desta vez por conta das investigações sobre um decreto assinado por ele no setor portuário, suspeito de favorecer empresas em troca de propina. Isso ocorre justamente no momento em que ele se lançava a disputar a reeleição, aguardando a reação dos aliados políticos no Congresso.
O Banco Fator destaca, em relatório a clientes, que “vai ficando pesado o ambiente (…) Os fatos mostram fortalecimento da polarização que indica tempos tensos pela frente. Os preços dos ativos ainda não antecipam dias difíceis.”
Ministros deixam governo para disputar eleições
Com o prazo de filiação partidária e para a saída de quem tem cargos públicos se encerrando no sábado, dia 7, Temer também ganha um certo protagonismo com a nomeação de novos ministros. Nesta segunda-feira, 2, devem tomar posse Valter Casimiro Silva (Transportes) e Gilberto Occhi (Saúde).
Na área econômica, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, deve assumir o BNDES. Já o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, será o novo ministro da pasta, substituindo Henrique Meirelles, que deixa o cargo para articular sua candidatura à presidência da República.
Balança Comercial poderá sinalizar redução saudável do superavit comercial
A Balança Comercial inicia 2018 dando continuidade aos fortes resultados do ano anterior, segundo análise da equipe do Banco Fator. Em fevereiro, lembram os analistas em relatório, ela registra superávit de US$ 4.907 milhões, um ganho de 7,74% sobre janeiro de 2017, acumulando US$ 70.95 bilhões em 12 meses. “Esperamos que, em março, o saldo seja superavitário em US$ 6.3 bilhões. O mesmo mês no ano anterior registrou um saldo de U$ 7.1 bilhões”, ressaltam.
“A Balança Comercial de março finalmente começa a mostrar a desaceleração esperada no acumulado em 12 meses, com superávit menor que o observado no mesmo mês de 2017 (US$ 7,1 bilhões)”, dizem os analistas da Rosenberg Associados. Para eles, esta retração deverá ocorrer por crescimento mais intenso das importações (mais de 17% na comparação da média diária) do que das exportações (pouco menos de 9%). “É uma redução saudável do superávit comercial, portanto, pois reflete a melhora da atividade econômica.”
Produção Industrial: previsão de crescimento modesto na variação mensal
Para a Produção Industrial de fevereiro, a projeção da Rosenberg é de crescimento bastante modesto na margem (variação mensal), de 0,2%, após a retração apontada em janeiro. “É um dos dados que deve reforçar as preocupações sobre o ritmo de atividade neste início de ano”, diz relatório da consultoria. Acrescenta, no entanto, que ainda é prematuro alterar as projeções para o ano. “Continuamos esperando uma recuperação lenta e gradual da atividade econômica, com volatilidade nos dados mensais”.
O Fator também faz projeções de leve alta mensal, de 0,6%, o que levaria a um crescimento interanual de 4,0%. O resultado da Indústria em janeiro foi queda de 2,4% no mês e alta de 5,7% no ano. A queda no mês veio da indústria de transformação e da produção de insumos da construção civil, ambas devolvendo a alta de dezembro.
Destaques positivos em veículos devem continuar sendo caminhões e ônibus
A produção de veículos, segundo dados da Anfavea, recuou pelo segundo mês seguido (-2,8%) em fevereiro. Em relação a 2017, foi registrada uma alta de 5,7%, antecedida pela taxa de 25,2% de janeiro. Para a equipe do Fator, o destaque positivo do setor deve continuar no grupo de veículos pesados, caminhões e ônibus, que cresce em torno de 30% na margem (variação mensal) e acima de 40% no ano.