A semana contém vários itens na agenda com capacidade de mexer com a precificação dos ativos no mundo, e principalmente no Brasil.
Antes disso, no exterior, teremos a reunião anual de bancos centrais de Jackson Hole, com fala prevista do presidente do FED, Jerome Powell na quinta-feira. Também teremos indicadores bem importantes como o PIB da Alemanha no segundo trimestre, atividade industrial de Richmond, e encomendas de bens duráveis nos EUA, lucro da indústria na China e o deflator de preços no consumo (PCE), que o FED olha com lupa.
Mas, certamente, o mais importante será a fala de Jerome Powell, pois pode mudar um pouco o direcionamento da política monetária americana, deixando mais clara qual será a abordagem da inflação nos próximos tempos. A ideia central é que a inflação possa ficar um grande período acima da meta de 2%, depois de ter passado alguns anos abaixo disso. Ou seja, trabalhar com média ao redor da meta. Isso claramente mexerá com juros e câmbio diretamente.
Aqui, as expetativas estarão voltadas para a divulgação da prévia de inflação medida pelo IPCA-15, mas assim como nos EUA, o vetor mais importante (além de outros indicadores que serão apresentados) será o pacote de medidas que a equipe de Paulo Guedes chamou de “Big Bang” que deve ser mostrado no dia 25/8. Segundo o noticiário dele, consta a antecipação do programa Renda Brasil para ainda esse ano, cortes de despesas selecionadas, obras públicas prioritárias, estímulo ao emprego, atração de investimentos privados e o processo de privatização.
Isso soa para os economistas e investidores como música de boa qualidade, mas teremos que aguardar para ver como tudo isso se incorpora à necessidade de reordenação de nossas contas públicas no pós-crise. Além disso, as dificuldades que teremos em atrair investidores, notadamente os estrangeiros, muitos dos quais estão fazendo o movimento inverso, por conta das incertezas globais e do próprio Brasil. Basta citar que o fundo soberano da Noruega com ativos da ordem de US$ 1,1 trilhão, tem reduzido posição de ações no Brasil para US$ 5,2 bilhões (no final do ano de 2019 era de US$ 7,6 bilhões), enquanto na renda fixa detinham US$ 2 bilhões e hoje não consta de demonstrativo.
Nesse aspecto surge como crucial saber como o governo endereçará o orçamento de 2021. Se não for bem estudado pelo Congresso, os cortes de despesas, auxílio emergencial, BPC e outros, pode ocorrer um estouro já nesse ano, e não dá para aceitar maquiagens em contas públicas. Algumas coisas poderiam andar mais rápidas como marcos regulatórios (destaque para gás), ou ainda a independência do Banco Central, situações já razoavelmente aceitas pelo Congresso e de interesse do Executivo. Mas seria bom colocar também o Judiciário nessa mesma “vibe”, para evitar recorrências e atrasos.
Outra situação que não agrada muito se refere a reforma tributária e eventual aumento da carga, num país que já não suporta mais pagar impostos sem a correspondente prestação de serviços públicos. Um ponto contra é que depois da pandemia, o Congresso ficou mais benevolente com aumentos de tributos e reforma.
Vamos ter que torcer bastante pela clarividência do presidente Bolsonaro em domar a atitude “fura teto de gastos” de uma ala do seu governo, ao mesmo tempo, em que Guedes, seu “posto Ipiranga” permanece prestigiado. Vamos ter que torcer para que o projeto liberal seja mantido minimamente e que o presidente não seja completamente seduzido pelo populismo, visando a reeleição de 2022.
O Brasil precisa disso, do ajuste das contas públicas e fiscais, além de uma boa reforma administrativa.