Estamos começando mais uma semana, depois de a Bovespa ter engatado sequência de alta de sete pregões e queda do dólar abaixo de R$ 5 (depois de ter arranhado R$ 6), com o Ibovespa superando nos primeiros dias de junho uma valorização de mais de 11%, e agora voltando a transitar na faixa de 4%, depois de absorver pressões externas e internas.
A nova semana começa com o espectro de uma segunda onda de contaminação da Covid-19, atingindo países que tinha começado suas aberturas, como os EUA (Flórida, Texas e Califórnia; principalmente), China fechando mercados em Pequim e outras áreas, Japão e Itália. Isso se confirmando, novas áreas terão que voltar ao isolamento, batendo diretamente na recuperação das economias e significando ainda maiores esforços para governos e bancos centrais, para mitigar os graves impactos nas economias. Lembramos que esses países promoveram a reaberturas com curvas de contágio e óbitos em desaceleração.
No Brasil, estamos fazendo isso com curvas ainda ascendentes, e já assumindo a segunda posição em números absolutos de mortes. Isso significa ainda maior risco de termos uma segunda onda nessa tentativa de reabertura em algumas áreas do país. Mas notem que o governo, banco central e bancos públicos já fizeram esforços bem acima do que seria possível, e ainda assim falamos de encolhimento do PIB nesse ano da ordem de 7%. Uma segunda onda poderia levar a queda do PIB acima de 9%.
Dissemos isso para evidenciar a fragilidade do mundo em relação à Covid-19, e especialmente dos países emergentes e desequilibrados em suas finanças públicas para lidar com a grave situação de crise. Porém, como se isso só já não bastasse, a semana contêm algumas situações importantes a serem analisadas.
Há grande preocupação com as relações diplomáticas entre China e EUA, num ano de eleições, em que Trump está atrás nas pesquisas em cerca de 8% a 10%, e isso pode significar postura ainda mais dura de Trump para com os chineses, tidos como causadores da pandemia. Por lá, ainda teremos durante a semana diversos posicionamentos de dirigentes do Fed, incluindo depoimento de Jerome Powell ao congresso e Mike Pompeo em contato com a União Europeia, quando, certamente, a China estará no cardápio, apesar da União Europeia negar aliança anti-China liderada pelos EUA.
Aqui, teremos que absorver o impacto da próxima mudança no titular do Tesouro Nacional, nome forte da equipe econômica de Paulo Guedes, guardião da “chave do cofre” e adepto de primeira hora do teto de gastos. Claro que Mansueto de Almeida não é insubstituível, mas vai deixar uma lacuna.
Depende muito do nome do novo titular a ser indicado, aparentemente Bruno Funchal, que fez bom trabalho na secretaria do Espírito Santo. Na sequência, teremos a decisão do Copom na próxima quarta-feira, que não deve destoar do consenso de queda da Selic em até 0,75% (para 2,25%), mas todos estarão voltados para a sinalização do Bacen de continuidade ou não da queda dos juros.
Teremos também a divulgação do índice IBC-Br pelo Bacen, uma espécie prévia do PIB de abril, que deve estar no fundo do poço da contração. No Congresso teremos votações importantes como a MP 936 sobre reajuste do funcionalismo público e vetos do presidente e no STF e TSE, julgamento sobre a continuidade dos inquéritos das fake news e chapa Bolsonaro-Mourão.
Fechando tudo isso, ainda temos os vencimentos para o prazo junho (hoje 15/6) do mercado de opções e na quarta-feira o vencimento do mercado de índice na B3. Resumindo, significa que podemos ter muita volatilidade durante praticamente toda a semana, num momento de maior fragilidade mundial.
Vamos precisar de muito sangue-frio nessa hora para evitar tomadas de decisões precipitadas. Porém, como sempre, temos ressaltado que é exatamente nessas horas que surgem as oportunidades de ganhos extraordinários, pelas assimetrias dos mercados e dos preços dos ativos.
Alvaro Bandeira
Sócio e Economista-chefe do banco digital modalmais