Os resultados das eleições para presidente da República e governadores, confirmando a previsão de vitória, na Presidência, do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, darão o tom aos mercados na semana que entra, mais curta em função do feriado de Finados na sexta-feira. Investidores e analistas também estarão de olho na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que define na quarta-feira (31) a nova taxa Selic (juros básicos da economia), além de acompanharem dados de produção industrial e taxa de desemprego relativos a setembro, que saem entre terça e quinta-feira. Já na segunda-feira, será conhecido o IGP-M, parâmetro para correção de contratos de aluguel, referente ao mês de outubro.
A expectativa do mercado é que ao longo da semana já deverão ser conhecidos nomes que irão compor o novo governo, bem como as primeiras indicações para um período de transição e a agenda prioritária do presidente eleito.
Primeiras ações de Bolsonaro, equipe de transição e recomposição da oposição
No cenário político, as atenções estarão concentradas nas primeiras ações do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), consagrando a vitória do liberalismo na economia e o conservadorismo nos costumes. A Bíblia na mesa e a citação do Evangelho no início do primeiro pronunciamento, bem como a defesa do ajuste fiscal, reforçam essa expectativa.
O início dos trabalhos da equipe de transição, a formação do ministério, sua agenda de reformas, seu relacionamento com o Congresso Nacional e a defesa das instituições democráticas devem estar em pauta nos próximos dias.
Aliado conservador e oposição dividida
Com a vitória de Bolsonaro, começam as tratativas em torno das forças políticas que vão apoiar o seu governo, de perfil de centro-direita, destacando-se PSL e DEM, entre outras. No outro lado, partidos como PT e PDT vão se opor às políticas do militar reformado. Dois candidatos merecerão atenção: Fernando Haddad (PT), que disputou o segundo turno sem conseguir construir uma frente de partidos e ampliar os apoios, e Ciro Gomes (PDT), que não declarou o voto no ex-prefeito de São Paulo, sinalizando de forma clara que será oposição ao futuro governo, mas não aceitará a liderança do PT. A tendência, portanto, é que Ciro e o PT disputem a liderança da esquerda e da oposição a Bolsonaro, já de olho na eleição de 2022.
Dória vence em SP e pode influenciar PSDB
Compõe o cenário a eleição aos governos estaduais, destacando-se São Paulo, com vitória de João Doria (PSDB), declarado-se apoiador de Bolsonaro, sobre Marcio França (PSB), e o Rio Grande Norte, que elegeu a única mulher governadora: Fátima Bezerra (PT). No caso de Doria, a expectativa é com o futuro do PSDB em São Paulo, já que o partido rachou e grande parte não apoiou o ex-prefeito, que se jogou nos braços de Bolsonaro para conquistar os votos anti-PT. Agora será preciso ver se Doria tentará remendar o partido ou optará para um caminho mais à direita. Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, que apoiou a entrada de Doria na política e quase perdeu a vaga de candidato para o pupilo, sai como grande derrotado, não só nas urnas, mas no partido.
Previsão é de estabilidade da Selic em 6,5%
Na economia, a estimativa da maioria dos analistas para a taxa Selic é de manutenção pelo Copom, no patamar de 6,50% ao ano. Na avaliação da equipe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco (SA:BBDC4), a manutenção dos juros “deve ocorrer em reconhecimento da melhora do balanço de riscos e dos modelos de inflação para o horizonte previsível”. Os analistas do Banco Fator também projetam estabilidade para a Selic em 6,50%.
De olho no PIB do euro, atividade e emprego na China e EUA
A agenda internacional, segundo os analistas, tem como destaques a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) da Área do Euro do 3º trimestre, emprego nos EUA e dados preliminares da atividade americana e da China relativas a outubro.
“Enquanto os dados de emprego e atividade industrial nos EUA devem confirmar o atual ritmo de crescimento robusto, será importante acompanhar o índice de salários, que será divulgado na sexta-feira”, enfatiza o Bradesco em relatório. Na Europa, estimam os economistas do banco, o PIB deve acelerar em relação ao 2º trimestre, com alta esperada de 0,6%. Os dados recentes de China e países da região, destaca o Depec-Bradesco, surpreenderam de forma negativa, o que aumenta a expectativa em relação aos dados de outubro.
Eleições nos EUA e politica monetária
Na semana passada, lembram os analistas do Banco Fator, o presidente Donald Trump insistiu em usar toda oportunidade para lembrar das eleições de meio de mandato no próximo dia 6 de novembro, onde serão disputadas todas as cadeiras da House (Câmara) e 1/3 das do Senado, sendo que a maioria republicana atual pode cair por nove votos no Senado e 13 na Câmara. “O presidente dos EUA voltou a provocar a diretoria do Fed (Federal Reserve, Banco Central americano) a respeito da política monetária “independente”. O vice-presidente de regulação, Quarles, e o vice-presidente Richard Clarida, por sua vez, defenderam a política monetária e minimizaram as opiniões políticas.
Agitação nos mercados
Com os EUA lembrando o mundo das eleições e de outras arestas no mundo político e geo-político, ameaças de bombas contra personalidades símbolo dos democratas, inclusive Obama, Hillary e Robert De Niro, houve agitação nos mercados.
As sanções dos EUA contra o Irã também começam oficialmente em novembro e já afetaram, de acordo com os analistas do Fator, o preço do petróleo para cima. O Brent passou dos US$ 80. A Arábia Saudita, em meio à crise decorrente do assassinato do jornalista saudita do jornal americano Washington Post no consulado da árabe, em Ancara, anunciou que vai abastecer o mercado de petróleo da quantidade necessária e, com isto, o preço caiu a US$ 72, enquanto os preços de outras commodities importantes caíram.
Desaceleração na China e manutenção dos juros na Europa
A analise do banco enfatiza ainda que houve mais uma rodada de notícias sobre a desaceleração do crescimento chinês e de anúncios e análises sobre as medidas de estímulo do governo com as inevitáveis implicações sobre os preços das commodities. O ECB (Banco Central Europeu), por sua vez, manteve os juros e ajustou o programa de compra de ativos, não dando mais sinais de mudança, indicando que o calendário continua e as compras param no fim deste ano.
Temporada de balanços continua, com destaque para bancos
Na semana que entra, também segue no foco das atenções a continuidade da divulgação dos balanços corporativos relativos ao terceiro trimestre, com destaque para empresas como Klabin (SA:KLBN11), Multiplan (SA:MULT3), Cielo (SA:CIEL3), Embraer (SA:EMBR3), além de grandes bancos como Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Bradesco e Santander (SA:SANB11), entre outras.
Preços dos ativos podem trazer surpresas positivas
Na avaliação do Banco Fator, com o novo presidente eleito e os anúncios esperados para sua equipe de governo, os preços dos ativos ainda poderão mostrar surpresas agradáveis de parte dos participantes do mercado financeiro. “Por outro lado, a aproximação das eleições nos EUA e o feriado da sexta-feira vão encurtar os horizontes e devem trazer cautela aos investidores”, alerta a equipe em relatório a clientes.
IGP-M, desemprego e produção industrial
O IGP-M de outubro, projeta o Fator, deverá registrar alta de 0,83% no mês e de 10,73% no ano. Para o resultado primário do Setor Público Consolidado, que o BC deve anunciar também na segunda-feira, a equipe espera um déficit mensal de R$ 25,30 bilhões e de R$ 61,80 bilhões para o déficit nominal. “Estimamos que a taxa de desemprego de setembro, divulgada pelo IBGE na Pnad na próxima terça-feira (30), será de 11,8%”, completam os analistas.
Já a produção industrial, referente ao mês de setembro, segundo os economistas do Fator, deve contrair 2% na margem (variação mensal) e 0,30% em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado será publicado pelo IBGE na quinta-feira (1/11). Para a balança comercial de outubro, prevista para sair na segunda-feira, a previsão é que registre um saldo positivo de US$ 6,7 bilhões.