A semana está apenas começando e intuímos que pode ser bastante complicada. O período começou com feriado nos EUA (Dia do Presidente) e, por isso, os mercados em todo o mundo perdem parte do referencial de preços dos ativos e muito da liquidez. Se não bastasse, ainda temos que considerar outros eventos de enorme importância.
Nos EUA, serão retomadas as negociações com a China sobre tarifação de produtos entre os países e outra questão não menos importante é a propriedade intelectual. Os EUA acusam a China de roubo. De qualquer forma, Donald Trump disse que a tarifação prevista entra em vigor no próximo mês de março mas que pode ser postergada, caso as negociações estejam bem encaminhadas.
Uma outra possível encrenca política nos EUA é que na última semana (11 a 15 de fevereiro), Trump decretou estado de emergência no país, o que teoricamente permite que ele cumpra seu objetivo de campanha de seguir com a construção do muro na fronteira com o México. Ocorre que Nancy Pelosi, presidente da Câmara, disse que Trump não pode rasgar a constituição, pois o estado de emergência para construção de muro não serve para redirecionar recursos do orçamento. O fato pode trazer consequências políticas para Trump, junto ainda com investigações sobre influência russa nas eleições, pois o presidente acaba de lanças sua reeleição para presidente.
Outra questão se refere ao Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. A situação é cada vez mais confusa, com a primeira ministra Theresa May iniciando périplo junto a lideranças da União Europeia para modificar o acordo, principalmente no ponto complicado da fronteira entre as duas Irlandas (a do Norte está no Reino Unido). Ocorre que membros da União Europeia dizem não haver negociação possível e criticam o Reino Unido por não formular posições claras.
Além disso, o presidente do BOE (BC Inglês), Mark Carney, diz que metade das empresas não está preparada para um Brexit sem acordo algum, e pode atrasar a normalização da política monetária. Acresce ainda que na zona do euro, a desaceleração econômica está tomando mais corpo, principalmente na Alemanha, que apresenta desaceleração ao longo deste primeiro semestre. A tônica de momento na região é que todos devem se preparar para a possibilidade de Brexit sem acordo, já que até o momento, faltam, na teoria, somente seis semanas para o evento de saída.
Na China, o governo luta para domar a desaceleração econômica, traçando políticas de distensão para o segmento financeiro e pequenas e médias empresas, ao mesmo tempo em que discute com os EUA as relações comercias. A inflação baixa anunciada na semana passada (CPI anualizado de janeiro em 1,7%) abre espaço para flexibilização da política monetária, ao mesmo tempo em que o governo deflagra caça às plataformas informais de crédito conhecidas como P2P. Congelando ainda ativos e promovendo prisões de pessoas relacionadas, muitas que já deixaram o país.
No cenário local, o foco da semana está no encaminhamento do projeto de reforma da Previdência ao Congresso, marcado para 20 de fevereiro, quando poderemos ter acesso às informações mais densas sobre a reforma. O ministro Paulo Guedes estima que seu projeto deve gerar economia de R$ 1,1 trilhão para o Tesouro em dez anos, mas não são poucos os que creem que a proposta será desidratada na tramitação do Congresso, levando a uma menor economia, nesse momento estimada entre R$ 400 bilhões e R$ 800 bilhões. De qualquer forma, quanto mais profunda e abrangente for a reforma, melhor para a credibilidade do governo, ampliando a possibilidade de, na sequência, aprovar outras mudanças quase igualmente importantes. Muita coisa ainda será mudada no projeto que só deve ser votado pelo final do terceiro trimestre de 2019.
Especificamente sobre o mercado, a semana embute o vencimento de opções em seguida ao de índice (13 de fevereiro), e a necessidade de ajustes de posições. Ao mesmo tempo, aparentemente depois da queda recente e valorização do dólar, os investidores estrangeiros ficaram mais animados e voltaram a alocar recursos na Bovespa. O mês ainda está negativo em R$ 155 milhões, mas o ano segue com ingresso líquido de R$ 1,36 bilhão, até 13 de fevereiro.
Apesar de tudo, mantemos o otimismo de médio e longo prazo com os mercados de risco e expectativa que a Bovespa rompa definitivamente o patamar emblemático de 100.000 pontos. Certamente vamos ter muita volatilidade, mas acreditamos que a tendência primária é de alta.