Setembro chegou com uma dose extra de volatilidade no mercado financeiro, com os investidores avaliando se os preços dos ativos não estão esticados demais, em meio aos sinais ainda dúbios sobre a recuperação econômica global, seis meses após o início da pandemia. E esse vaivém nos negócios deve ganhar força nesta primeira semana cheia do mês, que já vai chegando à metade.
Ao longo dos próximos dias, os investidores vão digerir indicadores de atividade no Brasil e no exterior para avaliar se o ritmo da retomada da economia real é condizente com o rali dos ativos de risco. A percepção é de que a despeito do bom desempenho do mercado financeiro, os números econômicos mostram uma moderação na trajetória de recuperação, que parece entrar em uma fase mais errática e desigual entre diferentes setores e países.
Mas também é preciso considerar o apoio dado pelos principais bancos centrais, que vêm inundando o sistema com uma liquidez sem precedentes, alimentando o apetite por risco. Aliás, a semana está repleta de decisões de política monetária, aqui e lá fora, concentradas entre quarta e quinta-feira. Enquanto aguardam os eventos envolvendo o Federal Reserve e os BCs do Brasil (Copom), do Japão (BoJ) e da Inglaterra (BoE), os mercados avançam.
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta acelerada, de mais de 1%, após acumular queda nas duas primeiras semanas do mês. As ações do setor de tecnologia lideram as altas, reagindo à notícia de que a Oracle superou a Microsoft (NASDAQ:MSFT) e deve levar as operações do TikTok nos Estados Unidos. O lado chinês não confirma a venda, imposta pelo presidente Donald Trump para evitar uma proibição do aplicativo no país.
As principais bolsas europeias pegam carona no sinal positivo vindo de Wall Street, mas exibem ganhos moderados, apesar de uma sessão igualmente no azul na Ásia. Os investidores realimentam esperanças por uma vacina contra o coronavírus, após a retomada dos testes da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca, além de comentários da Pfizer de que haverá cura para a covid-19 até o fim do ano.
Ao mesmo tempo, os investidores digerem uma série de operações de fusões e aquisições, com a Nvidia comprando a divisão de chips do SoftBank por US$ 40 bilhões e a Gilead adquirindo a Immunomedics por US$ 20 bilhões. Nos demais mercados, o petróleo tenta se sustentar em alta, enquanto o ouro avança, em meio às perdas generalizadas do dólar e à estabilidade dos bônus norte-americanos (Treasuries), à espera da reunião do Fed.
Semana de Decisão de BCs
Na agenda de indicadores e eventos econômicos da semana, o Fed abre o caminho para as decisões de Copom, BoJ e BoE, na tarde de quarta-feira. Porém, a autoridade monetária não deve trazer novidades sobre a taxa de juros nos EUA, que deve ser mantida no intervalo entre zero e 0,25%, no qual vem rondando desde março.
As atenções se voltam, então, para as mudanças no comunicado, nas projeções para a economia norte-americana e para a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell. Será a primeira vez que Jay irá responder a perguntas desde que anunciou mudanças na estratégia de política monetária durante o simpósio em Jackson Hole.
Juntamente com a fala dele - que deve reforçar a mudança de postura do Fed, passando a aceitar um “viés inflacionário” nos EUA até que o desemprego diminua - será importante observar as projeções econômicas, trazidas no chamado gráfico de pontos (dot plot), baseadas nessa nova abordagem. A novidade fica com a inclusão do ano de 2023.
Poucas horas após os eventos envolvendo o Fed, é a vez do BC do Brasil entrar em cena. E a reunião do Copom deve trazer como novidade a interrupção do ciclo de cortes na taxa básica de juros, iniciado em julho de 2019. Após nove quedas consecutivas, que levou a Selic ao piso histórico de 2%, a autoridade monetária deve redobrar a cautela.
A expectativa é de uma linguagem mais dura (“hawkish”) no comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, com o BC fechando qualquer fresta deixada para ajustes adicionais, mostrando-se atento aos efeitos da prorrogação do auxílio-emergencial no consumo e no Orçamento, além dos sinais de acúmulo de pressão inflacionária no atacado.
Aliás, o BC recheia a agenda doméstica da semana, trazendo hoje o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) em julho, que deve lançar luz sobre o ritmo da recuperação após o tombo histórico no trimestre passado, entre outras tradicionais publicações semanais. Além disso, saem leituras de Índices Gerais de Preços (IGP), que têm refletido a alta do dólar.
De volta ao exterior, também merecem atenção as decisões do BoJ e BoE, na quinta-feira. Enquanto o Japão deve se abster de qualquer mudança relevante até que seja definida a troca de liderança no país, o BoE terá de lidar com a incerteza sobre a saída do Reino Unido (Brexit) após o ultimato da União Europeia (UE) para abandonar a retirada unilateral.
Entre os indicadores econômicos lá fora, destaque para os números sobre a atividade na indústria e no varejo na China, hoje à noite, e nos EUA, amanhã e quarta-feira.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações no Brasil, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). O dia conta ainda com a divulgação do IBC-Br (9h) de julho. No exterior, logo cedo sai o desempenho da indústria na zona do euro em julho e, à noite, a China anuncia os dados de agosto sobre a produção industrial, as vendas no varejo e os investimentos em ativos fixos.
Terça-feira: O calendário doméstico está esvaziado hoje, o que desloca as atenções para o exterior, onde o destaque fica com os números da indústria nos EUA em agosto. Na zona do euro, sai o índice ZEW de sentimento econômico neste mês.
Quarta-feira: O dia é de decisão de política monetária no Brasil e nos EUA. Os eventos envolvendo o Fed acontecem à tarde, enquanto o anúncio do Copom é conhecido apenas após o fechamento do pregão local. Entre os indicadores econômicos, saem o primeiro IGP do mês, o IGP-10, e o desempenho do varejo norte-americano no mês passado.
Quinta-feira: Mais um dia de decisão de política monetária, desta vez, dos bancos centrais do Japão (BoJ) e da Inglaterra (BoE). Entre os indicadores econômicos, saem a leitura final da inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro e os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA.
Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo como destaques apenas a segunda prévia de setembro do IGP-M e o índice de confiança do consumidor norte-americano neste mês.