Quando se trata de economia as expectativas são fundamentais. Se as expectativas futuras são favoráveis, o apetite ao risco aumenta e a economia é beneficiada, assim como se as expectativas forem negativas o capital foge de investimento de risco e migra para investimentos com rendimentos inferiores, porém seguros.
Para evitar incertezas futuras e garantir a estabilidade fiscal e econômica do país, o governo atua na economia por meio das políticas fiscal e monetária.
A política monetária tem a taxa de juros como principal instrumento estabilizador. Se os juros estão altos o custo do crédito e empréstimos bancários aumentam e desestimula novos investimentos. Já se os juros estiverem baixos ele incentiva novos investimentos em toda a economia.
Já a política fiscal está ligada ao tamanho do governo e seus gastos na economia. Se a sociedade escolhe um governo de esquerda ela está optando, mesmo sem saber disso com clareza, por um governo “gastador”, o contrário em tese se aplica quando o governo é de direita.
As medidas econômicas adotadas em todo mundo para combater os impactos da pandemia, aliadas ao choque de oferta, criaram o ambiente perfeito para a volta da inflação em todo o mundo. Com a alta inflacionária tornou-se questão de tempo para os bancos centrais entrarem em campo e garantir a estabilidade dos preços.
O banco central brasileiro foi o primeiro a iniciar o ciclo de aperto monetário para conter a alta dos preços por aqui. A taxa Selic saiu de 2% em março de 2021 e vai chegar a 12,75% em maio.
Porém, a publicação do boletim Focus de hoje já sinaliza que o cenário internacional, incerto com a imprevisibilidade da guerra e os custos iminentes com o lockdown chinês, deixa aberto possíveis altas futuras. Estamos vivenciando um dos maiores apertos monetários da história do país.
Mas as consequências do aumento dos juros não são imediatas. Cada alta vai influenciar a atividade econômica por volta de quatro meses adiante. Com a forte alta dos juros no último ano, a economia deve começar a puxar o freio de mão a partir de julho.
O juro é o remédio utilizado em todo o mundo para conter a alta dos preços, mas enquanto ele controla a inflação ele aumenta o custo da dívida pública.
Historicamente, o Brasil sempre sofreu com taxas de juros elevadas. Nos últimos 20 anos os países desenvolvidos injetaram liquidez recorde e adotaram taxas de juro real negativo em sua economia. Enquanto isso nós não fomos capazes de manter os juros compatíveis com o resto do mundo.
Agora, com o fim da era da liquidez abundante e governos “atrás da curva”, a missão de adotar juros baixos fica ainda mais desafiadora.
O custo da alta dos juros indica que a cada aumento de 1% na taxa Selic traz um custo adicional para o tesouro nacional por volta de R$30 bilhões em apenas 1 ano.
Com a alta expressiva da Selic no último ano, o custo do governo federal com pagamento de juros já supera qualquer programa social.
Diante do contexto atual, qualquer alta de juros acima de 12,75% pode ter efeito nulo nas expectativas inflacionárias futuras, visto que o mundo todo enfrenta uma inflação de oferta.
Continuar subindo os juros para combater esse tipo de inflação equivale a adotar o remédio correto com doses elevadas para tratar o paciente. Na economia, assim como na saúde, o excesso pode prejudicar tanto quanto a falta do medicamento.