O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou na quarta-feira, 2, o que era esperado pela maior parte do mercado financeiro: um aumento de 1,5 ponto percentual na Selic. Com o reajuste, a taxa básica de juros brasileira passou de +9,25 por cento para +10,75 por cento ao ano — de volta ao patamar de dois dígitos pela primeira vez em quatro anos e meio.
Entenda o comunicado do Copom
Após mais uma importante reunião do Copom, o primeiro comunicado deste ano veio em linha com o último, exceto em relação ao próximo plano de voo.
Na ocasião, o Banco Central considerou "apropriado" que o ciclo de aperto monetário (alta de juros) avance significativamente em território contracionista.
“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, afirmou o Copom.
É provável que o Copom tenha sinalizado que não vai continuar com a estratégia de elevar a Selic em 150 pontos-base (bps) para as próximas reuniões — como tem feito — para conter a inflação. Ele deverá ajustar em um ritmo menor, entre 100 bps e 125 bps. O mercado financeiro aposta em uma alta de 110 bps — no meio do caminho.
Outro parágrafo diz que “essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, afirmou.
No nosso entendimento, o Comitê reconheceu que vem aumentando a Selic há muito tempo, mas que uma hora seus esforços teriam impacto sobre as projeções de inflação. Nesse sentido, o BC avaliou que o ciclo de alta dos juros parece estar próximo do fim e, por isso, pretende começar a reduzir o ritmo de altas.
Em busca da meta para inflação em 2023
Ao elevar a Selic, o Banco Central está direcionando seus esforços para ancorar as expectativas para a inflação em 2023. De acordo com projeções do BC, a inflação para o próximo ano está em 3,20 por cento — abaixo do centro da meta de 3,25 por cento.
Neste cenário, o BC menciona que, por conta da desancoragem fiscal, podemos ter um balanço de risco assimétrico negativamente. Já imaginando que a projeção pode ser maior por conta disso.
A última edição do Boletim Focus mostrou uma expectativa do mercado financeiro de Selic a 3,50 por cento. Portanto, diferente do estimado pelo Copom.
Como ficam os investimentos
Em meio à escalada da Selic, os títulos pós-fixados, que são atrelados ao rendimento do CDI e da Selic, agora passam a render juros de dois dígitos (+10,75 por cento a.a).
No caso dos títulos prefixados ou indexados à inflação, o mercado já havia precificado essa alta de 150 basis points. Por isso, não houve alteração em termos de taxa.
Para os investidores de longo prazo, recomendo ter em vista que a Selic pode continuar subindo no futuro, avançando para patamares ainda mais elevados em +12,25 por cento – ou mais – nas próximas duas reuniões.
Pela lógica, com juros subindo, os pós-fixados vão continuar rendendo cada vez mais.
E se a Selic voltar a cair
Por outro lado, a curva de mercado está precificando que, ao longo deste ano e do próximo, a taxa básica de juros da economia pode cair rapidamente. Será mesmo?
Com base em indicadores macroeconômicos (IPCA e IPCA-15) e olhando para os núcleos de inflação (que seguem pressionados), entendemos que é pouco provável ocorrer uma queda da Selic no curto prazo; ainda mais levando em consideração os efeitos da alta de juros americana na economia brasileira — colocando em risco juros mais longos.
Portanto, preferimos a exposição em títulos pós-fixados, que podem continuar rendendo mais, do que apostar nos títulos prefixados ou indexados à inflação, que representam um risco maior para o investidor porque não sabemos para onde pode ir o ciclo de Selic.