Quando se trata de projeção de dólar (na verdade de qualquer projeção) a discussão fica atravessada pelo seguinte dilema: é o real que está forte ou o dólar que está fraco? Dependendo da resposta costumo brincar dizendo que nem sempre seis é igual a meia dúzia querendo com isso dizer que às vezes o fenômeno parece bom, mas não é.
Neste caso a situação é positiva para o real, tanto o seis quanto a meia dúzia são melhores para nós.
Que pese que o dólar está perdendo força uma vez que os juros por lá devem se estabilizar e assim atraia menos recursos para os EUA (lembrando que o dólar mais fraco é bom para os EUA), por aqui uma dinâmica particular favorece o real. Entre os motivos destaco:
1-) a eventual queda dos juros no Brasil pode fazer o real se apreciar (o que normalmente não faria sentido) uma vez que o efeito da queda dos juros nos ativos locais, em particular na bolsa de valores, mais que compensam a diminuição do diferencial dos juros doméstico e internacional.
2-) como costumo brincar “a boa notícia é que está ruim”, ou seja, o Brasil está barato e neste sentido a perspectiva é que os ativos locais se apreciem, real no meio.
3-) a balança comercial brasileira está amplamente positiva somando um superávit de US$ 26,24 bilhões em 2023.
4-) apesar de certa demora na aprovação no Arcabouço Fiscal a perspectiva é de aprovação o que reforça a leitura de juros em queda e por conseguinte uma apreciação do real (pela lógica apresentada acima).
Chegamos assim a pergunta fundamental: até onde o real pode ir contra o dólar? É famoso o ditado que diz que Deus inventou o câmbio para deixar os economistas humildes (e nem assim conseguiu, acrescento eu), logo projetar câmbio sempre é envolto de muita especulação, mas há alguns sinais gráficos que podem ajudar mesmo que eu não seja um grande fã de análise técnica/gráfica.
Se rompermos o patamar dos R$ 4,90 o próximo ponto óbvio é o R$ 4,80-R$ 4,76 e depois disso por volta de R$ 4,60. Podemos muito bem querer testar este patamar em especial se o Arcabouço Fiscal for aprovado, mas aqui cabe alguns comentários.
Uma coisa é a expectativa de corte de juros, outra bem diferente é quando cortarem de fato (provavelmente no segundo semestre). Dito isso imagino que o dólar sim vai buscar patamares mais baixos, mas uma vez iniciado os cortes os investidores irão ponderar com mais peso a influência dos juros na moeda e provavelmente o real irá se depreciar.
Está depreciação não será forte uma vez que a economia brasileira terá ganho “momento”, mas deve fazer o dólar voltar ao patamar de R$ 5,00 ao final do ano.
Lá por volta de outubro seis vai ser ligeiramente diferente de meia dúzia, por assim dizer, e o diferencial de juros pode ganhar mais relevância que agora uma vez que a bolsa pode ter se recuperado mais fortemente ou porque o dólar pode se recuperar em parte depois de passada a acomodação dos juros por lá.