Estamos acostumados a contratar seguro automóvel, seguro de vida, seguro de viagem, seguro saúde no exterior, etc. Por outro lado, pouco se fala sobre fazer um seguro de seus investimentos. A possibilidade de se fazer seguro de investimentos é uma realidade em mercado de capitais e a aplicação não é das mais complicadas.
A base para o seguro de carteiras pode ser encontrada recentemente em artigos como "The (time-varying) importance of disaster risk", de Ivo Welch. Entretanto, originalmente a ideia já é tratada pelo menos desde os anos 1970 em diante por Hayne Leland e Mark Rubinstein.
O que era apenas uma ideia inicial de se proteger carteiras de investimentos acabou sendo viabilizada como instrumento real com a proliferação de contratos derivativos. No Brasil, ainda que tenhamos baixa disponibilidade, baixa variedade, baixa liquidez de derivativos em geral, fez-se possível também a proteção de carteiras.
A lógica é simples. Assim como em um seguro como conhecemos tradicionalmente, a ideia é proteger a carteira de investimentos de um evento indesejado de grande magnitude. Na prática, em poucas palavras, compra-se opção de venda (put) de um ativo com alta correlação com um agregado abrangente de mercado "bem fora do dinheiro".
Traduzindo com um exemplo para o mercado brasileiro. O ativo base de escolha pode ser o BOVA11 (BVMF:BOVA11) (ETF que busca refletir comportamento do Ibovespa). Lembrando que puts fora do dinheiro são as com preço de exercício abaixo do preço spot. Pode-se, por exemplo, comprar puts com preço de exercício 15% abaixo do preço spot.
Em não se realizando movimentação brusca de queda dos preços das ações em mercado no agregado, a tendência é que a put vire pó no vencimento. Assim como seu contrato de seguro automóvel vira pó ao final dos 12 meses de vigência. Agora, havendo queda brusca no mercado acionário como um tudo, a put de ativo correlacionado com o mercado vai se valorizar, "segurando", pelo menos em parte, a queda de valor da carteira.
Haverá frequência maior de pequenas perdas com puts virando pó do que puts valorizando com as quedas bruscas de mercado. Há mais calmaria do que tempos fortemente turbulentos. O que estudos recentes (como o de Ivo Welch) mostraram, é que o ganho nos momentos turbulentos mais que compensam as pequenas perdas pela manutenção periódica do seguro.
É importante lembrar que há alguns parâmetros envolvidos na implementação do seguro. Quanto segurar, com que nível de perda aceitável, qual instrumento escolher, com que periodicidade fazer a rolagem? Essas são algumas das questões a serem respondidas. A boa notícia é que há boas referências em estudos sobre o tema e é possível testar a estratégia.
* Vinicio Almeida é doutor em administração, área finanças, pelo Coppead/UFRJ, com estágio pós-doutoral na University of California at Los Angeles, Anderson School of Management. Atualmente, é professor de finanças da UFRN.