Por Rebeca Nevares, sócia da Monte Bravo Investimentos
Se você investe em ações provavelmente deve estar se perguntando o motivo pelo qual o Ibovespa atingiu a marca de 97 mil pontos apesar dos impactos econômicos causados pela pandemia do Coronavírus. Talvez seja cedo ou pretensioso demais tentar explicar todos os fatores envolvidos, mas o meu objetivo neste artigo é analisar e destacar alguns elementos para que os investidores possam tomar as melhores decisões.
Uma questão importante é que as altas não aconteceram somente no Brasil. No início do ano as empresas listadas em bolsas do mundo todo possuíam um valor de 89 trilhões de dólares. Com o início das medidas de isolamento, este montante caiu para 61 trilhões e no começo do mês já havia se recuperado chegando a 79 trilhões.
O índice Nasdaq, por exemplo, que é focado em empresas de tecnologia bateu recorde em plena recessão global. Mas aqui no Brasil é preciso olhar para outros aspectos.
Apesar de ter encontrado um ponto de equilíbrio, a crise política ainda não foi totalmente superada e alguns ruídos ainda podem afetar a bolsa e os negócios.
Por outro lado, o desemprego subiu de 11,2% no trimestre até janeiro para 12,6% em abril. Algumas casas financeiras, no entanto, acreditam que o número seja ainda maior.
Além disso, a curva de infectados e mortos pelo Coronavírus não para de crescer e ainda não se sabe o tamanho do impacto econômico nas empresas. Mas sabemos que ele está acontecendo neste momento.
Mas então o que levou a bolsa a subir 58% entre 19 de março e o dia 8 de junho?
Sem dúvida as notícias de reabertura de comércios e flexibilização do isolamento social na Europa, Estados Unidos e China animaram os investidores de todo o mundo.
E como já era esperado, as bolsas iniciaram uma antecipação de movimentos, ou seja, boa parte dos ativos já estão precificados levando em consideração a retomada.
Além disso, alguns indicadores econômicos de grandes potências vieram acima do esperado pelo mercado, causando um otimismo maior ainda, isto sem falar nos pacotes de estímulos anunciados pelos principais governos e bancos centrais do mundo.
O Congresso Americano, por exemplo, aprovou recentemente uma injeção de cerca de 3 trilhões de dólares na economia.
No ambiente doméstico, alguns pontos para a alta do mercado precisam ser destacados e eu já dei alguns indícios disso em colunas passadas. Diversos produtos financeiros vêm batendo recordes de captação e a bolsa de valores é um deles.
Mesmo no meio da pandemia, o número de CPF’s cadastrados na B3 chegou a 2 milhões. Isto também se deve à redução da taxa de juros. Com a Selic em mínimas históricas os investidores passaram a procurar modalidades que pudessem oferecer retornos mais significativos.
O problema reside em um fato que não pode ser ignorado: e os riscos de um agravamento da pandemia após as reaberturas?
Na verdade no Brasil o contágio teve a sua velocidade reduzida, mas os números de infectados seguem crescendo. Caso a situação fuja de controle, uma onda mais forte do vírus nos forçará a um isolamento ainda mais radical. Se algo semelhante acontecer no restante do mundo, a situação pode se complicar ainda mais.
Qual impacto isso pode causar no mercado de ações? É difícil responder. Enquanto não houver de fato segurança para que as pessoas possam retomar as suas vidas normalmente, o mercado continuará bastante volátil e o investidor precisará ficar atento!