É contumaz ouvir-se que é mais fácil destruir do que construir, e esta verdade parece estar presente no cenário do Brasil.
Pode se apontar inúmeras prioridades e fundamentá-las com diferentes argumentos, mas o fato é que para realizá-las será necessário um tempo que o governo reeleito parece não dispor, por isso acredita-se que não será possível um efetivo e duro “choque de credibilidade”, pois acarretaria um longo período.
Todos sabem que o país precisa reconquistar a confiança e a credibilidade perante brasileiros e estrangeiros, mas por onde começar é a questão já que os problemas e desequilíbrios são tão intensos e todos precisam de urgente atenção.
O país está com sua economia deteriorada e a reversão total deste cenário pode comprometer até 2016 ou quem sabe 2017, ainda mais porque atingiu um patamar de crescimento quase negativo, deixando-o sem tração e tem que reconstruir-se num ambiente absolutamente adverso.
As observações por parte dos investidores nacionais e internacionais são bastante desfavoráveis e a sociedade brasileira não está em condições de sustentar uma dinâmica de crescimento à base do consumo, como já ocorreu baseada em expansão do crédito, já que houve um comprometimento maciço da renda.
Desta visão mais crítica, mas também mais real, surgem as dúvidas sobre a propensão de o governo reeleito ter efetiva condição de promover as mudanças com a intensidade necessária, havendo o sentimento de que mesmo desejando fazê-lo seria praticamente impossível promover reversão tão intensa.
O fato é que se a economia não crescer a política social do governo poderá ser duramente atingida.
Entendemos que há um “corner” em toda a expectativa que se tem formado a respeito do cenário prospectivo do governo reeleito, pois há questões relevantes que poderão não alcançar nova perspectiva no curto/médio prazos.
Umas dependem de o Brasil ter condições de realizá-las não bastando boas intenções e outras que dependerão dos investidores estrangeiros nos concederem a credibilidade.
Por isso, contrariando expectativas, entendemos que ainda teremos em 2015/2016 anos difíceis para o setor externo do país.
O ajuste do déficit externo é extremamente relevante para que o Brasil reduza sua fragilidade, mas deveremos perder a atratividade para investidores na conta de capital até que o país demonstre sua efetiva recuperação de situações atualmente deterioradas, e isto provavelmente comprometa o ano de 2015 e parte de 2016, se tudo for feito adequadamente.
A balança comercial não sugere recuperação do setor manufatureiro no curto prazo, seja pela necessidade de elevar os investimentos para ganhar competitividade, seja pela acirrada concorrência presente no mercado global onde as economias tendem a crescer menos e por isso impulsionarem suas exportações. No quesito das commodities, atualmente parte mais relevante das exportações, há perspectivas de queda de preços comprometendo minério de ferro e soja, e há uma dependência muito elevada da China.
O país tem inflação aquecida e já antevista pelo BC o que levou o mercado a considerar a alta da SELIC para 11,5% ao final do ano. Mas o país também tem necessidade de um real mais desvalorizado para ajudar a indústria e retomar as exportações.
Há neste contexto um paradoxo difícil de ser superado. O juro alto utilizado para conter a inflação pode atrair recursos que podem apreciar o real num momento que precisaria estar depreciado para ajudar a indústria na retomada das exportações, estimulando-a ao investimento, geração de emprego e renda. Como resolver?
No nosso ponto de vista isto implicaria em não utilizar a elevação da taxa SELIC para conter a inflação, mas sim conter os gastos do governo. Conseguiria?
Este é o grande anseio da sociedade brasileira que deseja um país quase normal, com o seu superávit primário suficiente para gerar investimentos estruturais.
Enquanto isto permanece a expectativa, mas cada vez é maior de que nem tudo que se propaga como remodelação da dinâmica de gestão do governo reeleito será passível de implementação na forma desejada, e isto deve prevalecer acima de nomes e integrantes da nossa equipe econômica.
Entendemos ser um enorme desafio consolidar certezas na atualidade, devendo prevalecer as incertezas, e nestas circunstâncias entendemos que o preço da moeda americana tenderá à apreciação, a despeito de eventuais momentos de volatilidade, e o país a ter fluxos cambiais negativos.