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Se o Fed Não Tem Nada Bom para Dizer sobre a Inflação, Melhor Não Dizer Nada

Publicado 28.06.2022, 07:39

Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com

O depoimento semestral previsto no Relatório de Política Monetária ao Congresso americano é bem pouco consistente. Mas, para quem tem fome, não há pão duro; afinal, já sabíamos que passaríamos por isso quando decidimos ser investidores.

O relatório de política monetária foi originalmente chamado de depoimento de Humphrey-Hawkins, depois que os parlamentares que criaram a legislação, em 1978, ordenaram que o presidente do Federal Reserve enviasse um relatório ao Congresso duas vezes ao ano e prestasse depoimento perante os respectivos comitês da Câmara e do Senado.

O relatório em si é pavoroso, mas os historiadores financeiros podem, às vezes, encontrar coisas interessantes no depoimento. Exemplo disso é a seguinte pérola da audiência de fevereiro de 1980 perante o Comitê de Bancos, Finanças e Assuntos Urbanos da Câmara dos Representantes:

Presidente Reuss:

“Presidente Volcker, bem-vindo ao seu primeiro comparecimento a este comitê que ouvirá sua análise semestral de política monetária. No ano passado, após nossas primeiras audiências, com base nos procedimentos estabelecidos em Humphrey-Hawkins, emitimos um relatório em 12 de março de 1979, com o qual todos concordaram, exceto um membro. A principal recomendação desse relatório era que ‘as políticas anti-inflacionárias não poderiam causar uma recessão’. Até agora, as políticas do Federal Reserve não causaram uma recessão e, por isso, sua excelência merece nosso agradecimento...

Em 1980, os perigos permanecem. Em primeiro lugar, a inflação está simplesmente fora de controle. Há alguns sinais de enfraquecimento da economia. É preciso ter cautela. O Fed não pode curar a inflação com um tratamento de choque monetário, nem deve tentá-lo. A inflação só pode ser interrompida por um programa de reforma estrutural reforçado pela conservação de energia obrigatória e uma política de renda efetiva...

Os tempos mudam, mas os políticos continuam querendo perder peso sem fazer dieta. Ao longo dos anos, à medida que o Fed se tornava cada vez mais transparente – ao ponto de o presidente agora realizar uma coletiva de imprensa regular após as reuniões do Fomc – o Fed também buscou benefícios sem consequências. O atual regime de aperto é a mais recente iteração da tentativa de encontrar a dieta perfeita: elevar juros, ao mesmo tempo em que se mantém um ambiente de abundante liquidez e talvez ‘uma recessão não seja inevitável’”.

Eles realmente acreditam nisso? Eles acham que podem elevar os juros em vários pontos-base, enquanto os preços de energia dobram, sem produzir uma recessão?

Não acho que acreditam nisso e, para ser justo, o presidente Powell não está exatamente expressando aos gritos sua confiança nesse resultado. De fato, ele praticamente não está falando nada, pelo menos para as pessoas para as quais tem a obrigação de falar. Powell basicamente igualou seu próprio recorde neste mês de menor número de palavras em seu depoimento preparado para o Congresso. Não estou completamente seguro em relação à relevância do gráfico seguinte, mas acredito que possa ser um sinal da arrogância cada vez maior do banco central americano. Greenspan tinha muitos defeitos, mas pelo menos em seu depoimento ele expunha todo o seu pensamento, com o maior nível de precisão possível. Será que a brevidade cada vez maior das declarações do presidente do Fed indica que ele não pensa tanto assim ou que ele acha que não deva dizer o que está pensando?

Palavras ditas em depoimentos sobre política monetária

Seria excelente, por exemplo, ter um esclarecimento maior sobre esta declaração feita por Powell, ecoada dezenas de vezes pelos porta-vozes do Fed:

“Temos os instrumentos e a determinação necessários para restaurar a estabilidade de preços em nome das famílias e empresas americanas.”

Na verdade, em 2020, a declaração era um pouco diferente. Em 2020 e início de 2021, as autoridades do Fed e do Tesouro entoavam o coro de que tinham os instrumentos para evitar a inflação, sabiam como usá-los e tinham vontade de fazê-lo.

Título de matéria sobre negócios

Yellen insiste que o Fed monitorará a inflação, tem instrumentos para controlá-la, enquanto plano de Biden é escrutinado. - Yellen espera que os planos de gastos aumentem consideravelmente a produtividade.

Dando um passo atrás...

É verdade que o Fed tem os instrumentos necessários para conter a inflação. Além disso, acredito que eles poderiam, em princípio, restringir a inflação sem provocar uma recessão, exceto pelo fato de que os preços de energia também estão disparando. Mas não acredito que o Fed realmente sabe como usar esses instrumentos. Ao que parece, eles acreditam em tantas coisas equivocadas e sobre as quais temos fortes evidências de que não funcionam. Basta ver esta declaração de Powell em seu depoimento nesta semana:

“A questão é que, se o público tiver confiança de que a inflação cairá, ela cairá”, Jerome Powell, 23 de junho de 2022.

Para começar, vale a pena apontar que, se é importante que o público confie no Fed, talvez seja melhor menos palavras, porque eles só têm se equivocado no que dizem nos últimos dias: a inflação não vai subir. Ele está subindo, mas não é transitória. A inflação recuará para 2% até o fim de 2022. Bem, talvez para 4%. Não há sinal de recessão...

Mas a questão mais importante é que não existem evidências de que os preços respondam ao que os consumidores querem. Se fosse assim, bastaria que todos quisessem ver preços mais baixos para que eles passassem a cair. Pense por um instante: todos nós não queremos que os preços caiam? Não faz qualquer sentido pensar que, se os custos de fabricação de um bem sobem 20% em um ano, não haveria uma alta dos preços, porque os consumidores não querem que isso aconteça. Isso sequer é bom para a economia. O curso básico de Economia nos ensina que, se a curva de oferta muda para a esquerda, os preços sobem, a menos que a curva de demanda seja completamente elástica.

Economistas da torre de marfim acham que as expectativas são importantes, porque isso faz com que seus modelos funcionem melhor com essa âncora. Diversos modelos de inflação podem se ajustar ao período posterior a 1992 ou anterior a 1992, mas há uma mudança no estado do parâmetro ao redor de 1992, o que significa que é muito difícil ajustar ambos os períodos. A menos que suponhamos que temos um abridor de latas e que algo mudou em 1992. Esse algo seria que as expectativas de inflação se ancoraram em 1992, graças ao tremendo sucesso do Fed em reduzir a inflação. Embora tenha sido difícil escrever todos esses artigos enquanto davam palmadinhas nas costas uns dos outros, é basicamente daí que surgiu a noção de “Curva de Phillips aumentada pelas expectativas”.

Mas esse conceito sofreu bastante pressão nos últimos anos. E um Federal Reserve seriamente introspectivo e honesto não poderia ignorar de forma realista o desmantelamento total dessa noção que o doutor Jeremy Rudd, assessor-chefe da Divisão de Pesquisa e Estatística do Fed, publicou no ano passado como parte da Série de Debates sobre Finanças e Economia do Fed. Em suma, ele argumenta persuasivamente que a base da crença nas expectativas de inflação ancoradas no papel se apoia em fundamentos teóricos e empíricos muito pouco sólidos. Ainda que outros economistas possam discordar, é pelo menos insincero que o presidente do Fed continue insistindo na primazia dessa ideia quando (a) ela é bastante crítica com a perspectiva de médio prazo e (b) é seriamente questionada.

Mas talvez essa seja a razão pela qual o depoimento de Powell tem sido tão breve ultimamente. Como diz o ditado: "é melhor ficar quieto e parecer um tolo do que falar e acabar com todas as dúvidas”.

***

Michael Ashton, às vezes conhecido como The Inflation Guy (O Cara da Inflação), é diretor executivo da Enduring Investments, LLC. Ele é um dos pioneiros nos mercados de inflação, com expertise em defender o patrimônio contra os ataques da inflação, sobre a qual discute em seu podcast bimestral Cents and Sensibility.

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