Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
Três conjuntos de dados sobre a inflação nos EUA sugerem que os investidores podem ter pelo menos mais dois cortes de juros em 2019. De acordo com os dados do CME Group, as chances de um corte de 25 pontos-base em outubro dispararam, e a possibilidade de outro corte igual em dezembro está aumentando.
A razão para essa perspectiva baixista nos juros é o aumento decepcionante dos salários, já que os últimos dados sobre o ganho médio por hora trabalhada vieram abaixo das expectativas. Enquanto isso, as mudanças ano a ano no índice de preços ao produtor e ao consumidor também ficaram abaixo do que se previa. Esses números mais fracos fizeram com que os rendimentos dos títulos do Tesouro americano caíssem desde o início de outubro, gerando uma divergência em relação aos rendimentos de outros títulos mundiais.
Esses dados de inflação mais fraca darão ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a munição necessária para que corte os juros mais outras duas vezes em 2019, sem ter que se preocupar com a economia de maneira geral.
Desaceleração no aumento de salários
O ganho médio por hora trabalhada no mês de setembro ficou em 2,9%, abaixo da expectativa de 3,2%. Os dados do mês de setembro também ficaram abaixo do mês anterior, que foram de 3,2%, bem como abaixo da máxima do ciclo de 3,4% registrada em fevereiro, revertendo a tendência de rápida elevação para uma tendência de desaceleração.
Índices de preço ao produtor e ao consumidor mais fracos
Além disso, a última leitura do índice de preços ao produtor mostrou um aumento de 1,4% em setembro, abaixo da estimativa de 1,8%. A inflação vem caindo substancialmente desde julho de 2018, quando estava em 3,4%.
Da mesma forma, o índice de preços ao consumidor (IPC) para setembro teve um aumento de 1,7% ano a ano contra estimativas de 1,8%. A mudança anual no IPC ficou em 2%, ou abaixo de todas as estimativas para 2019.
Os dados de inflação mais fracos do que os esperados também fizeram disparar as chances de um corte de 25 pontos-base de 40%, no final de setembro, para cerca de 80% em outubro. Da mesma maneira, as chances de outro corte igual em dezembro aumentaram de 19% para 36% no mesmo período. Com base nesses números, podemos dizer que a taxa de juros efetiva dos fundos estaria em uma faixa de 1,25% a 1,5%, de acordo com a reunião do Fed em dezembro.
Expectativas de inflação em queda
Mas não são apenas os dados econômicos que sugerem que o Fed precisa fazer mais para elevar a inflação. As expectativas de aumento de preços estão em queda. O ponto de equilíbrio das taxas de inflação de 5 e 10 anos está perto ou abaixo da extremidade inferior das suas faixas históricas. Atualmente, o ponto de equilíbrio da inflação de 5 anos está em 1,24% desde 9 de outubro, enquanto a de 10 anos está em 1,49%.
A queda nos pontos de equilíbrio indica que os investidores estão começando a precificar uma inflação mais baixa no futuro. A elevação das expectativas de uma inflação mais fraca pode atrasar ou arrefecer a disposição dos consumidores e empresas de realizar compras em antecipação a uma taxa de juros mais baixa no futuro.
Juros mais baixos não se devem ao cenário global
Desde o início de outubro, o spread entre os títulos de 10 anos dos EUA e da Alemanha caiu de cerca de 2,35% para 2,15%, enquanto os spreads entre os títulos dos EUA e do Japão caíram de cerca de 2% para 1,85%. Isso pode indicar que os rendimentos dos títulos norte-americanos estão caindo em ritmo mais acelerado do que as taxas mundiais, um sinal de que a recente queda dos rendimentos desses títulos não se deve ao declínio das taxas ao redor do mundo.
Necessidade de crescimento
Embora muitas coisas possam mudar até dezembro em relação à inflação, não é provável que haja uma alteração drástica nas tendências atuais. Talvez um acordo comercial entre EUA e China ou pelo menos um compromisso dos dois países de não impor mais tarifas mútuas podem ajudar a impulsionar a economia mundial ou aumentar a confiança dos participantes do mercado na retomada do crescimento.
Por enquanto, o cenário mostra que a desinflação está se consolidando e, se for o caso, o Fed pode realizar mais dois cortes de juros em 2019 e mais outro no início de 2020.