Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços globais das commodities dispararam, expondo o mercado global aos riscos da cadeia de suprimentos. A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, responsável por 11 por cento da produção global, além de ser o fornecedor de quase 40 por cento do gás natural consumido pela Europa. Já a Ucrânia é um importante exportador de metais não ferrosos e produtos agrícolas.
Nesse contexto, se a tensão geopolítica continuar aumentando, podemos esperar efeitos profundos sobre a oferta global de energia, metais e agrícolas aliada a uma potencial inflação maior (e mais persistente) no mundo.
Vale ressaltar que as sanções econômicas impostas pelos EUA e países europeus sobre a Rússia como expulsão do sistema de comunicação financeira SWIFT – afetando sobretudo bancos e oligarcas russos – dificultam as relações comerciais do país liderado por Vladimir Putin com o exterior. Muitos países europeus exportam centenas de milhões de dólares em produtos manufaturados para os russos. Nesse sentido, é inegável o peso da Rússia na comercialização de produtos centrais.
A relação do petróleo x inflação
Com a guerra na Ucrânia, o preço do barril do petróleo rompeu nesta segunda-feira, 7, a casa dos 130 dólares devido às preocupações de que as sanções prejudiquem o fornecimento de energia para o restante do mundo.
Mesmo antes da invasão russa, a oferta mundial de petróleo já não conseguia acompanhar a demanda na retomada da atividade econômica – motivo pelo qual os derivados do petróleo já estavam entre os principais responsáveis pela escalada da inflação do Brasil.
Para deixar o cenário ainda mais complicado, a defasagem entre os preços cobrados pela Petrobras (SA:PETR4) e os das principais bolsas de negociação do mundo chegou a cerca de 27 por cento. Com isso, a pressão aumenta sobre se a estatal vai repassar integralmente a alta do petróleo para os seus clientes.
Pensando na pressão impopular que teria um aumento do preço da gasolina, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse na quinta-feira, 3, que a Petrobras sabe "da sua responsabilidade" e sugeriu que, diante de um momento de crise, a estatal diminua sua margem de lucro e mantenha os preços dos combustíveis nos patamares atuais.
Apesar de ser uma medida popular, ou seja, em comum com os interesses da população, isso não deixa de ser um problema gigante para a petroleira e seus investidores.
Grãos em alta
Os mercados de fertilizantes também passam por uma escalada significativa de preços em meio aos conflitos. Como o gás está caro, o custo de produção dos fertilizantes, insumo central para boa parte das plantações no mundo todo, inclusive no Brasil, também está subindo.
Em um pronunciamento para tranquilizar a população e produtores rurais sobre a disponibilidade de fertilizantes no país, a ministra da agricultura, Tereza Cristina, disse na quarta-feira, 2, que o Brasil tem fertilizantes suficientes para o plantio até outubro e que o governo já trabalha em busca de novos parceiros para o caso de diminuir o recebimento de fertilizantes da Rússia e de Belarus, dois dos principais fornecedores do produto ao Brasil.
Vale ressaltar também que se o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongar, o fornecimento de commodities como petróleo, gás natural, milho e trigo pode ficar fortemente comprometido, provocando um desabastecimento no mercado brasileiro e internacional.
Salto das commodities amplia desafios para o BC
O aumento da tensão no Leste Europeu fez com que as expectativas para a inflação no Brasil e no mundo fossem automaticamente revisadas para cima. Com isso, as taxas de juros para conter a inflação também foram puxadas para cima.
O atual cenário coloca em xeque as projeções para a Selic indo para +12,5 por cento ao ano no fim de 2022 e depois para 8 por cento no fim de 2023, conforme o Relatório Focus.
Na última semana, a disparada das taxas futuras levou a curva de juros a sinalizar a Selic em 13,5 por cento ao ano, nível bem acima do indicado pelo consenso do mercado, e depois caindo para cerca de 11,5 por cento em 2023.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA também avançou por conta do aumento dos preços das commodities e isso pode forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a adotar um aumento de taxa de juros mais relevante no país, que já enfrenta a inflação na máxima de 40 anos. Em declarações recentes, o presidente do Fed, Jerome Powell, se mostrou bem certo que em março vai subir mesmo os juros em 0,25 ponto, podendo ser mais agressivo caso necessário.
Como proteger seu dinheiro com os juros em alta
Tendo em mente que o juros e a inflação podem continuar aumentando, recomendo muito cuidado com os títulos prefixados e indexados à inflação porque esses dois títulos sofrem marcação a mercado. Se as taxas de mercado subirem e, eventualmente, você precisar resgatar esse título antes do vencimento, você poderá ter prejuízo. Além disso, quanto mais longo o vencimento desses títulos, menor é a chance de conseguir carregá-los até o vencimento. Logo, agora não é o momento dos prefixados e indexados longos.
Neste momento, é fundamental escolher o título certo de acordo com o momento macroeconômico. Então, qual título comprar?
Existem opções de títulos que se beneficiam desse cenário de aumento das taxas de juros, inclusive temos títulos de crédito privado que além de render a Selic ou CDI, você ainda consegue ganhar um pouco mais e ainda é isento de imposto de renda.