Desde que tocaram a mínima de 23 de março, as ações da Apple (NASDAQ:AAPL) se recuperaram forte. Os papéis da empresa subiram mais de 50% desde então e apresentam uma alta de cerca de 10% no ano. Negociada atualmente a US$ 318,89, a ação deve ultrapassar seu preço de fechamento mais alto da história a US$ 327,20, atingido em 12 de fevereiro de 2020, um pouco antes de a pandemia atingir a economia mundial.
Mas a grande questão daqui para frente é se essa tendência de alta é sustentável e se este é o momento certo para apostar na compra das ações da Apple. Possivelmente não.
Os riscos para a fabricante de iPhones, computadores pessoais, tablets e acessórios estão crescendo. Talvez o maior desafio para a empresa neste momento seja a retomada da disputa comercial entre EUA e China. O último golpe nas relações já abaladas entre as duas maiores economias do mundo ocorreu quando o presidente Donald Trump ampliou seus esforços neste mês para evitar o acesso da Huawei Technologies ao mercado e aos fornecedores dos EUA.
Trump renovou seu decreto de emergência nacional por um ano, que proíbe a Huawei e a ZTE Corp (HK:0763), outra empresa de telecominações da China, de vender seus equipamentos nos EUA.
O Departamento de Comércio dos EUA também expandiu sua chamada lista de entidades, que restringe o acesso à tecnologia e outros itens norte-americanos, para incluir 24 empresas e universidades chinesas. A relação entre EUA e China piorou drasticamente nos últimos meses, já que Trump culpa a China por não ter lidado adequadamente com a pandemia de coronavírus que até agora já matou 100.000 pessoas nos EUA e provocou o fechamento da sua economia.
Entidades não confiáveis
O influente editor do Global Times, Hu Xijin, que tem laços estreitos com o governo chinês, alertou em um tuíte que a China poderia declarar a Apple, a Qualcomm (NASDAQ:QCOM) e a Cisco (NASDAQ:CSCO) como entidades não confiáveis e interromper a compra de aviões da Boeing (NYSE:BA)
O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou no domingo, que os EUA estavam fazendo provocando uma “nova guerra fria” em suas relações, enquanto políticos americanos condenava Pequim depois da sua última iniciativa de impor a lei de segurança nacional em Hong Kong.
Ao longo dos anos, a Apple construiu uma grande rede de fornecedores na China, a fim de reduzir custos, o que fez com que se tornasse uma das empresas mais expostas ao país asiático. A gigante da tecnologia sediada em Cupertino, Califórnia, emprega cerca de dois milhões de pessoas em sua cadeia de fornecimento, além de um número similar de profissionais de tecnologia que se dedicam ao desenvolvimento de aplicativos Apple. A companhia projeta e vende a maioria dos seus produtos nos EUA, mas os importa da China após a montagem.
Além desse risco da China, alguns analistas também têm dúvidas em relação a uma rápida recuperação da gigante da tecnologia diante dos transtornos causados pela pandemia.
O Goldman Sachs, em uma nota recente, rebaixou a Apple de neutra para venda, citando a desaceleração da demanda de iPhone, haja vista que os consumidores estão passando mais tempo com seus telefones, além da estagnação do crescimento de serviços. A empresa também vê um efeito prolongado nos preços, pois considera que a Apple não pode cobrar a mais pelos smartphones.
O analista Rod Hall disse que estava preocupado com um atraso no lançamento do iPhone 5G, o qual era anunciado com um dos principais vetores de crescimento no futuro. “As viagens mundiais limitadas neste ponto crucial do processo final de engenharia e produção do iPhone 2020 pode provocar o atraso do lançamento neste ano", afirmou.
Ao divulgar seu balanço do 1º tri no mês passado, a Apple não forneceu qualquer projeção de resultado em mais de uma década, em razão de complicações contínuas da covid-19.
Resumo
Os próximos dias serão cruciais para a sustentabilidade do rali nas ações da Apple, na medida em que os investidores começam a levar em consideração a seriedade do risco chinês. Suas ações tiveram um desempenho excepcional no auge da guerra comercial do ano passado, e isso pode voltar a acontecer se aumentarem as tensões entre as duas potências econômica.