Após uma primeira quinzena mais favorável onde se comemorava o forte avanço da vacinação contra a COVID, as discussões sobre reformas e recuperação da economia, o cenário mudou. E a mudança foi marcada pela conjunção de fatores negativos em três frentes que afetaram os mercados:
O primeiro deles diz respeito ao cenário internacional. Temores com a potência da nova variante DELTA do Coronavírus, preocupações com a inflação/taxa de juros, especialmente nos EUA, e as atitudes intervencionistas do governo chinês em empresas de capital privado deixaram o mercado em alerta.
O segundo, no cenário político doméstico, mostra que a postura beligerante do presidente Bolsonaro assusta, gera efeito negativo no cenário político e faz os analistas projetarem potenciais dificuldades nas importantes votações de interesse econômico a serem conduzidas no Congresso Nacional nesse segundo semestre.
O terceiro fator, a partir do cenário econômico doméstico, mostra novos impactos climáticos (secas e geadas) que colocam mais “lenha na fogueira” da inflação e colocam pressão nas taxas de juros, criando dúvidas sobre a recuperação contínua da economia no cenário pós-pandemia. Riscos de rompimento do teto de gastos e “calote” de precatórios aprofundaram as preocupações.
Com relação ao fluxo de recursos ao mercado de ações, chamou atenção a saída de aproximadamente R$8 bi de investidores estrangeiros e as 15 ofertas de ações (IPO’s e Follow On’s) que atingiram cerca de R$20 bi e de certa forma drenaram recursos do mercado.
Com tudo isso, a bolsa caiu 3,94%, o dólar voltou a subir mais de 3% e os juros futuros mais longos se aproximaram dos dois dígitos.
Sobre as perspectivas, o avanço mais rápido que o esperado da vacinação contra a Covid no Brasil está trazendo uma forte redução de casos, internações e mortes com impactos positivos na atividade econômica. Diversos governos estaduais já sinalizam uma situação mais próxima do normal ao final do ano.
As empresas de capital aberto já iniciaram a temporada de balanços do segundo trimestre de 2021 que deve se prolongar até o dia 15 de agosto. Os resultados até agora conhecidos são muito bons refletindo a retomada da economia e ajustes relevantes de custos e despesas.
Nas conferências com as companhias, o tom tem sido otimista com relação ao futuro. Com os avanços na frente da saúde e da economia real, preocupações com o equilíbrio de gastos, inflação e taxa de juros ganham protagonismo e precisam ser urgentemente endereçadas. Isto depende do ambiente político, das negociações dentro da base de apoio e de votações no Congresso.
Para o mercado de ações, vejo um interessante patamar de prêmio de risco, que em algum momento tende a ser incorporado ao preço das ações.
Por fim, esperamos que a agenda política do governo possa evoluir da melhor forma possível para que o otimismo que hoje é restrito às empresas de maior porte e a alguns setores específicos da economia possa ser percebido por toda a população. Bons negócios!