Para a gestão de qualquer negócio, é preciso ter claramente em vista a distinção entre o risco do negócio e a incerteza do mesmo. Mas como distingui-los? É possível afirmar que o que conseguimos mensurar está na categoria de riscos, já aquilo que não conseguimos mensurar são as incertezas.
Uma medida muito utilizada em finanças para medir o risco é o desvio padrão, que representa o desvio de um evento qualquer em relação a sua média. Portanto, é possível calcular o desvio padrão histórico de diferentes ativos e, assim, definir diferentes classes de riscos para diferentes ativos.
Um ativo que tem uma oscilação maior, ou seja, um maior desvio padrão, tem mais risco do que um que oscila menos, contudo, ambos os ativos estão sujeitos as incertezas econômicas, políticas e ambientais. E quando uma crise se manifesta, a própria relação entre o risco dos diferentes ativos se modifica.
Logo, há uma relação entre o risco, que pode ser mensurado e, portanto, pode ser conhecido, e a incerteza, que está sempre associada a algo improvável.
A literatura econômica considera a incerteza uma variável de elevada importância. Em ambientes mais incertos, as decisões de consumo, investimento e emprego tendem a ser postergadas, assim como pode haver redução da eficiência alocativa dos recursos. Pesquisas que abordam os efeitos da incerteza sobre as atividades econômicas apontam seus impactos na produção, investimento, consumo e comércio internacional.
Os resultados existentes, geralmente, encontram queda no investimento por parte dos empresários, redução do consumo das famílias e redução do volume do comércio internacional, sugerindo a incerteza como uma das principais causas para a profundidade e duração da crise econômica.
Um fator adicional se refere à diferença do impacto da incerteza nas economias emergentes em comparação às economias desenvolvidas. Em comparação aos países avançados, as economias emergentes sofrem quedas mais acentuadas no investimento e no consumo privado após choques exógenos de incerteza global, bem como o tempo de recuperação é significativamente maior.
Tendo em vista a relevância do tema para países emergentes, recentemente no Brasil houve uma ampliação das possibilidades de estudos empíricos sobre essas relações, com o desenvolvimento de índices de incerteza econômica. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) desenvolveu um índice de incerteza econômica para o país: o Indicador de Incerteza da Economia – Brasil (IIE-Br).
O Indicador de Incerteza Econômica do Brasil é composto por dois componentes: o “IIE-Br-Mídia”, que reflete a incidência de termos relacionados à incerteza em artigos publicados em seis dos principais jornais do país, com um peso de 80% no indicador agregado. E o “IIE-Br-Expectativa”, que é elaborado com base na dispersão das previsões de especialistas para três variáveis macroeconômicas: taxa de câmbio e Selic, 12 meses à frente, e o IPCA acumulado para os próximos 12 meses, divulgados pelo Banco Central.
O indicador busca seguir as ideias do trabalho de Nicholas Bloom ” Fluctuations in uncertainty” publicado em 2014 no renomado Journal of Economic Perspectives. Em síntese, Bloom (2014) esclarece que não há uma medida única para determinar a incerteza, mas medidas distintas que juntas minimizam os erros das medidas isoladas. Portanto, a medida IIE-Br pode ser útil na gestão de qualquer negócio, principalmente quando se tratam de gestão de ativos financeiro. Pois, desde a crise do subprime, as empresas têm enfrentado um ambiente desafiador.
Esse desafio está associado ao fato de que a macroeconomia tradicional não está conseguindo fornecer análises precisas nesse novo ambiente, dado o crescimento da incerteza, inclusive ambiental. Além disso, as finanças tradicionais ainda carecem de uma abordagem sistêmica que permita uma melhor gestão de riscos. Nesse sentido, entender os efeitos da incerteza no risco financeiro e no ambiente macroeconômico (e vice-versa) é fundamental para o desenvolvimento de novas ferramentas para a tomada de decisão neste novo ambiente complexo. Assim, monitorar medidas de incerteza como IIE-Br pode ser de grande utilidade.
Claudio de Moraes – Professor e Pesquisador do Coppead, especialista em Banking, com artigos publicados em diversos periódicos internacionais. Atua no Banco Central do Brasil na área de estabilidade financeira, com experiência em regulação e supervisão bancária.