O mercado foi pego de surpresa na quinta-feira, 12, com o anúncio do rombo na Americanas (BVMF:AMER3) de R$ 20 bilhões.
A companhia afirmou ter encontrado "inconsistências contábeis", o que caiu como uma bomba no mercado, uma vez que muda completamente a dinâmica de alavancagem da companhia, criando uma necessidade de aumento de capital forte.
Na bolsa, as ações de outras empresas do setor foram arrastadas, com o temor de que práticas semelhantes tenham sido empregadas.
Diante do caos financeiro, investidores de Fundos Imobiliários e Fundos de Ações que estão expostos a Americanas podem estar se perguntando o tamanho do impacto nos seus investimentos.
Impacto para Fundos Imobiliários
Ao todo, a Lojas Americanas é inquilina em oito principais fundos imobiliários, sendo eles: MAXR11, GGRC11, LVBI11, XPLG11, BRCO11, VIUR11, HGLG11 e RBRL11.
O fundo com maior exposição é o Max Retail (MAXR11), com 34% da sua receita advinda da empresa, seguido do GGR Covepi (GGRC11), que possui quase 20% de exposição, sendo o fundo que apresentou maior queda após o anúncio do rombo bilionário, de -3,81%.
O investidor de FIIs precisa ter a leitura de que ao comprar um fundo de tijolo se está comprando indiretamente um conjunto de imóveis, e não necessariamente os contratos de locação do FII.
Caso o fundo imobiliário venha a ter algum problema com o inquilino, mas o imóvel em questão esteja muito bem localizado e tenha um bom padrão construtivo, é perfeitamente possível reposicionar esse espaço, mesmo que leve um certo tempo.
Logo, se os fundamentos do imóvel e da região onde ele está situado não foram alterados, é preciso refletir muito bem antes de vender as cotas do fundo a qualquer preço apenas por conta de um risco de desocupação que nem sequer sabemos se vai se materializar, como é o caso da Americanas.
O episódio reflete também a importância de o investidor priorizar fundos com portfólios de imóveis bem diversificados. Isso porque, na pior das hipóteses, mesmo que o FII tenha alguma exposição de sua receita imobiliária à empresa, o impacto da desocupação acaba sendo limitado em função da diversificação.
Impacto para Fundos e gestoras
Já para os fundos com portfólio presente em Americanas, de acordo com o que conseguimos apurar até o momento, os papéis de crédito estavam bem pulverizados na indústria.
No crédito, alguns papéis de Lojas Americanas (BVMF:LAME4) estavam a cerca de IPCA + 8,14% no dia 11 e foram reprecificados para em torno de IPCA + 21% (trazendo o papel a negociar com um valor 52% menor).
Essas são perdas significativas e vão fazer os fundos de crédito sofrer, mesmo que tenham posições pequenas de 1% (provavelmente veremos cotas negativas em vários deles)”.
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No mercado de fundos de crédito, o grande medo é o contágio que um gestor tem no outro e o efeito bola de neve que decorre disso.
Se haverá ou não contágio e venda forçada – principalmente em fundos de liquidez mais curta – é cedo para dizer. Eu acredito que não, afinal o CDI alto talvez mascare um pouco as perdas ao investidor e retire o ímpeto para os resgates. Para um efeito maior, talvez a situação precisasse se deteriorar ainda mais.
Já os fundos com maior exposição às ações de AMER3, é claro que também vão sofrer. A gestora Moat Capital FIA Master foi o principal alvo, com a queda de 77% das ações afetando os 8% de alocação deles.
Se os investidores devem sair de gestora impactados pelo rombo da Americanas, a respondeu é não. Esse evento é imponderável, não há como saber (vide a reação do mercado). É por isso que muitos gestores também evitam exageros de concentração nas alocações unitárias, afinal você sempre está sujeito ao evento de cauda.
Um estrago desse tamanho com 40% de alocação no fundo acabaria tirando o gestor completamente do jogo.
Um abraço