O mercado financeiro já tem a percepção de que “tudo vai de mal para pior”, embora ainda expresse posturas públicas comedidas, em especial nas medianas do Boletim Focus.
A realidade da economia brasileira, anteriormente coberta por uma série de colocações que anuviavam sua condição para melhor, a despeito das percepções mais assertivas contrárias que sinalizavam deterioração a partir da crescente disseminação da inflação puxada pelas commodities, crise hídrica, preços administrados, com destaque para energia e combustíveis, e demais ajustados pelo IGP-M em absoluto descompasso com o IPCA.
Agora, ocorre deterioração também na percepção da política econômica onde há forte evidência que a curva inflacionária está bem acima da curva da Selic que deveria impactá-la e reprimir sua ascensão. Aliás, este assunto foi objeto do nosso post seguinte a mais recente reunião do COPOM, já que nem o preço do dólar no nosso mercado local e nem o juro se acalmaram e apontaram para aumento do ‘risco Brasil” que passou a ser revisado.
Há uma clara evidência dos descontroles alavancados por novos e constantes gastos afrontando a política fiscal, que agrava o risco, atendendo projeto populista do governo com foco já nas eleições de 2022, e tudo isto num ambiente conflituoso entre os poderes constituídos do país, deixando o sentimento de crescente desgoverno e perda de foco no que seria principal.
O contexto do cenário é amplamente desafiador ao BC/COPOM que, se não impuser dura e assertiva elevação da taxa SELIC, enfrentando a curva inflacionária que está fortemente aquecida, poderá permitir que o IPCA feche o ano em 2 dígitos, o dólar muito acima dos R$ 5,10 projetados pelo FOCUS e o PIB aquém dos 5,27%.
O contumaz discurso dos membros do COPOM quanto a comportamento da inflação ser “temporária”, por nós sempre contestada, pois os preços no Brasil se elevam rapidamente, porém não repercutem com baixas quando os fatores de descontroles retrocedem, não se sustentou e o país tem, isto sim, forte quadro inflacionário sustentável, sendo que até o Ministro da Economia Paulo Guedes já entende que a inflação a 8% estaria compatível, e nós entendemos que se houver negligência no trato da questão ela evolui para 10%.
O juro bem equacionado é o antídoto perfeito à elevação descompensada da taxa cambial no país, mas não tem surtido efeito exatamente por sua insuficiência e o mercado de juro futuro procura corrigir por si só os parâmetros de juro e causa impactos fortes no mercado.
Enfim, o país precisa de ajustes imediatos para não ocorrer um desalinhamento mais generalizado e que preconize o caos, o que seria lamentável, fazendo o acerto correto da taxa de juro para atenuar o preço do dólar e tendo muita acuidade nos gastos com impactos fiscais, visto que a tendência presente é de realizar dispêndios sem atentar para as fontes de financiamentos dos mesmos.
O “risco Brasil revisado” é bem diferente do que tem sido preconizado em termos de recuperação de atividade econômica sustentável, por isso entendemos ainda poucas assertivas as projeções atuais do Boletim FOCUS.
O desemprego no cenário presente tem baixo potencial de redução, e o governo sabe disto e tem a percepção do aumento exponencial da pobreza e miséria, por isto, ainda com parcos recursos e sob risco de quebra do teto orçamentário, procura criar necessário mas populista programa assistencial, o que transforma por um certo tempo não consumidores em consumidores e transparece que a economia está reagindo.