A semana se encerra com movimentos relevantes no preço do petróleo. Tanto o WTI como o Brent mostraram quedas nos últimos dias e começaram a se aproximar do relevante patamar de USD 100 por barril. Mantemos uma projeção de sustentação do preço do petróleo por fundamentos diversos, mas ante o impacto teórico que uma desaceleração econômica global tem sobre preços de commodites em geral e a dinâmica recente deste ativo, cabe questionar os efeitos da queda caso sustentada.
Para analisar suas consequências, devemos explicitar inicialmente como a elevação do preço do petróleo impacta os agentes econômicos. Nossa base teórica reside em modelos macroeconômicos onde a commodity é utilizada tanto como um bem separado de outros na cesta de consumo das famílias, como também como um insumo separado dos outros na função de produção das empresas. Em ambos os casos, o petróleo apresenta baixa elasticidade, sugerindo que movimentos altistas nos preços acabam tendo impacto menos que proporcional na quantidade demandada.
Assim, a alta do preço do petróleo gera tanto um aperto de renda disponível para famílias, como eleva o custo das empresas. Dependendo da estrutura de mercado (por exemplo: concorrência perfeita, competição monopolística, monopólio etc.), esse aumento de custo poderá representar aperto de margens das empresas ou então repasses para o consumidor. De toda forma, a combinação do impacto sobre as famílias e sobre as empresas sugere que, tudo mais constante, o aumento do preço do petróleo levará à menor atividade econômica junto à maior expectativa de inflação. Consequentemente, uma redução no preço do petróleo deve ter o impacto contrário.
Como ressaltamos na semana passada, diversas autoridades monetárias globais estão em processo de normalização das taxas de juros em ritmo acelerado, visto que a inflação, na maioria das jurisdições monitoradas, encontra-se significativamente acima da meta e sem perspectivas de rápida convergência. Por sua vez, esses movimentos de altas de juros geram expectativa de desaceleração da atividade econômica à frente. Não à toa, vimos um aumento significativo da menção à “recessão” nos EUA desde o mês de março.
Portanto, caso a reversão do preço do petróleo desta semana se sustente por um período significativo, poderemos observar um alívio relevante nas expectativas de inflação e também melhora na margem das empresas. Ou seja, tudo mais constante, a sustentação da queda pode reduzir a pressão para atuação dos Bancos Centrais e, com isso, reduzir a magnitude e/ou a probabilidade da desaceleração que esperamos para as principais economias no mundo.
Por outro lado, a alta da inflação próxima ao calendário eleitoral coloca pressão no campo político para soluções aos preços elevados. Nesta semana, vimos forte movimentação em torno de aumento do Auxílio Brasil, do vale gás e da criação de um novo subsídio para caminhoneiros.
Como destacamos anteriormente, essas medidas reduzem a credibilidade da condução fiscal no Brasil e já mostram que toda a surpresa positiva de arrecadação dos últimos meses seja consumida com intuitos políticos. Consequentemente, observa-se elevação das expectativas de inflação e deterioração dos prêmios de risco, o que dificulta a tarefa do Banco Central. Ou seja, os movimentos políticos atuam na direção contrária do possível alívio de commodities.