- O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, é alvo de duras críticas, enquanto Bernanke vence prêmio Nobel de Economia.
- BCE sob pressão para seguir os passos do Fed.
- Mercados testam novos governos do Reino Unido e Itália
Os banqueiros centrais estão ganhando os holofotes nas reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington nesta semana, e não por uma boa razão.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, está recebendo duras críticas por elevar rápido demais as taxas de juros, após esperar tempo demais para agir, assim como a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, que está sendo criticada por sua letargia, sem falar em Andrew Bailey, governador do Banco da Inglaterra, que não consegue ter um momento sequer de sossego.
Na segunda-feira, Bailey procurou tranquilizar os investidores, dizendo que o banco central inglês não pararia de comprar títulos governamentais de longo prazo em seu limite original de 65 bilhões de libras para resgatar os fundos de pensão, mas o plano acabou tendo efeitos colaterais, já que as taxas dos títulos de trinta anos acabaram superando 4,7%.
Ele viajará para Washington na tentativa de defender a abordagem gradualista da alta de juros e sua incapacidade de aconselhar um ministro de finanças a não afundar a economia britânica por um arranjo mal feito nas pensões, responsável pela crise nos títulos públicos.
Tudo isso em uma semana durante a qual a Real Academia Sueca de Ciências, que concede o prêmio Nobel de Economia, decidiu homenagear três economistas americanos por suas pesquisas sobre bancos, incluindo o ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, que teve a chance colocar em prática as teorias que desenvolveu em Princeton durante a crise financeira de 2008.
Os erros e acertos ou a durabilidade das teorias de Bernanke suscitarão debates nos próximos anos, mas, enquanto isso, os dirigentes do Fed precisam lidar com a inflação, que até agora teima em resistir às elevações de juros e foi o menor dos problemas enfrentados por Bernanke em sua passagem pelo Fed.
Os diretores dos bancos regionais do Fed em São Francisco e Atlanta tentaram, na semana passada, convencer os investidores de que não deveriam contar com uma mudança de postura do Fed no próximo ano, mas os investidores acham que sabem mais e que uma real recessão acabará forçando o banco central a reverter o rumo.
A incapacidade dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto de persuadir os investidores quanto às suas intenções mostra de forma eloquente como a credibilidade dos formuladores da política monetária está arranhada, sobretudo porque aparentam não estar seguindo qualquer plano coerente de ação, após terem insistido por quase um ano que a inflação era apenas transitória.
De qualquer forma, os problemas mais imediatos para o Fed são os números robustos de emprego e a inflação alta nos EUA. O relatório de sexta-feira sobre o mercado de trabalho no país registrou a criação de 263.000 vagas em setembro, e a taxa de desemprego geral caiu de 3,7% para 3,5%, confirmando a crença nos mercados de que o Fed elevaria sua taxa básica em novembro novamente em 75 pontos-base.
O Banco Central Europeu divulgou um estudo, na sexta-feira, concluindo que a inflação devia-se não apenas aos transtornos nas cadeias de suprimentos, mas também à demanda aquecida. Essa conclusão, em conjunto com uma pesquisa da instituição mostrando que o público está esperando que a inflação continue elevada, sugere um aperto maior da política monetária. Além disso, o BCE precisa acompanhar as altas de juros do Fed, a fim de proteger a taxa de câmbio do euro.
O novo ministro de finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, descobriu da pior maneira que não pode simplesmente ignorar os mercados de títulos públicos e fazer o que lhe der na telha. Se conseguir sobreviver no cargo, Kwarteng precisará apresentar um plano crível no fim do mês, mostrando como pretende reduzir a dívida do governo britânico.
O novo governo da Itália, que sequer tomou posse, está enfrentando uma curva de aprendizado similar. Os eleitores italianos demonstraram disposição em mudar e resolveram dar uma chance à ultradireita, mas a agência classificadora de crédito Moody’s (NYSE:MCO) alertou, na semana passada, que ficaria de olhos atentos a qualquer sinal de políticas que atrasem reformas econômicas, não hesitando em rebaixar as notas dos títulos do país.
Fabio Panetta, um economista bem conceituado que integra atualmente o conselho executivo do BCE, teria recusado um convite de Giorgia Meloni, provável primeira-ministra, para se juntar ao seu gabinete como ministro de finanças. Meloni parece determinada a colocar tecnocratas em postos-chave do governo, a fim de arrefecer os temores dos investidores, mas ainda não conseguiu fazê-lo.
A taxa do título referencial de dez anos da Itália fechou acima de 4,6% na segunda-feira, após se aproximar do patamar de 4,8%, em comparação com menos de 4% no início de setembro, quando ficou óbvio que uma aliança de direita encaminhava-se para uma vitória na eleição de 25 de setembro.