Publicado originalmente em inglês em 26/04/2021
O Comitê Federal de Mercado Aberto não deve anunciar mudanças em sua política monetária após a reunião de dois dias nesta semana, tampouco fornecer qualquer projeção concreta de quando começará a reduzir suas compras de ativos antes da elevação de juros.
A expectativa dos economistas é que as autoridades do Fed elevem suas perspectivas de crescimento econômico, assegurando aos investidores, ao mesmo tempo, que não abrirão mão do estímulo monetário até que haja uma melhora maior no mercado de trabalho, inclusive ajustes no emprego estrutural. Como insistem em dizer, a inflação não é um problema.
Larry Lindsey, diretor do Conselho Econômico Nacional sob a presidência de George W. Bush e um dos governadores do Fed na década de 1980, acredita que o banco central americano esteja subestimando o risco inflacionário. A demanda tem sido alimentada pelos gastos massivos do governo, que não devem arrefecer no próximo ano, até antes da eleição de meio de mandato, enquanto a oferta é cada vez mais restrita por causa da escassez.
Além disso, em sua visão, essa escassez inclui profissionais com maior nível de capacitação. As autoridades do Fed podem querer melhorar a equidade laboral, mas não conseguem preparar trabalhadores menos capacitados de acordo com as necessidades das empresas. Isso significa que as companhias terão de oferecer salários maiores para contratar os profissionais que querem, e o anseio do Fed por máximo emprego de maneira geral pode ser frustrado pela inflação.
Lindsey, que obteve seu doutorado em economia pela Universidade de Harvard, acredita que o rendimento da nota de 10 anos do Tesouro americano – uma medida dos temores da inflação – atinja pelo menos 3% até o fim do ano, cerca do dobro registrado neste momento.
Você não ouvirá nada disso do presidente do Fed, Jerome Powell, quando ele conversar com jornalistas na quarta-feira. Ele falará sobre os benefícios do estímulo fiscal, a presença de riscos de queda, a necessidade de máximo emprego e o compromisso do Fed de continuar no caminho certo, mesmo com uma eventual alta da inflação.
Na semana passada, o Banco do Canadá decidiu reduzir suas compras semanais de títulos em C$ 1 bilhão, para C$ 3 bilhões, e indicou que a economia pode precisar de uma elevação de juros no segundo semestre do próximo ano. Alguns analistas consideraram atípico o movimento do banco central canadense, mas outros acreditam que pode ser uma prévia do que todos os grandes bancos centrais serão forçados a fazer.
O Banco do Canadá tem um simples mandato de limitar a inflação a 2%, mas o banco central agora prevê uma taxa de 2,4% de aumentos de preços até o quarto trimestre de 2023.
O Banco Central Europeu, por outro lado, aumentou suas compras de ativos em março para 74 bilhões de euros, em comparação com 60 e 53 bilhões nos primeiros dois meses do ano. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que a instituição manterá as maiores taxas de compras para respaldar a economia do continente. Destinou-se 1,85 trilhão de euros para compras de ativos até março do próximo ano.
Os EUA anunciarão uma estimativa preliminar do crescimento do seu PIB para o primeiro trimestre na quinta-feira, com a previsão de consenso em 6,5% após os 4,3% no trimestre anterior. Mas economistas da ING dizem que a taxa de crescimento anualizada pode superar 7% e ficar em dois dígitos nos trimestres remanescentes do ano. Também consideram que a inflação se aproximará de 4% em maio.
Se estiverem certos, esse tipo de dado pode forçar o Fed a pensar melhor sobre a redução de compras de ativos e avançar em direção às elevações de juros. E o Fed aprendeu a duras penas que precisa comunicar suas intenções aos investidores com bastante antecedência. Como a próxima reunião do Fomc está marcada para meados de junho, a reunião de política monetária desta semana pode ser a última em tom ameno por enquanto.