O mercado brasileiro de milho produziu e exportou volumes recordes em 2019. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a maior competitividade internacional do cereal brasileiro atraiu a atenção de compradores externos, possibilitando embarques em ritmo acelerado no segundo semestre, reduzindo a disponibilidade interna e sustentando os preços. Em termos globais, a produção aumentou.
O milho de primeira safra foi marcado pela menor área plantada desde a década de 1970, com apenas 4,9 milhões de hectares. A redução na área foi reflexo especialmente da maior rentabilidade da soja, concorrente em área. Segundo dados da Conab, a área de milho primeira safra 2018/19 caiu 3,8% e a produtividade foi 1,5% superior, resultando em produção de 26,2 milhões de toneladas, volume 2,3% inferior ao da safra anterior.
Em janeiro de 2019, os estoques iniciais da safra 2018/19 foram de 15,6 milhões de toneladas, quantidade 13% inferior à da temporada anterior. Segundo pesquisadores do Cepea, estoques menores aliados à redução de área de primeira safra influenciaram o movimento de alta nos preços no primeiro bimestre do ano.
Ainda no primeiro trimestre, a maior parte do semeio do milho segunda safra foi concluída dentro da janela considerada ideal. Com clima favorável ao desenvolvimento das lavouras, começou a ganhar força a perspectiva de oferta elevada no segundo semestre, ambiente que pressionou os valores domésticos de março a maio. A maior disponibilidade de cereal em função da colheita do milho verão reforçou as baixas nos preços.
No balanço do primeiro semestre, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas –SP) teve leve queda de 0,2%, com média de R$ 38,09/saca de 60 kg no período, 0,5% abaixo do semestre anterior e 1,6% inferior ao do mesmo período de 2018.
De fato, o clima favoreceu o desenvolvimento do milho segunda safra. Esse cenário atrelado a investimentos em tecnologia no campo resultaram em produção recorde, de 73,8 milhões de toneladas, quantidade 36,9% superior à safra passada. Segundo a Conab, houve aumento de 9,3% na área semeada e de alta de 25,3% na produtividade, com a produção brasileira total atingindo 100 milhões de toneladas, um recorde.
A disponibilidade interna, resultado da soma entre produção, estoques iniciais e importação, chegou a 116,9 milhões de toneladas – um recorde, quantidade 18% superior à da safra anterior. O consumo interno foi de 63,9 milhões de toneladas, quantidade 6% acima da observada na safra anterior. Com isso, foi gerado o maior o excedente exportável da história, de 53 milhões de toneladas, sendo 35% superior ao da temporada anterior.
Pesquisadores do Cepea destacam que, no âmbito internacional, em meados de maio a junho, chamou a atenção o atraso no semeio do milho nos Estados Unidos em função do excesso de chuvas, refletindo em altas nos preços naquele país. Esse contexto, a forte alta do dólar frente ao Real e a perspectiva de oferta elevada no mercado interno elevaram expressivamente a competitividade do milho brasileiro no mercado internacional.
Em junho, os preços brasileiros ficaram, em média, 4% abaixo dos verificados dos Estados Unidos e 5% inferiores aos da Argentina. Vale destacar que, no mesmo período de 2018, os valores internos estiveram 20% superiores aos norte-americanos e 17% acima dos argentinos. Este cenário despertou o maior interesse internacional pelo produto brasileiro, favorecendo as exportações e alavancando as cotações nos portos e no interior do País. No segundo semestre do ano, os volumes mensais exportados atingiram sucessivos recordes.
No início do ano, a Conab indicava que as exportações na temporada 2018/19 (de fevereiro/19 a janeiro/20) atingissem 31 milhões de toneladas. Porém, ao longo da safra, as estimativas foram reajustadas até atingirem, no encerramento de 2019, 40 milhões de toneladas. Segundo os dados da Secex, as exportações brasileiras somaram 39 milhões de toneladas em 2019, o dobro do volume de 2018.
Caso as estimativas de Conab se concretizem, o estoque final da safra 2018/19 (final de janeiro/20) deve atingir 13,03 milhões de toneladas, quantidade 16% inferior à da temporada anterior e 3,7% abaixo da média das últimas três safras. Com isso, a temporada 2018/19 deve terminar com menor disponibilidade em relação às últimas safras.
Assim, no segundo semestre de 2019, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas –SP) teve alta de 25%, com média de R$ 40,67/saca de 60 quilos no período, 6,8% acima do semestre anterior.
No acumulado do ano, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa, referente à região de Campinas (SP), subiu 24,9%, com a saca de 60 quilos cotada a R$ 48,62, no dia 30. Na média das regiões acompanhas pelo Cepea, os aumentos foram de 22,2% no mercado balcão e de 27% no de lotes.
Em nível mundial, a produção na safra 2018/19 é estimada em 1,12 bilhão de toneladas, quantidade 4,1% superior à anterior, segundo o USDA. Nos Estados Unidos, principal produtor mundial do cereal, a produção foi de 366,3 milhões de toneladas, queda de 1,3% em relação ao ano anterior. O consumo da temporada foi estimado pelo USDA em 1,15 bilhão de toneladas, aumento de 5,2%. As transações internacionais são estimadas em 171,9 milhões de toneladas, incremento de 12,6%. Os Estados Unidos seguem como principal exportador mundial do cereal, seguidos pela China, Brasil, Argentina e Ucrânia.