Levantamentos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que a oferta de mandioca de segundo ciclo foi menor em 2019, visto que produtores intensificaram a colheita de raízes mais novas no ano anterior, diante dos preços mais atrativos. Entretanto, a disponibilidade de matéria-prima foi suficiente para atender a necessidades da indústria e pressionar as cotações até final de setembro de 2019, quando os valores passaram registrar movimento de recuperação.
Nos dois primeiros quadrimestres do ano, com a pressão sobre os valores, produtores mudaram a intenção de comercializar a raiz e, com isso, muitos optaram pela poda de boa parte de suas lavouras. Pesquisadores do Cepea indicam que, como resultado, no último quadrimestre, a quantidade ofertada passou a diminuir. Além disso, as condições climáticas naquele período e as produtividades agrícola e industrial mais baixas também pesaram sobre a decisão de postergar a colheita.
De acordo com dados do Cepea, entre janeiro e junho, a quantidade de mandioca processada na indústria de fécula foi de 1,05 milhão de toneladas, aumento de 6% frente à igual período de 2018. Já no segundo semestre, a moagem ficou em 873,4 mil toneladas, expressivo recuo de 16,8% em comparação ao apurado no mesmo período do ano anterior. No ano, foram processadas 1,9 milhão de toneladas, queda de 5,7% em relação ao de 2018.
No primeiro semestre, em termos nominais, o preço mais elevado foi verificado em fevereiro, de R$ 372,22/tonelada (R$ 0,6473 por grama na balança hidrostática de 5 kg), posta fecularia. Nesse período, as cotações oscilaram menos, mas registraram tendência de queda entre abril e setembro. Já no último trimestre de 2019, os valores passaram a subir, atingindo, em dezembro, R$ 472,14/t (R$ 0,8211 por grama), a maior média mensal desde abril de 2018, em termos nominais.
Dados do Cepea mostram que, em 2019, o preço médio nominal para a tonelada de mandioca foi de R$ 339,59/t (R$ 0,5906 por grama de amido), queda de 28% frente à de 2018. Em valores atualizados, a média de 2019 foi de R$ 352,37/t (R$ 0,6128 por grama), baixa de 31,4% na comparação com a de 2018.
As menores cotações em 2019 também reduziram o interesse de parte dos agricultores por ampliar as áreas com mandioca. Além disso, o atraso das chuvas no terceiro trimestre dificultou os trabalhos de campo, com alguns produtores diminuindo o plantio e outros registrando perdas, sem realizar o replantio.
A fraca demanda industrial também foi determinante na queda das cotações em todos os estados do Centro-Sul acompanhados pelo Cepea. A baixa mais expressiva ocorreu no estado de São Paulo (média da região de Assis), de 30,1%, com o valor médio anual de R$ 301,53/t (R$ 0,5244 por grama de amido), em termos nominais.
Para 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a área colhida no Brasil totalize 1,32 milhão de hectares, queda de 2,8% frente à safra anterior. Quanto à produtividade agrícola, deve ter crescimento de 6,7% entre 2018 e 2019, chegando a 15,1 toneladas por hectare. Como resultado, a produção brasileira de mandioca deve ser de 20 milhões de toneladas em 2019, 3,6% maior que a do ano anterior.
Fécula: Ano foi marcado por demanda enfraquecida e preços em queda – Em 2019, os fundamentos macroeconômicos pesaram sobre a cadeia de fécula de mandioca. A produção industrial e o consumo no varejo melhoraram somente no quarto trimestre do ano, mas os baixos estoques, que finalizaram 2019 nos menores patamares desde 2014, impulsionaram as cotações.
A ociosidade industrial foi relativamente elevada em 2019, superando os 60% da capacidade instalada em vários momentos do ano. No correr do segundo semestre, houve constantes quedas também na extração de amido, refletindo no total produzido e limitando a formação de estoques.
De acordo com cálculos do Cepea, o consumo aparente médio em 2019 foi de 45,5 mil toneladas por mês, queda de 9,3% frente a 2018. No acumulado do ano, a quantidade produzida somou 528,1 mil toneladas, enquanto o consumo ficou em 545,6 mil toneladas, o que resulta déficit de 17,5 mil toneladas de produto no mercado.
O preço médio mensal para a tonelada de fécula em fevereiro foi de R$ 2.136,88 (R$ 53,42 por saca de 25 kg), em termos nominais, passando a cair até setembro, quando ficou em R$ 1.678,23 por tonelada (R$ 41,95 por saca de 25 kg), o mais baixo do ano. A partir de então, com menor oferta e demanda fortalecida, a média subiu para R$ 2.599,37/t (R$ 64,98 por saca de 25 kg) em dezembro.
A média nominal para 2019 ficou em R$ 1.955,42 por tonelada (R$ 48,89 por saca de 25 kg), 24,5% menor que a do ano anterior. O preço médio de 2019 ficou em R$ 2.027,39 por tonelada (R$ 50,68 por saca de 25 kg), em termos atualizados, 28,4% menor que o de 2018. Dos estados acompanhados pelo Cepea, Santa Catarina foi o que teve a maior variação na média anual, queda de 27,9%, com valor médio de R$ 1.788,45/t (R$ 44,71 por saca de 25 kg).
Quanto às exportações de fécula de mandioca, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), somaram 6,5 mil toneladas em 2019, alta de 42,5% frente ao ano anterior. As importações do derivado, por sua vez, foram de apenas 1,2 mil toneladas, ao passo que, em 2018, totalizaram 9,46 mil toneladas.
Farinha: Indústria limita produção em 2019 – O mercado de farinha no Centro-Sul mostrou lentidão em 2019, por conta dos preços mais competitivos da farinha das regiões nordestinas. Assim, em parte da indústria, especialmente do Paraná, houve queda no volume produzido.
Diante deste cenário, a demanda por matéria-prima esteve enfraquecida ao longo do ano e os preços caíram. Em 2019, o preço médio para a tonelada de mandioca posta farinheira foi de R$ 337,54 (R$ 0,5870 por grama de amido), recuo de 27% frente à média do ano anterior. Em valores atualizados, a queda foi de 31%.
A produção no estado de São Paulo, especialmente na região de Assis, ficou praticamente estável em 2019. A comercialização foi destinada ao setor atacadista e empacotadores do próprio estado. No último trimestre do ano, por sua vez, houve embarques para Minas Gerais e Rio de Janeiro, mas em quantidades ainda baixas.
No geral, os valores da farinha foram pressionados em todas as regiões do Centro-Sul acompanhadas pelo Cepea, o que, inclusive, teve reflexo no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Entre dezembro/18 e dezembro/19, a variação da farinha de mandioca sobre o INPC passou de 1,8% para 0,23%.
Em termos nominais, o preço médio para a farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 em 2019 foi de R$ 71,86 por saca de 50 kg, baixa de 24% frente ao do ano anterior. Em termos reais, a queda foi de 28%. O preço médio a prazo da farinha de mandioca branca grossa/crua tipo 1 foi de R$ 53,77/sc de 40 kg, recuo de 27% em termos nominais e de 31% em termos reais.