A produção do cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) está maior na safra 2019/20. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a demanda pela laranja, por sua vez, esteve firme ao longo de 2019, tendo em vista os baixos estoques de passagem de suco nas indústrias paulistas. Assim, a maior procura atrelada à produtividade recorde no campo (que dilui os custos) mantiveram positiva a rentabilidade desta safra. Além disso, o fato de boa parte das negociações com a indústria ter ocorrido antecipadamente e nos mesmos patamares de 2018/19 também favoreceu a rentabilidade.
Relatório de dezembro do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) mostra que a produção de laranja do cinturão citrícola deve crescer 34,7% em 2019/20, totalizando 385,31 milhões de caixas de 40,8 kg. A produtividade por hectare foi estimada em 1.041 caixas, um recorde. O bom resultado se deve ao clima favorável durante o desenvolvimento das floradas (no segundo semestre de 2018) e ao fato de as plantas estarem “descansadas”, após a menor produção anterior.
INDÚSTRIA – De acordo com levantamentos do Cepea, os preços no setor industrial, no caso do citricultor que comprometeu suas frutas em contratos fechados em outubro e novembro de 2018, estiveram entre R$ 20,00 e R$ 22,00/cx de 40,8 kg, já incluindo colheita e frete até a unidade de moagem – cenário semelhante ao da temporada anterior, mesmo com a maior oferta atual. Contudo, os que comercializam com as processadoras no mercado spot sentiram maior pressão sobre os preços em 2019/20, que chegaram, no máximo, a R$ 20,00/cx, enquanto na safra passada os valores eram de até R$ 26,00/cx.
No entanto, as cotações no segmento spot se elevaram em dezembro, cenário que pode estar relacionado às perspectivas de menor produção na próxima temporada (2020/21). Assim, da média de R$ 16,00 a 18,00/cx de 40,8 kg, colhida e posta, negociada em boa parte da safra, duas das grandes processadoras passaram a adquirir a fruta a R$ 20,00/cx a partir de dezembro, de acordo com dados do Cepea.
ESTOQUES – Em 2019/20, a demanda industrial esteve firme, devido aos baixos estoques nas indústrias paulistas, de apenas 253,18 mil toneladas de suco em junho/19, em equivalente concentrado, segundo a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos). Esse volume foi 26,2% inferior ao da temporada 2017/18.
MERCADO DE MESA – A maior oferta de laranja pressionou os valores da fruta no mercado de mesa em 2019. Na parcial da safra (de julho a dezembro), a média da pera esteve 24% inferior à do mesmo período de 2018, em termos nominais.
Destaca-se, contudo, que a colheita em 2018/19 foi pequena, o que elevou as cotações, que atingiram recordes nominais de julho a dezembro de 2018, considerando-se toda a série de preços do Cepea, iniciada em 1994. Já em relação aos valores da temporada 2017/18, as médias verificadas de julho a dezembro de 2019 estiveram superiores, em 24%, em termos nominais.
EXPORTAÇÕES – Após uma temporada de embarques limitados, as exportações de suco de laranja em equivalente concentrado têm se recuperado na parcial da 2019/20. O bom resultado se deve à maior produção paulista e à possível necessidade de abastecimento dos estoques por parte de engarrafadoras.
Na parcial da temporada (de junho a dezembro/19), foram embarcadas 665,9 mil toneladas de suco de laranja a todos os destinos, volume 22% superior ao do mesmo período da safra anterior. Vale lembrar que este aumento também pode ser reflexo de transferência de estoques (dos terminais brasileiros para os no exterior) e não necessariamente de aumento nas vendas na mesma proporção.
FLÓRIDA – Dados de dezembro do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam que a produção da safra 2019/20 da Flórida deve somar 74 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, volume 3% superior ao da temporada 2018/19 (de 71,7 milhões de caixas), resultado do clima favorável.
Mesmo que leve, o avanço frente à temporada passada é um alento a agentes da Flórida, visto que, de 2011/12 a 2017/18, a produção recuou sucessivamente, devido aos severos danos do greening nos pomares locais e aos efeitos adversos do clima (como o furacão Irma).
TAHITI – De acordo com levantamentos do Cepea, o mercado de lima ácida tahiti teve comportamento novamente atípico em 2019. Mesmo com a maior produção, os preços estiveram elevados ao longo de todo o ano, sustentados pelas aquecidas demandas industrial e externa. No ano, a tahiti foi negociada a R$ 33,60/cx de 27 kg, colhida, queda de apenas 3% em relação a 2018, em termos nominais.
As exportações brasileiras da variedade foram recordes em 2019, com os embarques favorecidos pela seca no México, principal concorrente nos envios da fruta à União Europeia. Em 2019, foram exportadas 107,6 mil toneladas de limões e limas, segundo a Secex, volume 15% superior ao de 2018. Em receita, foram arrecadados US$ 92,9 milhões, alta de 6,6%.