O ano de 2019 deve ser lembrado por muito tempo pela pecuária nacional. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, depois de atravessarem o primeiro semestre registrando pequenas oscilações, os preços do boi gordo e da carne passaram a subir no início do segundo semestre, sendo alavancados em novembro, quando atingiram recordes reais da série do Centro de Pesquisas.
Segundo o Cepea, ao longo do período, ficou evidente ao setor a importância da atuação no front externo e nos nichos de mercado. Novas plantas frigoríficas foram habilitadas para exportar a carne à China, principal destino do produto brasileiro. Dados da Secex mostram que as exportações de carne estiveram acima das 100 mil toneladas o ano inteiro, atingindo recordes de volume e de receita. Com a procura doméstica ainda fragilizada na maior parte do ano, devido ao baixo poder de compra da população, as exportações acabaram ajudando a escoar a produção e a sustentar os valores internos da arroba e da carne.
Na primeira metade do ano, pesquisadores do Cepea ressaltam que os valores foram sustentados pela menor oferta doméstica e também pela demanda por parte de frigoríficos, especialmente para atender a exportação. Em junho, especificamente, os preços se enfraqueceram, influenciados pela paralisação temporária dos embarques de carne bovina à China (em decorrência do caso atípico de “vaca louca” em um animal de Mato Grosso). Além disso, a oferta de animais com o final da safra e início da entressafra também acabou resultando em quedas nos preços da arroba em boa parte daquele mês.
Já a partir da segunda metade do ano, dados do Cepea mostram que os preços de toda a cadeia pecuária iniciaram um movimento de alta, impulsionados pelo ritmo intenso das exportações brasileiras da proteína e pela baixa oferta de animais prontos para o abate. Mais para o final do segundo semestre, o aquecimento também na demanda doméstica, como típico para o período, também reforçou as elevações nas cotações.
No caso da arroba no estado de São Paulo, em novembro, foram registradas as duas mais intensas altas diárias do Indicador do boi gordo CEPEA/B3 – no dia 5, a elevação foi de 5,05%, e no dia 21, de significativos 11,85% – e, consequentemente, pelo expressivo avanço mensal, de 35,53%. No dia 29 de novembro, o Indicador atingiu R$ 231,35, o maior valor real da série do Cepea, iniciada em 1994. Para a carne negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, a alta em novembro foi de expressivos 35,01%, com o recorde real da série (iniciada em 2001) registrado no dia 28, quando a carcaça casada do boi atingiu R$ 16,46/kg.
Tomando-se como base as médias mensais do Indicador do boi gordo CEPEA/B3 (estado de São Paulo), a média de 2019, em termos nominais, foi de R$ 163,15, sendo 12,4% superior à de 2018. Em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI), a média de 2019, de R$ 166,33, ficou 6,1% acima da do ano anterior, de R$ 156,78.
Para a carne negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, o movimento foi o mesmo. Dados do Cepea mostram que a média nominal de 2019 da carcaça casada do boi, de R$ 11,28/kg, foi 14,1% superior à de 2018. Em termos reais, a média do ano foi de R$ 11,50/kg, 7,6% acima da média real de 2018.
Quanto ao bezerro, em termos nominais, a média de 2019 do Cepea foi de R$ 1.318,08/cabeça, 11,33% acima da de 2018. Considerando-se os efeitos da inflação, a média de 2019, de R$ 1.344,30, esteve 5,02% maior que a de 2018 (R$ 1.280,04).
EXPORTAÇÕES – De janeiro a dezembro de 2019, o Brasil exportou 1,532 milhão de toneladas de carne bovina in natura, 13,3% a mais que ano anterior e um recorde anual. A receita somou R$ 25,3 bilhões, 22,45% a mais que a registrada de janeiro a dezembro de 2018 – dados da Secex. No ano, o maior volume embarcado em um mês, de 170,5 mil toneladas, foi observado em outubro e a maior receita, de R$ 3,14 bilhões, em novembro.