Com consecutivos aumentos de produção nas últimas três temporadas e volume recorde colhido na safra 2018/19, o mercado externo foi a alternativa para o escoamento da safra em 2019, segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nesta temporada, o Brasil seguiu como o quarto maior produtor mundial de algodão e passou a ser o segundo no ranking da exportação, atrás apenas dos Estados Unidos.
Diante do maior excedente, após a elevação de 15% em 2018, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, recuou 15,4% em 2019. De modo geral, ao longo do ano, as negociações estiveram limitadas, devido às disparidades entre os preços e a qualidade da pluma.
Entre meados de janeiro e o final de março, a “queda de braço” entre agentes resultou em poucas oscilações de preços. Em abril, cotonicultores estiveram atentos ao desenvolvimento da cultura, com poucos lotes de São Paulo sendo disponibilizados no spot. Na expectativa de colheita e disponibilidade da nova safra do Cerrado, a comercialização perdeu força em maio. Em junho, agentes consultados pelo Cepea esperavam a entrada efetiva de algodão da safra 2018/19 e, com isso, compradores adquiriram pequenos volumes para atender à necessidade imediata. Vendedores, por sua vez, estiveram flexíveis nos preços, mas compradores ofertaram valores ainda menores.
Entretanto, chuvas em meados de maio e baixas temperaturas atrasaram a maturação da lavoura e, consequentemente, a colheita da safra 2018/19 em algumas regiões de Mato Grosso e da Bahia. Segundo pesquisadores do Cepea, mesmo com a menor disponibilidade interna, a cotação seguiu em queda em julho, mantendo fraco o ritmo das negociações. Em agosto, por sua vez, com boa parte da produção comprometida, cotonicultores permaneceram focados na colheita e no beneficiamento da safra 2018/19.
Após quatro meses em queda, os valores do algodão voltaram a subir em setembro, influenciados pela posição firme de vendedores e pela baixa oferta no spot nacional, especialmente de pluma de qualidade.
Em outubro, os embarques de algodão estiveram intensos, atingindo o recorde de 288,15 mil toneladas. A paridade de exportação acima dos preços domésticos desde o final de agosto, por sua vez, deu suporte aos valores no Brasil, além de ter estimulado novos fechamentos para o mercado externo. Nesse cenário, em novembro, o preço da pluma subiu expressivos 6%, sendo a maior valorização mensal desde maio/18, quando o Indicador teve alta de expressiva de 12%.
Nesse cenário, compradores com necessidade de recebimento cederam e pagaram valores mais altos, principalmente em negócios envolvendo pluma de melhor qualidade. Nos últimos meses do ano, a comercialização antecipada apresentou bom ritmo, principalmente com indústrias se abastecendo para o primeiro semestre de 2020.
CONAB – A produção brasileira da safra 2018/19 atingiu volume recorde de 2,7 milhões de toneladas, alta de 36% frente à anterior, impulsionada pela elevação de 37,8% na área cultivada, já que a produtividade média caiu 1,3%, para 1.685 kg/ha. O maior investimento esteve atrelado ao aquecimento do mercado da pluma e à maior rentabilidade frente a outras culturas e ao clima favorável. Mato Grosso semeou 1,1 mil hectares (+40,5%) e a produtividade média cresceu 0,2%, resultando em aumento de 40,7% na produção, para 1,8 milhão de toneladas. Na Bahia, a produtividade recuou 4,8%, mas a área cresceu 25,9%, com produção sendo estimada pela Conab com alta de 20%, indo para 597,6 mil toneladas.
EXPORTAÇÃO – Dados da Secex indicam que, em 2019, foram exportadas 1,61 milhão de toneladas da pluma, 65% superior ao volume de 2019 (de 974,12 mil toneladas) e um recorde. Os principais compradores foram a China, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Turquia. O faturamento em 2019 foi de US$ 2,64 bilhões, 56% maior que de 2019 (US$ 1,69 bilhão).