A oferta de mandioca para as indústrias de fécula ficou aquém das expectativas para 2018, de acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Ao mesmo tempo, com a baixa liquidez nos mercados de derivados, a demanda industrial caiu ao longo do ano, pressionando as cotações em alguns períodos.
De acordo com dados do Cepea, no primeiro semestre de 2018, o volume de raiz processado pela indústria de fécula superou em 1 milhão de toneladas, alta de 26% frente ao mesmo período do ano passado. Na segunda metade de 2018, a moagem ficou em 1,04 milhões de toneladas, aumento de 46,7% em comparação ao mesmo período de 2017. No acumulado do ano, foi processado um volume 46,1% maior que o do ano anterior.
Assim, com pouca disponibilidade de raízes de segundo ciclo, o ano se iniciou com preços em alta – em janeiro, a média foi de R$ 624,98/t (R$ 1,0869/grama de amido), em termos nominais. Porém, com a demanda industrial enfraquecida, as cotações foram caindo gradativamente no primeiro semestre, atingindo o menor preço médio do ano em junho, de R$ 381,90/t (R$ 0,6642/grama), a média de preço do primeiro semestre foi de R$ 515,35/t (R$ 0,8962/grama). Já no segundo semestre, os valores oscilaram com o interesse comprador, mas o movimento de queda se sobressaio frente ao primeiro semestre, com a maior oferta e o preço médio foi de R$ 424,30/t (R$ 0,7379/grama).
Nas regiões produtoras do Centro-Sul, houve melhora no volume produzido, suficiente para atender à demanda da região, que estava enfraquecida em alguns períodos do ano, por conta da falta de liquidez nos mercados dos derivados. Assim, a maior oferta e a baixa procura em 2018 pressionaram as cotações na região. A queda mais expressiva ocorreu no Paraná, de 14,9%, com média anual de R$ 478,24/t (R$ 0,8317 por grama de amido).
Em Mato Grosso do Sul e São Paulo (média da região de Assis), as médias caíram 12,2% e 8,3%, a R$ 467,47/t (R$ 0,8130/grama) e R$ 429,50/t (R$ 0,7470/grama), respectivamente. Quanto ao Nordeste, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a produção de mandioca deve cair 1,5% neste ano, chegando a 5 milhões de toneladas – vale ressaltar que a produção foi retomada em 2018, fazendo com que o Nordeste volte a ser autossuficiente com mandioca.
Além disso, em 2018, foi observada alguma mudança na forma de comercialização. Isso porque com os preços ainda atrativos, mais agricultores intensificaram as vendas de mandioca com até 1 ciclo, mesmo com menor rendimento de amido, que teve média anual de 575,71gramas, conforme dados do Cepea.
Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a área a ser colhida com mandioca no Brasil em 2018 será de 1,37 milhão de hectares, baixa de 2% frente a 2017. A produtividade agrícola deve recuar 1,5%, chegando a 14,4 toneladas por hectare. Como resultado, a produção no País deve cair 3,5%, ficando a 19,9 milhões de toneladas.
FÉCULA – A maior oferta de matéria-prima em 2018 auxiliou na retomada da produção brasileira de fécula. Neste ano, a produção atingiu 586,37 mil toneladas, alta de 46,1% frente à do ano passado. Esse cenário se deu em um ano de baixa demanda, devido ao fraco desempenho da economia e das incertezas no campo político, especialmente no segundo semestre. As vendas de fécula ficaram restritas aos segmentos de panificação (tapioca), frigorífico e atacadistas. Para os segmentos industriais, especialmente para a indústria de papel e papelão e amidos modificados, o derivado do milho ganhou espaço, apesar de os preços terem subido expressivamente no correr do ano.
As maiores produções aliadas à demanda enfraquecida diminuíram a participação do Brasil no mercado internacional de fécula. Entre janeiro e dezembro, as aquisições brasileiras de fécula totalizaram 9,51 mil toneladas, recuo de 32,7% frente ao mesmo período de 2017. Já as exportações, no mesmo período de comparação, somaram 4,58 mil toneladas, alta de 3,7% frente à igual período de 2017. Em relação à produção brasileira de fécula e ao consumo aparente, de acordo com cálculos do Cepea, entre janeiro e dezembro, avançaram 41,1% (586,3 mil toneladas) e 20,6% (580,1 mil toneladas), respectivamente, gerando, assim, uma sobra de 6,2 mil toneladas do produto.
Os preços médios (FOB fecularia) da tonelada da fécula iniciaram o ano em R$ 3.286,09 (R$ 82,15/saca de 25 kg), em termos nominais. Porém, caíram no correr do primeiro semestre, chegando a R$ 2.283,75/t (R$ 57,09/saca de 25 kg) em junho, devido ao custo com a matéria-prima, que também estava em baixa, já que os volumes produzidos ultrapassavam o de escoamento, acumulando produto em estoque. Já em julho, após a greve dos caminhoneiros e com os preços da mandioca mais firmes, a fécula voltou a se valorizar, chegando a R$ 2.595,60/t (R$ 64,89 por saca de 25 kg) – a partir desse mês, as cotações ficaram em torno de R$ 2.500,00/t, apresentando quedas mais expressivas apenas em novembro, por conta da baixa demanda, quando fechou a R$ 2.209,11/t (R$ 55,22 por saca de 25 kg).
Em 2018, a média nominal ficou em R$ 2.583,56/t (R$ 64,59 por saca de 25 kg), baixa de 9,2% frente à média de 2017, de R$ 2.845,65/t (R$ 71,14 por saca de 25 kg).
Quanto à média dos estados acompanhados, Santa Catarina teve a menor de 2018, de R$ 2.478,88/t (R$ 61,99/saca de 25 kg), queda de 10,2%. O estado de São Paulo (média da região de Assis), teve preço médio anual de R$ 2.558,23/t (R$ 63,95 por saca de 25 kg), baixa de 10,2% frente à média de 2017. No Paraná, a média anual baixou 9,2% em 2018, ficando em R$ 2.609,51/t (R$ 65,23 por saca de 25 kg). Em Mato Grosso do Sul, a média do ano ficou em R$ 2.558,90 (R$ 63,97 por saca de 25 kg), recuo de 9%.
FARINHA - Os preços da farinha caíram ao longo de todo o ano de 2018, visto que o Nordeste voltou a ser autossuficiente em produção de mandioca e, consequentemente, de farinha. Assim, essa região passou a atender os principais mercados consumidores do Centro-Sul, com cotações mais competitivas que os da farinha produzida no estado de São Paulo e Paraná, principalmente.
Ao longo do ano, algumas farinheiras do Centro-Sul diminuíram e/ou interromperam a moagem. Assim, houve excedente para aquelas que mantiveram as atividades mais próximas do normal. Neste ano, o preço médio nominal para a tonelada de mandioca posta farinheira ficou em R$ 459,43 (R$ 0,7990 por grama de amido), queda de 16,2% frente à média de 2017.
Para as farinheiras do Paraná, a comercialização de farinha, que ficou concentrada nos empacotadores do próprio estado, registraram volumes abaixo de anos anteriores. Neste cenário de baixa liquidez, farinheiras do noroeste do estado diminuíram a produção. Mesmo aquelas com lavouras de produção própria também optaram por reduzir a moagem, cenário mais pontual no correr do segundo semestre.
Para as indústrias de farinha do estado de São Paulo, as vendas também caíram. Somente em Assis foi observada maior atividade, as quais estiveram voltadas para atender ao mercado atacadista da Grande São Paulo. Vale destacar que algumas farinheiras paulistas compraram farinha do Nordeste para reprocessar e vender, estratégia considerada mais viável em determinados momentos por agentes de mercado.
Segundo dados do IBGE, em novembro (dado mais recente), a variação acumulada no ano para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), considerando a farinha de mandioca, foi de menos 12%, o que evidencia o expressivo recuo nos preços ao longo do ano.
Em 2018, o valor médio nominal a prazo da saca de 50 kg da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 ficou em R$ 94,22, baixa de 17,8% frente à média do ano passado. Em mesmo período de comparação, a farinha de mandioca branca grossa/crua tipo 1 baixou 19,8%, com a média de 2018 em R$ 73,79 por saca de 40 kg.