Depois de atravessar uma das piores crises em 2017, o setor lácteo pôde respirar um pouco mais aliviado em 2018, segundo indicam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. O ano foi marcado pela intensa valorização do leite ao produtor, o que esteve atrelado à oferta limitada e à maior competição entre empresas para assegurar a compra de matéria-prima.
Os baixos preços no final de 2017 fizeram com que muitos produtores saíssem da atividade e/ou diminuíssem os investimentos, resultando em queda na produção. Diante disso, de janeiro a junho, o preço do leite (“Média Brasil” líquida) subiu 26,2% em termos reais (deflacionado pelo IPCA de novembro/18). De maio para junho, contudo, o aumento foi de apenas 2%, mostrando uma desaceleração do movimento altista, mesmo às vésperas da entressafra. Esse contexto indicava que os preços dos derivados haviam atingido patamares difíceis de serem absorvidos pelos consumidores.
Em maio, a greve dos caminhoneiros alterou a dinâmica do mercado lácteo. A paralisação interrompeu a captação e a produção foi descartada. Dados da PTL mostram que, no segundo trimestre de 2018, a captação caiu 3,2% em relação mesmo período de 2017 – só em junho, a queda na captação foi de 9,2%. Além de impactos no curto prazo, a greve também se refletiu no longo, tendo em vista que o fornecimento de insumos foi interrompido, prejudicando o ciclo produtivo das vacas e a produtividade. No período pós-greve, o Cepea observou forte disputa por matéria-prima entre empresas, tanto para normalizar as atividades quanto para aproveitar o movimento de valorização dos lácteos nas prateleiras. Os contratos firmados entre indústrias e produtores sustentaram o movimento altista nos meses seguintes.
De janeiro a agosto, a “Média Brasil” líquida do leite ao produtor subiu 50,3%. Quanto ao UHT e ao muçarela, as valorizações foram de 39,5% e de 28,3%, respectivamente.
Já em setembro, o preço caiu 5,1% em relação a agosto, movimento sazonal e, portanto, já esperado pelo setor. O diferencial de 2018 em relação aos anteriores é que, apesar da produção ter crescido ao longo do ano, o volume ainda era limitado, devido à conjuntura de desestímulo e ao atraso das chuvas no Sul e Sudeste. Assim, a demanda enfraquecida – devido ao menor poder de compra da população – foi o principal fator de pressão.
Entre outubro e novembro, atacados e varejos forçaram a desvalorização do leite UHT numa tentativa de aquecer a demanda geral, via redução de preços de itens importantes da cesta de alimentação do brasileiro. Aliado a isso, o período chuvoso e a ligeira queda nas cotações do milho favoreceram a elevação da produção. Assim, o preço médio do leite ao produtor registrou, em dezembro, queda de 9,4%, a mais intensa do ano. De janeiro a dezembro, o preço médio do leite foi de R$ 1,2936/litro, 6% superior à de 2017 (em termos reais).
CUSTOS – As valorizações de insumos para a ração (como milho e farelo de soja), do sal mineral, dos combustíveis e dos adubos elevaram os custos de produção leiteira em 2018. O Custo Operacional Efetivo (COE), calculado pelo Cepea/CNA, subiu 7,56% em 2018, na “média Brasil”. Como a receita subiu em intensidade maior, especialmente até agosto, as margens foram positivas em 2018, permitindo uma recuperação no caixa do pecuarista, após um 2017 negativo. Vale destacar, contudo, que a valorização de cerca de 30% do grupo de adubos e corretivos encareceu a implementação das forragens e o plantio das silagens do próximo ano.