Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, afirmam que a menor produção de laranjas no cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) em 2018/19 manteve elevada a demanda por matéria-prima nas indústrias paulistas no correr de 2018 e, consequentemente, os preços da fruta. A redução da produtividade, porém, pode limitar a rentabilidade do citricultor nesta temporada.
No geral, as cotações de laranja permaneceram elevadas no correr de 2018 tanto no segmento industrial quanto no in natura. A sustentação veio da queda de 30,8% na produção do cinturão citrícola, que deve somar apenas 275,7 milhões de caixas de 40,8 kg, segundo o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura).
No spot, os preços oferecidos aumentaram especialmente após a confirmação da baixa oferta (em agosto), indo de R$ 20,00 para até R$ 24,00/cx. Para o citricultor, contudo, a elevação foi positiva somente para os que ainda não haviam comprometido suas frutas em contratos de médio e longo prazos – estes, por sua vez, não ultrapassaram os R$ 22,00/cx de 40,8 kg, já incluindo colheita e frete até a unidade de moagem.
Assim, mesmo com o preço de venda mais firme neste ano, a queda na produção da fruta deve limitar os resultados financeiros de produtores que negociam com a indústria. Isso ocorre porque o menor número de caixas produzidas por hectare tende a elevar o custo unitário. Na média parcial da temporada (de julho até dezembro/18), o preço pago pela laranja pera e tardia nas processadoras no spot é de R$ 22,00/caixa de 40,8 kg, colhida e posta na fábrica, aumento de 16% em relação à do mesmo período de 2017.
MERCADO DE MESA – A menor oferta de laranja é resultado do clima desfavorável, tanto no fim de 2017 (durante o desenvolvimento das floradas da temporada 2018/19), quanto no primeiro semestre de 2018 (período de crescimento da fruta). Esse cenário atrelado à elevada demanda industrial impulsionaram as cotações das laranjas de mesa em praticamente todos os meses de 2018.
O valor médio da pera rio, variedade mais prejudicada pelo clima, atingiu o maior patamar de 2018 em outubro, de R$ 32,83/cx de 40,8 kg, na árvore, sendo 70,4% acima do observado no mesmo mês de 2017, em termos nominais. Mesmo em julho, período de pico de colheita e de consequente preço baixo, a fruta registrou média de R$ 26,80/cx de 40,8 kg, na árvore, alta de 65,9% em relação ao mesmo mês de 2017.
A menor disponibilidade de laranja pera em 2018 também impulsionou a procura da indústria por outras variedades, como a valência, reduzindo ainda mais a oferta desta fruta no mercado in natura. Neste cenário, alguns citricultores passaram a antecipar a colheita – fator que pode elevar os preços no início de 2019, quando a oferta tipicamente já é escassa. Até a primeira quinzena de dezembro, 78% das laranjas da safra já haviam sido colhidas, segundo o Fundecitrus, contra 75% no mesmo período da safra passada.
TAHITI – O movimento dos preços da lima ácida tahiti em 2018 esteve semelhante ao observado em 2016: atipicamente, os valores permaneceram elevados durante quase todo o ano. Mesmo no período de pico de oferta (em fevereiro), as cotações se sustentaram, refletindo as demandas interna e externa firmes.
No campo, o clima foi desfavorável durante as floradas e também durante o desenvolvimento, prejudicando a produção de 2018. No geral, houve atraso no desenvolvimento, mantendo a oferta controlada em boa parte do ano, com retomada mais intensa da colheita apenas em meados de novembro. No ano, a tahiti teve média de R$ 34,51/cx de 27 kg, colhida, aumento de 1,6% em relação à de 2017, em termos nominais.
EXPORTAÇÃO – A recuperação da produção da Flórida e a queda na safra paulista têm limitado as exportações brasileiras de suco de laranja em equivalente concentrado. Na parcial desta temporada 2018/19 (de julho/18 a novembro/18), os envios aos Estados Unidos caíram 45% frente aos do mesmo período da safra anterior. As exportações para todos os países, por sua vez, somam 375,8 mil toneladas, 27% inferiores às de igual período de 2017/18.
INTERNACIONAL – O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a colheita da Flórida totalize 77 milhões de caixas, aumento de 71,5% em relação à safra anterior (que, por sua vez, havia sido a menor desde 1944/45). Nesta temporada, o clima e métodos mais adequados para a convivência com o greening (como a melhor nutrição das plantas) têm favorecido a recuperação da produção do estado.