O ano de 2018 foi marcado pelos menores preços dos cafés arábica e robusta no mercado brasileiro, de acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. A pressão veio da produção recorde das duas variedades na safra 2018/19 – que somou 61,7 milhões de sacas, segundo a Conab (dezembro/18) – e da consequente recuperação dos estoques globais do grão. Além disso, as oscilações cambiais no segundo semestre de 2018 e as boas expectativas quanto à temporada 2019/20 também influenciaram os valores domésticos.
Com os preços enfraquecidos ao longo do ano, produtores de arábica e de robusta consultados pelo Cepea se mantiveram mais retraídos do mercado, mantendo a liquidez interna mais baixa. Negócios foram fechados especialmente em períodos de alta dos preços internacionais ou do dólar, com destaque para o mês de outubro.
ARÁBICA – Com as expectativas positivas quanto à colheita da safra 2018/19, os preços do arábica recuaram nos primeiros meses do ano, esboçando leve recuperação entre maio e junho, devido ao clima desfavorável e à greve dos caminhoneiros, que atrapalharam os trabalhos de campo. Já em julho, com o retorno da intensificação dos trabalhos, as cotações voltaram a cair com mais força, segundo indicam os dados do Cepea.
Especialmente entre agosto e setembro, além da pressão da elevada oferta de café em 2018/19, as cotações também foram influenciadas por questões cambiais e pela abertura das primeiras flores da temporada 2019/20. No geral, as boas chuvas no segundo semestre do ano auxiliaram no desenvolvimento da safra 2019/20 – até dezembro, as lavouras apresentavam um bom pegamento dos chumbinhos.
Com a forte queda nos preços no início do segundo semestre, a saca do café arábica chegou a ser negociada abaixo dos R$ 410,00 em setembro. Naquele mês, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, teve média real de R$ 411,72/saca de 60 kg, a menor desde janeiro de 2014 (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de novembro/18). No entanto, em outubro, os preços nacionais e internacionais tiveram acentuada elevação. Assim, agentes se animaram e retornaram ao mercado, e um bom volume de café foi negociado no mês, tanto no mercado spot quanto para contratos – neste caso, a saca para entrega em setembro/19 chegou a negociada próxima dos R$ 500.
Na parcial da safra 2018/19 (do início de julho/18 a dezembro/18), a média do Indicador do arábica está em R$ 430,15/saca, queda de 12,7% em relação à do mesmo período da temporada 2017/18, em termos reais.
ROBUSTA – O clima seguiu favorável ao robusta, auxiliando na produção e na qualidade em 2018/19, tanto no Espírito Santo quanto em Rondônia. As chuvas mais volumosas em 2018 também aumentaram o potencial produtivo da temporada 2019/20, resultando em mais um ano de queda das cotações da variedade.
A partir de novembro, os valores também foram influenciados pela colheita da safra 2018/19 no Vietnã, maior produtor mundial de robusta. Segundo relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de novembro/18, o país asiático deve colher 30,4 milhões de sacas nesta temporada, avanço de 3,7% em relação à de 2017/18. Até novembro, cerca de 45% da safra vietnamita havia sido colhida, sendo que a expectativa é de que a temporada seja praticamente finalizada em dezembro, segundo agências internacionais de notícias.
A menor média mensal de 2018 do Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6 peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, foi verificada em dezembro, de R$ 309,44/sacas de 60 kg – foi, também, a mais baixa desde junho de 2014. Na parcial da safra 2018/19 (de julho/18 a dezembro/18), a média do Indicador do robusta foi de R$ 324,26/sc, queda de 23,6% frente ao mesmo período da temporada anterior.
EXPORTAÇÕES – Um dos grandes destaques de 2018 foi a recuperação das exportações brasileiras, que foram impulsionadas pela produção recorde em 2018/19. Segundo o Cecafé (Conselho de Exportadores de Café), na parcial desta safra (de julho/18 a novembro/18), os embarques totais (considerando-se grão verde, torrado moído e solúvel) somaram 16,7 milhões de sacas e os de café verde (arábica e robusta), 15,1 milhões, avanços de 31% e 33%, respectivamente, em relação ao mesmo período da temporada anterior (2017/18). Em outubro, especificamente, o Brasil exportou 3,9 milhões de sacas de café, um recorde mensal, tomando-se como base toda a série histórica do Cecafé, iniciada em 1990.
Quanto à receita, somou US$ 2,2 bilhões nos cinco primeiros meses da temporada, elevação de apenas 7,6% frente ao mesmo período da safra passada, reflexo da desvalorização internacional do café. Já em Reais, com a valorização do dólar em 2018, o montante foi de R$ 8,8 bilhões, alta de 30,8% em relação ao mesmo período da temporada passada.
Considerando-se somente o volume de arábica, na parcial desta temporada, houve avanço de 18,5% em comparação ao mesmo período da safra anterior, com 13,3 milhões de sacas embarcadas. Para o robusta, os embarques somam 1,8 milhão de sacas de julho/18 a novembro/18, volume 14 vezes acima do observado na safra anterior (de julho/17 a novembro/17).