Publicado originalmente em inglês em 03/08/2021
Os rendimentos dos títulos do governo americano estão atingindo níveis de queda que imaginávamos já ter deixado para trás, enquanto aumenta o temor de uma nova onda de infecções causadas pela variante Delta da Covid-19. Além disso, é cada vez maior a suspeita de que o mercado de trabalho americano não conseguirá atender às demandas de uma economia em rápida recuperação.
O rendimento da nota referencial de 10 anos do Tesouro dos EUA afundou para cerca de 1,15% em determinado momento do pregão de segunda-feira, à medida que os investidores compravam papéis sem risco do governo dos EUA, apesar de indicações de que a inflação pudesse subir e durar mais tempo do que os otimistas previam.
O rendimento no fim do pregão era de quase 1,18%, ainda assim um declínio de 6 pontos-base no dia.
Na sexta-feira, analistas fizeram um alvoroço com o núcleo do índice de gastos com consumo pessoal – medida preferencial de inflação do Federal Reserve – que foi de 3,5% no acumulado de 12 meses até junho, em vez dos 3,6% definidos pelo consenso de mercado, alegando que a inflação havia atingido o pico.
Foram menos frequentes os comentários sobre o fato de que houve aumento em relação aos 3,4% registrados em maio, na maior elevação desde julho de 1991. O índice principal de gasto com consumo pessoal, que inclui os preços voláteis de alimentos e energia, ficou estável a 4% no ano.
De qualquer forma, o ritmo de alta da inflação desacelerou, porém a explanação mais lógica para esse declínio é que o crescimento está aquém das expectativas, por causa da escassez de trabalhadores e materiais. Não quer dizer que o aumento da inflação seja temporário.
Cada vez mais economistas concordam com a visão de que a escassez de trabalhadores não terminará em setembro, quando expiram os benefícios emergenciais de seguro-desemprego e as crianças voltam para a escola. O que parece haver é um grande descompasso entre a abertura de vagas e a disponibilidades de profissionais capacitados, se bem que muitos estejam relutantes em voltar ao trabalho por causa do medo do coronavírus, o que está forçando as empresas a elevar os salários.
Começam a surgir notícias de que essa elevação dos salários para atrair novos profissionais está levando quem já tem um emprego a pedir um aumento. Reter talentos está se tornando tão importante quanto recrutá-los. Isso pode acabar gerando uma espiral de preços e salários, alimentada pelo excesso de estímulo fiscal e monetário, como não víamos há muito tempo, apesar dos esforços de amenizar as similaridades entre os anos 1970 e o momento atual.
O rendimento do título de 30 anos do Tesouro americano também caiu na segunda-feira para quase 1,845%, ou seja, uma queda de 4 pontos-base no dia.
Títulos alemães exibem mesmo movimento dos papéis americanos
Na Europa, o rendimento dos títulos alemães mimetizou os declínios nos treasuries.
O retorno da nota referencial de 10 anos caiu cerca de 3 pontos-base para -0,48%, enquanto o do papel de 30 anos afundou abaixo de 0%, fazendo com que toda a curva de juros da Alemanha ficasse em território negativo pela primeira vez em seis meses.
O Banco Central Europeu disse, na segunda-feira, que havia comprado mais títulos governamentais nos últimos dois meses do que os quatro principais países – Itália, Alemanha, França e Espanha – haviam vendido. O banco central da zona do euro adquiriu títulos desses quatro países ao valor de 134,7 bilhões de euros, enquanto a emissão líquida estimada foi de 89 bilhões.
A expectativa dos investidores é que o BCE continue comprando títulos para manter baixos os custos de endividamento, à medida que as economias da região se recuperam da pandemia.