Outubro começa na reta final do processo sucessório de Michel Temer, presidente que sai sem nenhum apoio ao seu governo de transição, apesar de ter realizado algumas ações importantes, como o limite do teto de gastos e ter iniciado a reforma trabalhista. Não fosse a delação dos irmãos Batista, talvez tivéssemos até conseguido fazer alguma reforma da Previdência que, por menor que fosse, já teria sido importante.
Entramos na semana de votação em primeiro turno com os investidores tendo que avaliar a infinidade de pesquisas que saíram ou sairão ao longo da semana e mais um debate de TV, que pode contar com o candidato Bolsonaro, já refeito da facada que levou. Pode ser que o candidato tenha proibição médica, o que seria muito oportuno para não virar alvo de todos os demais candidatos, ele que mantém a liderança das pesquisas.
Desde as pesquisas divulgadas na semana passada, o que temos assistido é o candidato Bolsonaro quase estacionado, enquanto Haddad, herdeiro dos votos de Lula, sobe nas pesquisas. Apesar disso estar no radar dos investidores, ainda assim as tensões se ampliam. Basta citar a frase atribuída a José Dirceu de que poderiam tomar o poder, e isso é muito diferente de ganhar uma eleição. Ou mesmo de sermos administrados por um presidiário, já que desde que Haddad foi alçado como candidato, já fez quatro visitas para Lula em Curitiba.
Porém, isso não é o pior. O Brasil está polarizado antes das eleições, e deve seguir assim mesmo após o processo eleitoral. O próximo presidente, seja quem for, terá que tomar medidas urgentes logo que assumir a cadeira. Lembrando que encontrará um Congresso Nacional também polarizado e fracionado. Assim vai ser muito difícil conseguir celeridade e profundidade nas medidas que urgem serem tomadas.
Os seguidores de Bolsonaro nas redes sociais e apoiadores querem tentar a vertente de ganhar em primeiro turno, mas parece algo pouco provável já que não houve nenhum acordo entre os candidatos de centro/direita. Hoje o mais provável seria um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, e as pesquisas até o momento indicam que Haddad começa a aparecer como ganhador. É claro que ainda teremos os votos úteis e brancos e nulos que podem reduzir no correr da semana. Claro que o segundo turno é uma outra eleição dissociada da primeira.
No segundo turno, o eleitor deixa de votar em quem deseja ver no Planalto, para votar contra quem não deseja ver. Há também os apoios de partidos em candidatos que podem transferir alguns votos e a redução de palanques de governadores que já foram eleitos em primeiro turno e outros que não querem se comprometer com apoios que possam retirar votos. Mesmo considerando coligações de seus partidos.
Como se vê, a situação segue complicada ao destinos do país e, principalmente, nos ajustes requeridos para a economia. Portanto, os males não cessam imediatamente após as eleições e indicação do novo presidente. Eles vão entrar pelo ano de 2019, que por definição já era extremamente complicado no que tange ao orçamento, déficit primário, regra de ouro, endividamento crescente e urgência de medidas. Isso está expresso em todas as declarações do Banco Central, Tesouro Nacional e ainda dos ministros do “ancien régime”.
Mais grave ainda quando nos inserimos no mercado global, com países desenvolvidos buscando a normalização de suas políticas monetárias, o que significa menos recursos disponíveis no sistema financeiro e mais caros. Igualmente com o protecionismo comercial em voga, haverá complicações para exportações. Adicionalmente, quem não respeitar marcos regulatórios existentes, não tiver credibilidade internacional, e governos igualmente críveis; vai sair do radar dos investidores, o que tornará a situação ainda mais complicada.