O economista Armínio Fraga, futuro Ministro da Fazenda caso o candidato Aécio Neves venha a ser eleito Presidente, e o atual Ministro da Fazenda Guido Mantega do governo Dilma Rousseff, expressaram ponto de vista em torno do câmbio no Brasil.
Fraga salientou que não teria utilizado a intervenção com contratos de swaps cambiais no mercado de câmbio e que encerrará este programa de imediato assim que assumir o Ministério da Fazenda, caso Aécio Neves seja o eleito.
Mantega afirmou que quem apostar na valorização do dólar no nosso mercado se dará mal.
Enfim, duas afirmativas puramente retóricas, já que nem Fraga explicou o que faria para conter o forte descrédito a que foi e está submetida a moeda nacional, situação que torna inevitável que ocorra a “compra de credibilidade” com a oferta de expressivo volume de “hedge”, enquanto que Mantega, mantendo seu estilo, faz uma afirmativa que não sugere ser sustentável.
Soam como puras retóricas desprovidas de fundamentos e típicas de período pré-eleitoral direcionadas aos ouvidos que desejam ouvir exatamente isto.
Já expressamos de forma detalhada o nosso ponto de vista fundamentando a inviabilidade de interrupção imediata e abrupta do programa de intervenção. Só será possível com a manutenção do estoque, o que implica em manutenção da intervenção com a rolagem, numa ação inicial tentativa cessando a oferta adicional de 4.000 contratos diários.
A interrupção do programa poderá ocorrer de forma extremamente lenta e gradual na medida em que o país, consubstanciado em novas políticas com ênfase na econômica e fiscal, consiga reconstituir sua credibilidade e atratividade aos investidores estrangeiros, de forma a que se acentuem os fluxos de recursos externos, situação em que seria possível o desmonte.
Mas é evidente que Fraga pode estar trabalhando com a hipótese de que com a eleição de Aécio fluxos de recursos externos para o país poderão ocorrer de forma mais rápida e com isto ser possível a redução do estoque.
Mantega, por sua vez, faz uma declaração incisiva ante um ambiente em torno do dólar bastante desfavorável para o Brasil, onde a tendência de depreciação da moeda nacional continua presente.
O fato é que há um ambiente hostil no setor externo em perspectiva para os países emergentes, mais acentuado para o Brasil que tem um contexto agravado pelo baixo crescimento, inflação alta, indústria cadente, baixíssima atratividade e credibilidade, sugerindo baixo fluxo de recursos ingressando e, além disto, com o mundo sinalizando crescimento mais baixo e possibilidade de alteração da política monetária americana, dois fatores adicionais presentes que sugerem saída de recursos do Brasil.
A volatilidade presente no mercado de câmbio movida a pesquisa eleitoral tende a ser extremamente pontual e que se transformará em tendência de apreciação do preço da moeda americana tão logo ultrapassado o momento eleitoral. Mesmo que venha a ocorrer reações exacerbadas, a tendência será de retomada da realidade.
No nosso entendimento há um cenário adverso a ser superado pelo Brasil no mercado de câmbio, e que, inevitavelmente, terá que ser transposto, seja quem for o presidente eleito.
O mercado financeiro insinua acreditar que o candidato da oposição teria maior possibilidade de superar este desafio, mas é necessário verificar-se qual será a visão dos investidores externos.
O Boletim FOCUS parece cauteloso ao assumir determinadas projeções. Embora tenha elevado a projeção para o déficit em transações correntes de US$ 80,0 Bi para US$ 81,0 Bi e da balança comercial reduzida de US$ 2,44 Bi para US$ 2,29 Bi, mantém conservadoramente a projeção de R$ 2,40 para o dólar ao final do ano, ante um cenário prospectivo que sugere que o volume de saída de recursos do país deva ser bem mais do que os ingressos.
Reduz a projeção para o crescimento do PIB de 0,28% para 0,27% e a retração da indústria de 2,16% para 2,24%.