Meu objetivo com esta carta é simplificar ao máximo o mercado financeiro, para você investidor ter as noticias sem o famoso "tecniquês" e que seja de uma forma simples de ser interpretada.
Julho foi o mês em que os agentes de mercado começaram a vislumbrar uma luz em meio às incertezas do ambiente externo, com dados sugerindo uma convergência do cenário econômico, especialmente nos Estados Unidos, embora o panorama para agosto permaneça conturbado. Estimulados por uma postura um pouco mais dovish por parte dos dirigentes do FED após o FOMC de junho, o mercado iniciou o mês com algumas correções nas taxas de juros, refletindo o aumento da probabilidade de corte em setembro.
O primeiro dado que trouxe essa perspectiva foi o Payroll, que indicou criação de vagas acima do esperado. No entanto, as revisões baixistas dos dois meses anteriores (-111 mil) e a elevação da taxa de desemprego de 4,0% para 4,1% sugeriram uma desaceleração. Dada a importância que os dirigentes do FED têm atribuído ao mercado de trabalho em discursos recentes, o mercado entendeu que o emprego nos EUA está se aproximando de um ponto de convergência.
Quanto aos dados de inflação, as surpresas baixistas também sugeriram uma melhoria no equilíbrio econômico. O CPI de junho recuou 0,06%, enquanto o núcleo avançou 0,06% na comparação mensal. Além disso, o supercore, que é o núcleo de serviços excluindo habitação, passou de -0,04% MoM para -0,05% MoM, indicando uma desagregação nessa desaceleração. Apesar dos dados positivos, no final do mês, um aumento inesperado na taxa de juros do Japão, aliado a um discurso mais dovish de Powell, causou incertezas no mercado, desencadeando um movimento de risk-off para agosto.
Contrariando a maioria das expectativas de que o Banco do Japão manteria as taxas de juros, o comitê optou por elevar a taxa principal do país em 15 bps, para 0,25%. A principal motivação para esse ajuste pontual foi a desvalorização massiva do Iene desde 2023. Após a decisão, o Iene valorizou cerca de 2,6% até o final de julho, reduzindo o apetite global por ativos de risco. Para consolidar esse cenário de risk-off, o FOMC de 31 de julho trouxe uma perspectiva dovish ao considerar plausível um corte em setembro, caso o cenário não se altere substancialmente. Além disso, Powell comentou que o comitê já discutiu cortes na reunião, embora a decisão de manter o nível atual tenha sido unânime. Esse cenário, aliado à preocupação com uma possível inflexão no mercado de trabalho norte-americano, deixou os agentes cautelosos ao montar suas posições, delineando um clássico cenário de risk-off para agosto.
Por fim, vale destacar os desdobramentos das eleições norte-americanas, que devem ganhar cada vez mais relevância para os preços de mercado. Em 13 de julho, o candidato à presidência pelo partido republicano, Donald Trump, sofreu uma tentativa de assassinato durante um comitê eleitoral na Pensilvânia. Esse evento aumentou significativamente a popularidade do candidato, e as casas de apostas começaram a precificar sua vitória contra o então candidato Joe Biden como majoritária. Após o avanço de popularidade de Trump e muitas críticas dos financiadores do partido democrata a Biden, Biden renunciou à candidatura, passando automaticamente o bastão para sua vice, Kamala Harris. Embora a candidatura de Harris ainda precise ser aprovada na convenção democrata, que acontecerá entre 19 e 22 de agosto, não há muitos indícios de que ela perderá a nomeação. Esse movimento reacendeu a competitividade nas eleições, inaugurando uma nova corrida, agora mais aberta e sem perspectivas claras de um vencedor. Quanto às estratégias, Trump deve focar no público conservador do interior dos EUA e nos Swing States, enquanto Harris pretende concentrar sua campanha no público jovem, onde os democratas enxergam um potencial significativo de votos.
O ambiente doméstico continua enfrentando desafios devido à deterioração do mercado cambial e das expectativas de inflação, o que tem pressionado o Banco Central do Brasil nos últimos meses. No entanto, quando se analisa a situação econômica atual do país, os dados não apontam para problemas evidentes.
A atividade econômica permanece resiliente, apresentando surpresas positivas nos dados de maio, que já consideram os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul. Além disso, o mercado de trabalho tem sido a maior surpresa, com a taxa de desemprego atingindo 6,9% em junho e uma perspectiva de crescimento dos salários, o que tem contribuído para a desancoragem das expectativas de inflação para os próximos dois anos.
No âmbito político, a discussão mais relevante do mês foi a possibilidade de cortes nos gastos, uma vez que os resultados fiscais recentes colocaram em xeque o cumprimento da meta de déficit zero estipulada pelo arcabouço fiscal. Em resposta, o Ministério da Fazenda anunciou um contingenciamento de gastos, totalizando R$ 15 bilhões, dos quais R$ 11,2 bilhões foram bloqueios orçamentários e R$ 3,8 bilhões de contingenciamento. Isso sugere que o governo está se esforçando para manter as regras fiscais vigentes.
Em relação à inflação, a leve piora do IPCA-15 de julho gerou algumas dúvidas sobre o processo de desinflação no país. O índice registrou alta de 0,30% MoM (acima da expectativa de 0,23% MoM), com uma composição desfavorável, especialmente pelo agravamento dos serviços subjacentes. A incerteza no processo de desinflação, aliada à depreciação cambial, tem impactado negativamente as expectativas de inflação, que foram revisadas para cima ao longo do mês, aumentando a especulação sobre uma possível reação do Copom.
No último dia do mês, o Copom optou por manter a taxa SELIC inalterada em 10,50%. Embora essa decisão fosse amplamente esperada, o mercado aguardava um posicionamento mais firme sobre a piora das expectativas de inflação e algum sinal sobre a possibilidade de aumento dos juros nos próximos meses, o que não foi abordado no comunicado. Como resultado, o mercado interpretou o documento como dovish, por não ter sido tão severo quanto o esperado, considerando a perspectiva negativa mencionada anteriormente. Mantemos nossa projeção de SELIC em 10,50% para 2024 e 9,50% para 2025. Para o IPCA, esperamos que o índice encerre o ano em 4,4% e atinja 3,7% em 2025. Quanto ao PIB, projetamos um crescimento de 2,1% em 2024 e 2,0% em 2025.