O momento de divulgação de resultados trimestrais das empresas sempre movimenta o mercado. Afinal, se compararmos os investimentos em ações com uma safra, agora seria o momento da colheita.
Mas se há uma coisa que desperta dúvida nos investidores é o fato de que, mesmo que tenham divulgado bons resultados, nem sempre o comportamento posterior das ações reflete esses números.
Alguns atribuem esse comportamento ao famoso “compre no boato, venda no fato”, levando a crer que as ações podem subir pela expectativa de bons resultados, e voltar a cair quando esse fato se concretiza.
É comum se perguntar por que uma ação está caindo, apesar de fundamentos muito bons. Existem muitas razões pelas quais o preço das ações de curto prazo diverge dos fundamentos de longo prazo. Hoje quero te mostrar as 4 principais.
1 – EXPECTATIVA x REALIDADE
O que os investidores buscam dia após dia é encontrar assimetrias entre preço e valor. Ou seja, ao projetar resultados futuros e trazê-los a valor presente, identificar se uma ação está barata ou não.
Uma das características que ajuda nessa análise e traz credibilidade ao mercado de ações diz respeito à obrigatoriedade das empresas em divulgar seus resultados trimestrais.
O lado positivo, por óbvio, é a transparência que permite aos investidores poder analisar profundamente qualquer empresa de capital aberto a cada 3 meses.
Mas existe também o outro lado da moeda: exatamente o fato de ser um prazo muito curto entre a divulgação dos resultados acaba fomentando a construção de expectativas que muitas vezes não conseguem ser precisas.
E assim, mesmo que a empresa tenha divulgado números positivos, com lucros crescentes e aumentos nas margens, por exemplo, o mercado pode corrigir esse ativo pois esses mesmos números eram esperados ainda melhores. Ou seja, os resultados vieram abaixo das expectativas.
O mesmo pode ocorrer também com uma empresa deficitária, que mesmo assim pode subir depois de divulgar seus resultados com prejuízo, caso eles tem vindo não tão ruins quanto se esperava. Em resumo, no curto prazo o mercado se ajusta às expectativas futuras conforme elas vão sendo reveladas.
2 – DISCORDÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
É natural que as companhias, além da divulgação dos resultados trimestrais, exponham ao mercado seus principais planos futuros, para que os investidores entendam seu planejamento estratégico e sua visão de mercado.
Essa orientação futura traz detalhes da visão que os gestores possuem sobre o negócio, bem como seus principais desafios e como a companhia irá encará-los.
Nesse caso, trata-se de uma análise mais qualitativa do que quantitativa, mas que possui igualmente importância na construção de expectativas. Ou seja, dependendo das ações futuras que a gestão da companhia pretende tomar, os analistas e investidores podem ficar mais otimistas ou mais pessimistas.
3 – CENÁRIO POLÍTICO E FISCAL
As externalidades também podem ajudar a travar o preço de uma ação ou de um mercado inteiro, mesmo que ela esteja apresentando bons resultados.
É o que vem ocorrendo no Brasil. No campo político, os ânimos estão cada vez mais acirrados. O evento mais recente é o embate do Executivo com o STF. Esses atritos causam aos investidores insegurança institucional e jurídica, levando-os a fazer suas malas porque não irão pagar para ver. Adicionalmente, as expectativas fiscais do Brasil se deterioraram muito nas últimas semanas. Abaixo você pode comparar as projeções de nossa dívida em relação ao PIB em Outubro do ano passado e as projeções em Julho desse ano.
4 – MUDANÇA NA TAXA DE JUROS
Vivemos um viés de alta nos juros. Levando isso em conta, precisamos saber que a taxa de juros possui uma influência uma grande no preço das ações, mesmo que os fundamentos dessas empresas sejam excelentes. E existem duas razões que tornam essa variável tão relevante.
A primeira delas diz respeito à metodologia de valuation das empresas, e a principal delas é o fluxo de caixa descontado. Os analistas projetam resultados futuros das companhias e trazem esses resultados a valor presente, desconto a taxa de juros. Ou seja, quanto mais alto os juros, menor será o valuation projetado das empresas.
A segunda razão se dá no conceito de custo de oportunidade, que se trata do “valor” que você renuncia ao tomar uma decisão em detrimento de outra decisão.
Como investidor, você pode não estar pronto para assumir o risco de investir em ações quando pode obter uma boa valorização do seu dinheiro em outro lugar, sem qualquer risco. Abaixo podemos comparar a curva de juros atual (em laranja) e a curva de juros há um ano. Houve um aumento substancial nas expectativas futuras de aumento nos juros, e tais expectativas influenciam diretamente nos dois fatores que citei acima.
CONCLUSÕES
Podemos encontrar muitos outros motivos para explicar porque as ações caem mesmo quando divulgam bons resultados trimestrais. Entretanto, o mais importante é entender que a maioria desses fatores são ruídos.
Nesse momento, o investidor precisa estar convicto de suas posições, lembrar porque investiu naquela companhia e seu horizonte de investimentos.
Lembre-se que você pode ver a volatilidade como uma aliada. Se mesmo com boas notícias e um bom balanço uma empresa estiver amargando quedas, isso pode significar não um problema, mas sim uma oportunidade.
Pode ser a hora de aproveitar que o mercado está momentaneamente “decepcionado” com determinado ativo para comprar e aumentar sua posição a um preço mais baixo, ao invés de vende-lo a preços de banana.
E você? Quais empresas considera que estão muito descontadas, mesmo que com bons resultados? Deixe aqui nos comentários Abraços e até o próximo artigo!