O 3T19 começou muito positivo.
As companhias veem melhora no cenário e começam a apresentar resultados mais positivos em seus negócios.
Mas a análise precisa ser muito mais específica do que isso. Mesmo com economia acelerando, sempre teremos ganhadores e perdedores.
O mercado sempre funciona com expectativas – e muito já está embutido nos preços atuais.
O preço, o Grande, Magnânimo preço, é sempre a variável de ajuste – é ele que determina nossas probabilidades de sucesso em nossos investimentos.
E é frente a frente com os números, nus e crus, que podemos entender melhor o que, efetivamente, vem acontecendo nos negócios. Somente olhando a qualidade dos números entendemos a verdade dos negócios.
Analisar empresas nada mais é que encontrar os riscos que te deixam confortável. Encontrar os riscos que você gosta de correr.
E, hoje, não gostamos dos riscos que nos apresentam.
Cielo (SA:CIEL3) – não pegue a faca caindo
Comentamos diversas vezes, nesta newsletter, sobre o que vem acontecendo com Cielo (SA:CIEL3) – e todas as notas estão, à sua disposição, em nosso site.
Mas, para a Cielo (SA:CIEL3), infelizmente, nada novo. O mercado de adquirência se provou commoditizado (não há barreira de entrada) e está sob intenso ataque bárbaro – os competidores surgem aos montes.
Nunca é óbvio, nunca temos certeza absoluta, mas, a única salvação de Cielo (SA:CIEL3) é encontrar um novo negócio para diversificar seus resultados.
A dinâmica de resultados de Cielo (SA:CIEL3), no 3T19, permanece:
No 3T19, volume com alta interessante de +12 por cento, mas receita líquida -6 por cento, Ebitda -37 por cento e lucros -52 por cento.
Cielo (SA:CIEL3) foca em segurar seu mercado, mesmo sofrendo forte redução de margens
O preço das ações, como era de se esperar, seguem o movimento, ao sul, dos resultados:
Números abaixo do esperado pelos analistas, loucos, que ainda recomendam a compra das ações.
Cielo (SA:CIEL3) pode, sim, se reinventar. Mas o risco de comprar as ações apostando que, lá na frente, Cielo ganhará dinheiro com um negócio que ainda não possui é elevado demais.
A 10x lucros e 9x Ebitda, com ambos caindo rapidamente e caindo apenas -6 por cento em 2019, para o Investidor de Valor, Cielo (SA:CIEL3) é um alto risco alto demais para seu patrimônio – continuamos, apenas, observando.
Duratex (SA:DTEX3) – Não há Mágica
Duratex (SA:DTEX3) falha em nosso teste primário; a primeira coisa que olhamos em um negócio; nossa definição do que é um bom negócio.
Duratex (SA:DTEX3) não tem rentabilidade sobre o patrimônio (ROE) – seus controladores entendem isso e vem redirecionando o negócio – Duratex investe em cerâmica e vende ativos florestais.
O movimento é positivo, mas ainda não deu resultado, o ROE recorrente de DTEX foi de 2,6 por cento no 3T19 – o caminho será longo.
Com a mudança nos negócios, Duratex (SA:DTEX3) faz uma infinidade de ajuste em seus números (temos resultado, ajustado e recorrente, não caixa, …) é uma salada mista de números que dificulta a análise.
No 3T19, receita líquida -14 por cento, Ebitda +14 por cento e lucro - 51 por cento.
Mesmo olhando o ajustado e recorrente, resultado abaixo do esperado pelo mercado. Queda das exportações e gastos com a incorporação da Cecrisa (cerâmica) pesaram nos resultados.
Mas, segundo reportagem do Valor, as perspectivas são “levemente positivas”. A companhia vê melhora moderada de volumes e margens no 4T19.
DTEX sobe +11 por cento em 2019 e negocia a 8x Ebitda e 26x lucros – patamar bastante razoável para os resultados que apresenta.
O desafio de DTEX é parar de investir em negócios não rentáveis e migrar seu capital para nichos que agregam valor. O caminho é longo e árduo, até lá, ficamos apenas observando.
Magalu – Mais Receita, Menos Margem
Avaliar os resultados do varejo, especialmente em 2019, com a nova regra contábil (IFRS16) e os ganhos não-recorrentes de impostos (PIS/Cofins) está dificílimo.
E vemos muita gente tropeçar ao analisar os números (inclusive nós mesmos). Faz sentido incorporar os ganhos com o IFRS (que vale para todas as empresas), mas o ganho com impostos não acontecerá novamente.
E a famosa Magazine Luiza, ou Magalu (SA:MGLU3), vem com resultados bastante impactados pelos dois efeitos – e a companhia faz um belo trabalho retirando os números para nossa análise.
Magalu vem crescendo forte em seu canal digital e ganhando participação de mercado mas, para isso, vem entregando margens.
No 3T19, vendas totais +47 por cento, receita líquida +33 por cento, Ebitda (sem IFRS e PIS/Cofins) +7 por cento e lucro +13 por cento.
Bons resultados. Se somamos o IFRS no Ebitda (97 milhões de reais) teríamos crescimento de +42 por cento no Ebitda.
Mas, com o crescimento do marketplace (3P) e do e-commerce (1P), as margens da companhia vem caindo – margem Ebitda ajustada caindo -1,5 p.p. e margem de lucro ajustada caindo -0,5 p.p.
Estaria Magalu se tornando uma Amazon (NASDAQ:AMZN), dominando o mercado de e-commerce e esquecendo-se de ganhar dinheiro no processo? E como seria a vida de Magalu com o aumento da competição de Via Varejo (SA:VVAR3) e Amazon?
Não sei. Mas o mercado está bastante otimista e paga na frente – ao preço atual, o mercado assume que Magazine voltará a elevar margens após dominar o e-commerce (o que não aconteceu com Amazon (NASDAQ:AMZN)).
Magalu já negocia a elevados 41x Ebitda e 103x lucros, um pouco salgado demais para o conservadorismo do Investidor de Valor.
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