Vivo (SA:VIVT4) apresentou um resultado bom na minha opinião. Mesmo com todos os desafios que a Covid-19 trouxe, ela conseguiu apresentar um resultado bastante defensivo e está crescendo em segmentos que eu vejo com muito bons olhos.
Porém, antes de adentrar nos resultados, vamos conhecer um pouco da Vivo!
QUEM É A VIVO?
Vou tentar ser breve: a Vivo já tem muitos anos de estrada. Tudo começa em 1972, quando a Telebrás, através de suas subsidiárias, adquiriu quase todas as empresas telefônicas do Brasil e se tornou um monopólio na prestação de serviços públicos de telecomunicações.
Em 1998 a Espanhola Telefónica adquiriu a recém privatizada Telesp, a Companhia Telefónica da Borda do Campo e as centrais telefônicas de Ribeirão Preto, formando a Telefónica Brasil.
Depois disso, na Telebrás, aconteceu uma cisão (separação) de determinadas operações. No ano de 2000, a ex subsidiária integral, Telefônica Empresas S.A., foi criada com o proposito de fornecer serviços de rede Comutada de Pacote. Em 2004 aconteceu a aquisição e reestruturação da Atrium.
Pulando alguns anos que não interessam tanto assim, em 2010 (na reestruturação da parte societária envolvendo a Vivo Part e a Companhia) a Telefónica (a espanhola) chegou a um acordo junto com a Portugal Telecom para adquirir 50% do capital social restante da Brasilcel. Como resultado da transação, a Telefónica passou a deter 100% do capital social da Brasilcel.
Só que, naquela época, a Brasilcel detinha cerca de 60% do capital social da Vivo Participações. Então, em 2011, a Telefónica, através da sua controladora, lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) das ações ordinárias da Vivo Participações e, como resultado, passou a deter, naquela época, cerca de 62% do capital social da companhia. Hoje a estrutura societária se encontra assim:
QUADRO DE DESTAQUES
Agora vamos para a parte que todo mundo gosta!
Tudo bem, não é muito bem um quadro, mas tem muita informação bacana. Destaques para FTTH (Fiber To The Home) que cresceu o número de clientes em 30% ano contra ano e com 175 mil adições líquidas no 1T20.
Pós pago cresceu 6,6% e representa quase 59% do total de acessos móveis com market share de 39% em 2020, líder no segmento. O market share total do segmento móvel está em 33%, quase 9p.p. a frente do segundo colocado.
Além dos impactos da Covid-19, a Vivo teve uma base de comparação mais dura por conta do reajuste de preço antecipado nos planos de controle que aconteceram em 2019. Logo, o crescimento da receita do segmento móvel ficou 0,1% no ano contra ano. Já no FTTH, as receitas atingiram R$ 626 milhões, alta de 43% ano contra ano e já representam 42% das receitas de BL (banda larga).
Soma-se a isso o crescimento das receitas do segmento fixo (BL Fibra ou FTTH, IPTV, Dados Corporativos e TIC – Tecnologia da Informação e Comunicações), que cresceram 13% a/a e representam 54,6% da receita fixa.
Acho que vale especificar como a Vivo ganha dinheiro, quais são os seus segmentos e como cada um pesa no resultado. Para começar, ela quebra a receita em dois segmentos: Receita Móvel e Receita Fixa.
Dentro desses segmentos, existem sub-segmentos:
Receita Móvel
- Dados e Serviços Digitais: representaram 74% da Receita Móvel e 47,9% das Receitas Totais em 2019.
- Voz (Telefone Móvel): representaram 16,6% da Receita Móvel e 10,7% das Receitas Totais em 2019.
- Receita Líquida de Aparelhos (Venda de aparelhos nas lojas da Vivo): representaram 9,4% da Receita Móvel e 6,2% das Receitas Totais em 2019.
Receita Fixa
- FTTH (Fiber To The Home ou Fibra Para Casa): representaram 36,7% da Receita Fixa e 13% das Receitas Totais em 2019.
- IPTV (TV por Assinatura via IP): representaram 11,8% da Receita Fixa e 4,1% das Receitas Totais em 2019.
- Dados Corporativos e TI (Nuvem, serviços financeiros e de segurança): representaram 17,5% da Receita Fixa e 6,1% das Receitas Totais em 2019.
- Voz (Telefone Fixo): representaram 34% da Receita Fixa e 12% das Receitas Totais em 2019.
Acho que deu para entender que FTTH e Dados/Serviços digitais têm um peso grande nas Receitas Totais, né? E, de fato, são os pilares em que a companhia acredita para sustentar o seu crescimento para os próximos anos.
Voltando para os resultados, na parte de Custos e Despesas, no meu ver ficou tudo “ok”.
Os custos operacionais praticamente ficaram estáveis com leve queda. Custo de pessoal aumentou devido à internalização de algumas atividades estratégicas de TI e segurança com objetivo de continuar funcionando. E eu testei, meus amigos. Eu tirei o final de semana para ligar e tentar comprar um combo do Vivo Fibra, não tive problema nenhum ao tentar contratar o serviço e inclusive disponibilizaram o técnico no mesmo dia para ir à minha residência instalar (achei bem bacana).
Custo de Mercadorias Vendidas teve uma redução de quase 17% por conta de uma menor atividade devido à Covid-19. E notem que “Outras Receitas” cresceram em 416%. Isso ocorreu por conta de uma venda de torres e rooftops no 1T20.
A companhia apresentou um Ebitda de R$ 4,431 milhões, com crescimento de 1,6% graças a medidas tomadas em trimestres anteriores que resultaram num ganho de eficiência. Vale ressaltar que a Margem Ebitda do 1T20 encerrou em 40,9% (1,2p.p. acima do 1T19).
Já no Lucro Líquido, a companhia entregou R$ 1,153 milhão de lucro, mas que foram 14,1% menores na comparação anual. O que aconteceu foi que na comparação anual a Vivo teve uma despesa com impostos mais alta nesse trimestre, maiores gastos com depreciação (devido a uma base maior de ativos relacionados à expansão da rede de fibra) e um gasto maior com suas despesas financeiras.
Por fim, sobre seu endividamento: parece-me bem controlado, pois mesmo com cerca de 60% sendo de curto prazo, a companhia possui caixa líquido positivo para honrar com suas obrigações.
MENOS TELEFONE, MAIS INTERNET
Vou abordar rapidamente um pouco da minha tese e porque eu acho o case de Vivo interessante para os próximos anos.
Vivo é disparada a melhor do setor e possui um Market Share relevante. Mas aconteceu algo no setor que pode flexibilizar muito a vida das companhias de Telecom (que já são poucas no Brasil). A PLC 79 flexibiliza um monte de chateação que as companhias de comunicação eram obrigadas a continuar oferecendo, custos que eram desnecessários agora passam a ser redirecionado para segmentos que possam fazer mais sentido.
A PLC 79 permite às concessionárias de telefonia fixa migrar para o regime privado. Isso reduz os encargos dessas empresas, que, ao migrarem, têm suas obrigações mantidas, mas agora com uma liberdade maior para venda de ativos, além dos serviços deixarem de ter o controle tarifário.
Logo, é isso mesmo que você deve estar pensando. Menos pagamento para o governo e mais desenvolvimento desse setor, podendo haver fusões nos próximos anos de grandes provedoras com regionais para cortar o caminho. Todavia, devemos ver algum efeito real da PLC depois de um ano e meio, isso porque a lei depende da regulamentação da Anatel.
Mas, na minha opinião, essa nova lei abre um caminho muito positivo para o setor e deixa mais otimistas os investidores que acreditam que, nos próximos anos a internet, 5G, IoT, M2M (Machine-To-Machine) e outras tecnologias irão dominar o mercado.
Para se ter ideia, a penetração do UBB (Ultra Banda Larga) no Brasil é ainda baixa e tem um potencial muito grande pela frente.
Para os próximos anos é de se esperar um aumento nesse segmento e a Vivo já está correndo atrás via parcerias, como a recente feita com a American Tower oferecendo conectividade via Vivo Fibra para casas. Ou via franquias pela marca Terra, procurando atingir cidades ou locais nos quais ela ainda não atua com UBB.
MEU OUTLOOK PARA VIVT4 (SA:VIVT4)
Como já dito anteriormente, a questão da PLC pode destravar muita coisa boa para a companhia, além de abrir novas oportunidades para explorar com mais tranquilidade.
Soma-se a isso o fato da Vivo ser líder no setor, ter uma boa geração de caixa, quase/nenhum endividamento e estar investida em segmentos que fazem sentido para os próximos anos. Inclusive, o novo plano pós-pago da companhia, o Vivo Selfie, é tão bom que provavelmente deve fazer os outros concorrentes se mexerem. Esse plano pode ser individual e familiar, sendo o seu ponto forte as parcerias que fechou com grandes nomes como Spotify (NYSE:SPOT), Netflix (NASDAQ:NFLX) e Rappi.
E seu valuation? Bom, na minha humilde opinião, para quem é o premium do setor, parece bem atraente.
Vivo está negociando um pouco abaixo da média do setor (TIM(SA:TIMP3) e players do setor americano) com 20x lucros para 2021 e 5,5x EV/Ebitda para 2021. Com 1,1x P/VPA, detalhe que ela é uma companhia que possui muito patrimônio em vista toda a infraestrutura necessária para ela manter suas operações. Além disso, entrega um dividendo razoável na casa dos 5-6% de yield por ano, que numa Selic a 2,25% a.a. já é bem atraente. Outro detalhe é que eu comparei com o setor americano e coloquei 0 crescimento tanto para esse ano quanto para ano que vem e, mesmo ela “não crescendo”, continua barata na minha opinião.
Logo, sendo ela a premium do setor, acho que tem condições de valer R$ 60,00 (faixa azul da tabela) e negociar com múltiplos mais em linha com a média do setor.
Era isso, valeu!