O resultado teve altos e baixos mas, no geral, eu diria que foi ok. Obviamente, a covid-19 trouxe impactos para a companhia e para o seu setor de atuação. Mas eu vi pontos positivos mesmo com esse impacto e a administração da companhia soube passar o atual cenário da empresa com clareza.
Acho válido comentar que eu já escrevo sobre a companhia desde o 1T19.
E o William já tinha escrito sobre ela também em 2018.
BAAAH, TCHÊ, É TRISUL!
Não sou gaúcho, me desculpem a apropriação, mas eu gosto bastante dessa expressão (meu carinho pelo sul do país é imenso) e esse quadro ainda merece comemoração!
Lucro Líquido cresceu 17% vs. 1T19, com uma melhora de Margem Líquida (melhorando a eficiência da sua rentabilidade em vendas) de 3,5p.p. ante 1T19. Queda no volume de Vendas, mas um VSO (Valor Sobre Ofertas) de 19%, um bom indicador mesmo com um trimestre bem mais desafiador por conta do covid, e manteve um Landbank robusto com VGV Trisul (SA:TRIS3) (Valor Geral de Vendas) de R$ 5,5 bilhões.
Acho sempre bom deixar bem explicadas algumas métricas, porque nem todo mundo é obrigado a saber de cabeça o que é o VSO ou o VGV. O VSO, de forma de resumida, mede a velocidade de vendas da companhia, e o VGV (Valor Geral de Vendas) é a soma do valor potencial de vendas de todas as unidades de algum empreendimento. É um termômetro para saber mais ou menos quanto de receita poderia ir para a companhia.
Agora voltando ao resultado. Essas melhoras observadas só reforçam a boa entrega que a companhia tem feito nos últimos anos e compensam o fato da mesma não ter feito nenhum lançamento no trimestre.
Olhando para as obras concluídas, vemos que a companhia chegou a um VGV total de R$ 272 milhões, sendo R$ 229 milhões VGV Trisul e com dois empreendimentos totalmente vendidos.
Já sobre o endividamento da companhia, a mesma encerrou com caixa líquido positivo de aproximadamente R$ 100 milhões.
COVID, QUAIS OS IMPACTOS?
Se fosse para dar a minha opinião de forma resumida, até o momento, a companhia tem se saído bem.
É claro que as vendas como um todo, não só do setor de construção, mas da economia no geral foram impactadas pelo covid-19. Mas a empresa cita que os seus canais online estão de prontidão e tendo procura.
Em relação a distrato, segundo a própria companhia, não houve nenhum até o momento e é algo que está no radar sendo observado a todo o tempo. A inadimplência começou a aparecer um pouco (infelizmente não abre o quanto foi), mas, segundo a empresa, ainda está muito baixa.
De fato, pelo o que a companhia abriu em teleconferência, até o mês passado tinha cerca de 85 clientes com renegociações já feitas e 35 novos clientes com renegociações sendo analisadas. Isso dá 120 clientes num total de uma carteira de 4mil… o que é realmente muito pouco. Esse número pode vir a aumentar? Pode, mas a companhia já está ciente disto e está tomando todas as providências em relação a esse momento desafiador.
Vamos falar de novos lançamentos…
Estão aguardando a reabertura dos plantões a clientes e estavam com três lançamentos para o primeiro trimestre que tiveram de ser suspensos (não fizeram suspensão do guidance oficialmente ainda também). Tudo indica que as retomadas de lançamentos ficaram para o segundo semestre de 2020 e, mesmo assim, ainda é um difícil de ter certeza. Até lá, a companhia vai continuar com recebíveis de vendas que ainda estão acontecendo de empreendimentos prontos e possui um caixa robusto para enfrentar essa tempestade.
A companhia parou suas atividades?
Aqui está um ponto bem interessante e que me deixou tranquilo em relação ao case no momento. O cenário está desafiador e estamos falando de um setor cíclico que depende de a economia ir bem e das pessoas estarem dispostas a comprar um apartamento.
A companhia não parou suas atividades. Suas obras estão passando por medidas rigorosas, mas continuam trabalhando a todo vapor. Inclusive, uma das preocupações era como ficariam os repasses paras os bancos.
Os repasses estão acontecendo, estão entregando dois empreendimentos. No final de março, houve um pouco de reorganização operacional por parte dos bancos e houve um pequeno “delay” na emissão dos contratos de repasse.
Mas hoje, segundo a empresa, está funcionando próximo do normal. Estão assinando os repasses, conseguindo dar entrada do registro nos cartórios dos imóveis (que hoje já estão operando com o protocolo online, você digitaliza e manda para registro tudo certinho).
Além disso, assinaram, durante esse período de quarentena, contratos novos de financiamento de obras, obras que tinham sido lançadas no final do ano passado e que já vinham contratando o financiamento para produção. Os contratos foram emitidos pelo banco e enviados sem nenhum tipo de problema.
Alguns bancos estão até abrindo exceções e fazem a liberação dos recursos apenas com o protocolo do cartório. Antes, você tinha que entregar a escritura registrada. Ainda por cima, existe a opção de o “motoboy” ir até o cliente, pegar a assinatura e levar de volta para a companhia (estão realmente tentando dar jeito para tudo).
Por fim, a Trisul deixou claro que suas linhas de créditos não foram afetadas. Efetuaram uma captação de R$ 70 milhões com prazo de 30-36 meses para reforçar ainda mais suas condições neste período adverso e para possivelmente participar de alguma boa oportunidade que possa surgir.
MEU OUTLOOK PARA TRIS3
Confesso que o cenário é mais desafiador para a companhia, confesso também que fico receoso em relação ao andar da nossa economia interna e, os planos de recuperação ficam cada vez mais distantes (não quero desanimar ninguém, mas é a verdade).
Porém, esse resultado mostrou que a Trisul ainda não foi completamente impactada e parece estar fazendo um bom trabalho para se segurar. O que me deixa tranquilo em relação ao case é o fato dela ter apresentado um VSO bom mesmo com um volume de vendas menor, possuir um Landbank bem maior que em comparação ao ano passado, possuir caixa líquido positivo para capturar possíveis oportunidades e ter quase que uma boia de salva-vidas se a tempestade piorar.
Continuo achando seu valuation atrativo, mesmo com um cenário bem mais desafiador:
Trisul está negociando a 6,3x lucros para 2020 e 7,6x EV/EBITDA, com ROE de 12x e ligeiramente abaixo do seu valor patrimonial. Enquanto a média do setor está negociando a 11,4x lucros e 12x EV/EBITDA… Acho que, pelo resultado, a companhia mostrou-se bem posicionada para enfrentar as adversidades desse novo cenário. Mas sugiro cautela se for se expor ao setor, pois, como disse anteriormente, é um setor que depende da economia ir bem.
Além disso, o EV/EBITDA histórico da companhia continua abaixo de 1 desvio-padrão:
Sendo assim, acho que seria justo a companhia negociar na faixa azul da minha tabela, que no caso seria R$ 10.
Era isso, valeu!