PIB seria uma rima
Sete faces
Em debate com Arminio Fraga e Gustavo Franco pela manhã, o ministeriável Henrique Meirelles palestrou:
"Mesmo que a curto prazo tenhamos que ver um aumento de impostos (…) olhando à frente, vamos precisar endereçar uma inversão da trajetória de dívida e da carga tributária brasileira”.
Como se pode notar, trata-se de opinião absolutamente trivial. Eu também poderia dar palestra para falar essas coisas.
O grande lance é: como fazer?
Há um enorme bode dificultando a composição de superávit primário.
Todos os últimos aumentos de impostos vieram junto à promessa de corte posterior da carga tributária, e isso NUNCA aconteceu (pra ser justo, só quase aconteceu com Dilma, da maneira mais equivocada possível).
Você acredita em duendes?
De duas, uma é falsa
A intolerância popular e parlamentar ao aumento de impostos pode parecer indisciplinada num momento em que vale todo tipo de sacrifício para fazer superávit.
Mas não vejo indisciplina aqui. Ao contrário: acho essa intolerância saudável.
Não fosse ela, repetiríamos infinitamente o mesmo erro, atingindo uma carga tributária de 110% do PIB.
Dada a rigidez tributária, restam duas soluções:
1. Aumentar a arrecadação via aumento do PIB.
2. Desvincular e cortar gastos públicos.
Você tem que torcer pela segunda, pois a primeira é uma farsa (!).
Viciados em PIB
Em poucos minutos, descartei a hipótese de elevação de impostos e torci o nariz para aumento do PIB.
É fácil criticar carga tributária; ninguém gosta de pagar impostos.
Mas um aumento do PIB não seria bom?
Não exatamente, pois também implica repetir o mesmo erro ad infinitum.
Quando o PIB cresce no Brasil, gera uma impressão fugaz de melhora das contas públicas.
No entanto, o custeio governamental - amarrado ao PIB - sempre cresce junto.
Não houve melhora estrutural, percebe? Estamos apenas empurrando com a barriga até a próxima palestra do Meirelles.
Reta final
De barrigada em barrigada, chegamos ao penúltimo dia da temporada de resultados do 3T15.
Ufa! - finalmente poderemos sentar no sofá e respirar aliviados.
Em geral, as cifras foram ruins. Receitas estagnadas, forte impacto de juros, pequenos lucros e grandes prejuízos.
Isso serviu para elevar a "desigualdade de renda" entre as empresas listadas.
As poucas competentes se isolaram lá em cima, dentre as quais nossas seletas pagadoras de dividendos.
Enquanto isso, lá embaixo, Petrobras (SA:PETR4) (prejuízo de R$ 3,8 bi) agradece o companheirismo de Eletrobras (SA:ELET3) (prejuízo de R$ 4,2 bi).
Culpa do dólar
Engraçado como todos os problemas no desastroso 3T15 de Petrobras parecem se resumir ao impacto do dólar.
“Não é culpa nossa; a culpa é do dólar!”.
Uma empresa com dívida bruta acima de R$ 500 bilhões sempre vai tentar culpar os outros por suas próprias faltas.
A alavancagem de 5,2x dívida líquida sobre ebitda coloca um enorme piano nas costas das metas operacionais.
Com tanto peso para carregar, a produção fica paralisada.