Vamos para outra companhia que vem apresentando uma melhora há alguns anos. Para quem me acompanha, sabe que eu comento sobre ela desde o final de 2019!
Além disso, cheguei a comentar o 3T21 dela também.
Bons resultados levam tempo e a companhia está colhendo-os agora. Diante disso, não tinha como 4T21 ter sido diferente. Sem mais delongas, vamos ao resultado.
Coloca a carne na brasa
Fonte: Press Release JBS (SA:JBSS3) 4T21
Como é possível ver na imagem acima, a JBS cresceu receita em dois dígitos em todas as linhas. Seja no 4T21, seja no ano de 2021. Mostrando que a companhia continua com uma demanda forte e expandindo as suas operações.
Antes de adentrar no resultado operacional de fato, vamos comentar os destaques e iniciativas que a companhia veio tomando ao longo do ano de 2021. O primeiro, é a Plataforma Pecuária Transparente, ferramenta que usa tecnologia blockchain, avançando nos esforços de rastreabilidade de gado e monitoramento de toda cadeia de fornecimento até 2025 em todos os biomas brasileiros. Também já foram instalados 15 Escritórios Verdes para promover suporte técnico e ambiental para os fornecedores.
Além disso, foram 7 aquisições estratégicas anunciadas seguindo a visão de diversificação de proteínas e de geografias, totalizando $2,1 bilhões, com receita incremental de $1,9 bilhão.
São elas: Vivera, nos tornando líderes do mercado plant-based na Europa; Huon, na Austrália, iniciando nossa produção própria de pescados; Rivalea nos tornando líderes na criação e no processamento de suínos na Australia, e impulsionando o nosso negócio de produtos de alto valor agregado por meio da Primo Foods; Kerry Meats and Meals adicionando um valoroso portfólio de marcas, e vasta plataforma de alimentos preparados para as operações no Reino Unido e na Irlanda; King’s empresa de produtos de charcutaria e especialidades italianas com selo de origem protegida e de características artesanais; Sunnyvalley Smoked Meats, empresa de produtos de valor agregado com marca e BioTech empresa de carne cultivada.
Outro ponto que me chamou a atenção, foram os investimentos orgânicos e greenfields em marca e valor agregado. No Brasil, a Seara continuou seu processo de expansão e modernização em 15 unidades produtivas. Isso permitiu com que esse segmento da companhia entregasse um resultado muito bom.
Já nos EUA, por meio da Swift Prepared Foods, foram investimentos na construção de uma nova fábrica de especialidades italianas, e outra de bacon cozido. Essas iniciativas, juntamente com os resultados entregues, permitiram que Retorno Total ao Acionista (TSR) fosse de 73,6% e ROIC de 24,1% (Sendo que o ROIC dobrou em 3 anos).
Vale ressaltar que, mesmo com todas essas aquisições e investimentos, a JBS continuou com um quadro de endividamento muito saudável e agora mais alongado. Principalmente, pela emissão de bonds (que marcaram o menor spread da história para um emissor corporativo do Brasil) em novembro de 2021.
Dessa forma, a alavancagem da companhia caiu para o seu menor patamar em anos, para 1,52x em reais e 1,46x em dólar. Bastante saudável na minha opinião e detalhe, agora a companhia conta com Full Investment Grade pela Fitch e pela Moody´s.
No ponto certo
Entrando agora nos resultados operacionais da companhia.
Fonte: Press Release JBS 4T21
Só no 4T21, a companhia quase entregou R$100 bilhões em receita, um aumento modesto frente ao trimestre anterior, porém 28% acima do 4T21. Olhando para o ano, a JBS entregou pouco mais de R$350 bilhões, um crescimento de 30% frente ao mesmo período anterior.
Além disso, todos os segmentos da companhia cresceram a receita (como eu havia comentado no início do texto): Seara (+34,2%), JBS Brasil (+5,1%), JBS USA Bovinos (+38,3%), JBS USA Suínos (+14,1%) e PPC (+34,0%). 15,3 19,8
No período, cerca de 76% das vendas globais da JBS foram realizadas nos mercados domésticos (ou seja, EUA, já que 77% da receita líquida dela vem de lá) em que a companhia atua e 24% por meio de exportações.
Entrando no CPV (Custo do Produto Vendido), a companhia apresentou um crescimento de 21% em relação 4T20, o que é normal, dado que 74% do CPV é matéria-prima (que tiveram um custo maior no período e dado que ela vendeu mais no período).
Porém, mesmo com esse aumento, já que a sua receita cresceu mais no período, ela conseguiu entregar um Lucro Bruto de R$19,3 bilhões, 66,3% maior que em relação ao mesmo período anterior (com margem bruta de 19,8%, alta de 4,5p.p. frente ao 4T20).
Mais uma vez, era de se esperar que o SG&A aumentasse, afinal, ela vendeu mais no trimestre e no ano. Sendo assim, o SG&A aumentou 39,5% somente com vendas e 34% no G&A. Outro ponto que as vezes algumas pessoas não devem entender é o Resultado Financeiro.
Esse último ficou negativo em R$1,6 bilhão no trimestre. Isso acontece porque como boa parte da dívida da companhia é atrelado ao dólar, acaba por gerar juros passivos que pesam no resultado financeiro.
Fonte: Press Release JBS 4T21
Mas até aí tudo bem, já que mais de 77% da Receita da companhia está atrelada ao dólar. E você consegue perceber que o impacto é menor quando olhamos para o EBITDA Ajustado, que encerrou em R$13,1 bilhões e cresceu quase 90% em relação ao 4T20. Só no ano de 2021, a companhia entregou um EBITDA Ajustado de R$45,6 bilhões, alta de 54,5% vs 2020.
Fonte: Press Release JBS 4T21
Não obstante, o Fluxo de Caixa de Operacional da companhia foi forte. Foram R$10,3 bilhões no 4T21 (cerca de 41% da geração de caixa operacional de 2021 só no 4T21!), aumento de 50% YoY, em função da melhor performance operacional.
No ano, a geração ficou em R$25,2 bilhões, em linha com 2020. FCF, após a adição de ativo imobilizado, juros pagos e recebidos foi de R$5,9 bilhões no 4T21 (+56,8% YoY) e R$11,9 bilhões (redução de 33,4% YoY). Este último, devido a itens não recorrentes e adições ao ativo imobilizado.
Por fim, vou comentar um pouco mais detalhado o endividamento, que como eu comentei logo no início do texto, está em um patamar saudável. A JBS encerrou o 4T21 com R$23,2 bilhões em caixa.
Adicionalmente, a JBS USA possui US$2,2 bilhões disponíveis em linhas de crédito rotativas e garantidas, equivalentes a R$12,2 bilhões ao câmbio de fechamento do trimestre, o que confere à empresa uma disponibilidade total de R$35,4 bilhões, 3x superior à sua dívida de curto prazo.
Fonte: Press Release JBS 4T21
A Dívida Líquida de 2021 encerrou em R$69,3 bilhões, um crescimento de R$23,1 bilhões na comparação anual, explicado por: (i) recompras no montante de R$10,6 bilhões; (ii) M&As no valor total de R$9,3 bilhões; e (iii) R$6,3 bilhões de dividendos adicionais e antecipação.
Todavia, mesmo com esse aumento na dívida líquida, a companhia continua com o seu nível de alavancagem em um nível que eu considero saudável.
Resultados por segmentos
Vou tentar ser breve aqui. Os resultados separados por unidades são importantes para a gente entender como que cada unidade está reagindo. Uma vez que, elas estão em regiões diferentes e contribuem de formas diferentes na receita total.
Seara: No 4T21, a Seara registrou receita líquida de R$10,1 bilhões, um crescimento de 34,2% em relação ao 4T20, como resultado do aumento de volumes em 15,1% e aumento de 16,6% no preço médio de venda. Em 2021, a Seara registrou uma receita líquida de R$36,5 bilhões, aumento de 36,6% em relação a 2020.
As vendas no mercado doméstico, que responderam por 53% da receita da unidade no período, totalizaram R$5,3 bilhões, 30,7% maior que no 4T20. A categoria de produtos preparados manteve a tendência de crescimento e registrou um aumento de 5% no volume e de 10,8% no preço médio de venda (Ex-margarinas).
Mesmo diante de um cenário mais desafiador ao final do ano, a campanha de Festivos foi bem-sucedida, com crescimento de 24% nos kits vendidos na comparação anual e contribuindo positivamente para os resultados. No ano, a receita líquida foi de R$18,3 bilhões (+36,6%). A categoria de produtos preparados registrou aumento de 4,4% em volumes e 18,3% em preços na comparação anual.
No segmento de congelados, a marca Seara completou 30 meses e é líder do setor, com quase 30% de market share neste segmento e ampliando sua vantagem em 10p.p. em relação a segunda colocada no ranking.
No 4T21, o cenário para os custos de produção, especialmente o da ração, se manteve desafiador, tendência observada ao longo do ano. Segundo dados da ESALQ, o custo médio do milho cresceu cerca de 15% atingindo o patamar de R$87/saca. No ano, o milho cresceu 56% comparado a 2020, enquanto o farelo de soja apresentou um crescimento de 31% no mesmo período.
Porém, esse aumento tem sido compensado pelo repasse de preços aliado a um melhor mix de mercados, canais e produtos, além do foco da gestão da Companhia em eficiência operacional. Com isso, o EBITDA ajustado atingiu R$1,1 bilhão, com margem de 11,2% no 4T21 e EBITDA ajustado de R$3,9 bilhões e margem de 10,6% em 2021.
JBS Brasil: No 4T21, a JBS Brasil registrou uma receita líquida de R$14,1 bilhões, crescimento de 5,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, apesar da redução de 3% no número de bovinos processados no período, explicado pelo cenário de escassez de matéria prima e pela suspensão temporária das exportações brasileiras para China, ocorrida no início de setembro com término em meados de dezembro.
Apesar do crescimento de receita no período, a margem do negócio foi impactada pelo aumento do custo de produção, notadamente no preço médio de aquisição do boi, que segundo dados publicados pelo CEPEA-ESALQ, cresceu cerca de 35,1% no período e pela suspensão temporária da China.
Por outro lado, a JBS seguiu com a estratégia de: (i) impulsionar o portfólio de valor agregado, trazendo novos cortes e soluções aos consumidores, como os produtos porcionados; (ii) aumentar o número de clientes-chave, principalmente com elevado nível de serviço por meio do Açougue Nota 10; (iii) trabalhar as marcas junto aos consumidores, com destaque para Maturatta e Friboi; (iv) manter o foco em eficiência operacional e execução comercial; e (v) diversificar o volume exportado para países que já está presente, como Indonésia, EUA e Israel.
JBS USA BEEF: A receita líquida foi de US$7,5 bilhões no 4T21, um aumento de 33,6% comparado ao 4T20 e o EBITDA ajustado foi de US$1,3 bilhão, com margem de 17,9%. No ano, a receita líquida foi de US$27,2 bilhões, um aumento de 25,3% comparado a 2020 e o EBITDA ajustado foi de US$4,9 bilhões, com margem de 18,0%.
Nos EUA, a disponibilidade de gado permaneceu adequada ao longo do ano, mas o preço, segundo o USDA, apresentou aumento médio de 22% no 4T21 vs. 4T20 e 13% em 2021 vs. 2020. A demanda de carne bovina maior que a oferta, tanto no mercado doméstico, quanto no mercado internacional sustentou os resultados do ano e do trimestre.
Por outro lado, os custos operacionais também foram maiores devido principalmente aos aumentos relevantes nos custos de mão de obra, logística e embalagens. No trimestre, o impacto inflacionário no custo operacional total do segmento foi de aproximadamente 40% por cabeça, e, em 2021, a Companhia investiu mais de $160 milhões em aumentos salariais anualizados para colaboradores nas suas 10 fábricas nos EUA e Canadá.
Mesmo assim, esse segmento cresceu a Margem EBITDA para 18,6%, que marcou um recorde no 4T21 e permanece cerca de 3-4x maior que o histórico.
JBS USA PORK: A receita líquida foi de US$1,9 bilhão, um aumento de 10,2% em relação ao 4T20, em função do aumento de 17,3% no preço médio de venda no período, apesar de uma redução de 6,0% no volume. O EBITDA ajustado totalizou US$229,8 milhões no 4T21, com margem de 12,1%. Em 2021, a receita líquida foi de US$7,6 bilhões, aumento de 22,5% comparado a 2020, e o EBITDA ajustado foi de US$765,8 milhões (+26,1% a/a), com margem de 10,0%.
A forte demanda por carne suína impulsionou os preços e foi importante para sustentar o crescimento das margens na comparação trimestral e manter as margens estáveis na comparação anual, mesmo diante de um cenário de custo muito mais desafiador, com destaque para os custos de mão de obra, embalagens e transporte.
No trimestre, o aumento do custo operacional total do segmento foi de aproximadamente 30% por cabeça. A escassez de mão de obra e de logística também impactaram o crescimento da produção e de um mix melhor de produtos. De acordo com o USDA, o volume de produção da indústria de carne suína no 4T21 apresentou redução de 4,4% em comparação com o 4T20 e queda de 2,2% na comparação anual.
Era de se esperar um arrefecimento das exportações deste segmento para a China também, afinal de contas, já se passaram quase 4 anos desde a ASF (peste suína africana). Sendo assim, as exportações recuaram 46% em 2021 para a China.
Entretanto, foram compensadas para outros mercados tradicionais, como: México (+31.4%), Colômbia (+60.5%) e Filipinas (+83.5%), além de outros destinos internacionais.
PPC: A receita líquida da PPC no 4T21 foi de US$4,0 bilhões, 29,5% maior do que no 4T20, e o EBITDA ajustado foi de US$316,7 milhões com margem de 7,8%, o que exclui o impacto de contingências legais nos Estados Unidos, no valor de US$132 milhões.
Em 2021, a receita líquida foi de US$14,8 bilhões, aumento de 22,2% comparado a 2020, e o EBITDA ajustado foi de US$1,3 bilhão (+63,6% a/a), com margem de 8,7%.
Apesar de um mercado desafiador e volátil devido ao aumento de custos, disrupção na cadeia de suprimentos, falta de mão de obra e a pandemia do COVID-19, a Pilgrim’s elevou de maneira significativa os resultados do trimestre e do ano, como consequência da estratégia bem executada e um portfólio forte e equilibrado.
Nos Estados Unidos, demanda e preços têm se mantido em patamares robustos. O negócio de food service continua avançando quando comparado ao mesmo período do ano anterior, enquanto os volumes de varejo permaneceram fortes, atingindo níveis mais altos do que os pré-pandêmicos.
A categoria de alimentos preparados continua evoluindo, cujas marcas Pilgrim’s e Just Bare cresceram significantemente no varejo e nos canais de e-commerce. As margens continuaram a melhorar também na operação de big bird, apesar de maiores custos de matéria prima e operacionais, além de um mix de produtos abaixo do ideal, devido à significativa escassez de mão de obra.
Conclusão e Valuation
Continuo positivo com o case de JBS e acho que ainda não chegou no valor justo da companhia. Enquanto a normalização do “boom” do ciclo do setor demora a acontecer e a inflação de proteínas levou a JBS para um novo patamar, eu continuo vendo a companhia com bons olhos para 2022.
A empresa continuou com várias aquisições interessantes, que abrem ainda mais novas regiões e marcas para ela explorar. Foram 7 aquisições só em 2021. A demanda por US Beef continua forte, tanto na parte doméstica, quanto nas exportações.
JBS pretende fazer a listagem nos EUA ainda, mas deve continuar para o ano que vem (dado as nuances desse ano) e eu não tomaria como um “trigger” definitivo para o negócio da empresa.
A saída do BNDS foi um grande marco para quem acompanhava o case e a companhia continua com as sua recompras, que foram aprovadas em até 10% do free-float (ou 116 milhões de ações) de novo. Além disso, ela entregou 8,2% de yield para os seus acionistas em 2021, distribuindo cerca de R$7,4 bilhões.
Continuo achando que a companhia vai ter condições de pagar dividendos e executar as recompras. Soma-se a isso ao fato dela estar negociando 4,7x EV/EBITDA para 2023, abaixo da média histórica de 7,8x.
Fonte: Bugg & Economatica
Hoje, ela negocia abaixo de 1 desvio padrão no EV/EBITDA e abaixo de peers globais como a Tyson Foods (NYSE:TSN). Sendo assim, eu continuo achando que o fair value para a companhia seja de R$51,00.
Era isso, valeu!