Fala pessoal, voltando a comentar alguns resultados. Me chamou a atenção o de Assaí (SA:ASAI3), uma companhia com foco em cash&carry (atacadão) que tende a se sair bem em momentos em que a inflação fica mais agitada.
Além disso, é uma companhia que já vem apresentando um crescimento, continua expandindo e tem uma gestão muito bacana por trás. Sem mais delongas, vamos ao resultado!
DESTAQUES
Eu sempre gosto de começar pelo quadro de destaques. A gente já consegue tirar muitas informações úteis dele. Começando pelo Faturamento Bruto, que encerrou em R$11,7 bilhões, patamar que foi recorde em relação ao 3T20.
Além disso, a Receita Líquida segue em trajetória de crescimento robusto, atingindo R$10,8 bilhões no trimestre, alta de 17,5% vs 3T20 e 56,2% vs 3T19. E o que ajuda a explicar essa boa performance?
Primeiro que a companhia vem crescendo de forma orgânica (+12,7%), refletindo uma rápida maturação das lojas abertas nos últimos 12 meses. Também temos o consistente resultado do SSS (Same Store Sales), uma métrica muito utilizada para saber como foram as vendas das lojas que já existiam a 12 meses. Neste caso, cresceram 4,5%, mesmo com a aceleração forte que teve nos últimos 2 anos. Por fim, a retomada progressiva do público B2B às lojas.
Este último tem ajudado a empresa a retomar o ganho de market share, principalmente, no Norte e no Nordeste. Esse ganho também está atrelado a expansão de lojas da companhia, que continuou com o seu plano de crescimento a todo vapor.
A companhia já inaugurou 10 lojas ao longo do ano, totalizando 194 lojas e tem 25 em fase de obras em 10 estados, sendo 15 a 18 lojas com previsão para ficarem prontas em 2021. Para vocês terem noção, nos últimos 12 meses, a companhia adicionou +11,5% de área de vendas de lojas e atingiu um total de 847 m².
Outro ponto interessante neste trimestre, foi que o Assaí firmou uma parceria com a Cornershop by Uber (NYSE:UBER) (SA:U1BE34), trazendo mais comodidade e conveniência aos clientes. Com rápida e bem-sucedida implementação, as vendas via e-commerce estão disponíveis em 122 lojas de 16 estados, potencializando o alcance a novos consumidores e oferecendo à população a possibilidade de realizarem suas compras através do aplicativo. Dessa forma, a companhia dá mais um passo em direção ao e-commerce.
RESULTADO OPERACIONAL
Antes de adentrar nos resultados operacionais da companhia, acho que é valido comentar que ela teve um não recorrente no valor de R$187 milhões no Lucro Líquido dela. Isso se deve aos créditos fiscais que estão voltando para a companhia, depois que foi julgada à inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS.
Logo, para entender melhor o que de fato aconteceu nos resultados operacionais, precisamos excluir esse não recorrente da conta. Para me poupar trabalho, a própria empresa já fiz isso no seu release, e fica claro na imagem abaixo:
Como é possível ver na imagem da DRE sem o efeito dos créditos fiscais, a Receita Líquida continua crescendo, assim como Lucro Bruto que atingiu R$1,8 bilhão, fruto da expansão orgânica e da rápida maturação das lojas novas.
SG&A cresceu quase 19% em relação ao 3T20, o que era de se esperar, devido a nova estrutura administrativa e do maior número de lojas abertas. Além disso, o resultado de equivalência patrimonial em R$12 milhões, é referente à participação de aproximadamente 18% detida pelo Assaí no capital da FIC (Financeira Itaú CBD). O número de cartões Passaí emitidos segue em franca evolução e ultrapassou a marca de 1,6 milhão ao final de setembro/21.
Outro que não foi impactado pelo não recorrente, é o EBITDA Ajustado. Este que finalizou o trimestre em R$838 milhões, com uma alta de 16,9% frente ao mesmo período anterior e manteve a mesma margem.
Para finalizarmos esse “tour” pelo resultado operacional, vamos olhar o Resultado Financeiro, que ficou negativo em R$88 milhões durante esse trimestre, um aumento de 22,5% frente ao terceiro trimestre de 2020.
Mas isso ocorreu por conta do maior custo da dívida neste trimestre, o que não é bom. Mas temos que olhar o outro lado também, o CDI mais que dobrou durante o período, passando de 0,51% no 3T20 para 1,24% no 3T21. Outro fator, é que a empresa estava com um volume maior de dívida no momento, devido às recentes captações que endereçam os pagamentos da primeira emissão de debêntures. Mas olhando para a dívida no geral e na relação de alavancagem, ela diminuiu.
Apesar da dívida de curto prazo e a de longo prazo terem crescido um pouco, ela conseguiu diminuir a dívida líquida, graças a um caixa maior e a relação de alavancagem (já incluindo os recebíveis de cartão de crédito não antecipados) ficou em 1,84x, menor que os 2,49x no mesmo período anterior e saudável na minha humilde opinião.
TRANSAÇÃO ENVOLVENDO EXTRA HIPER
Em 14 de outubro, em fato relevante conjunto com o GPA (SA:PCAR3), a companhia anunciou a conversão de 71 lojas do Extra Hiper em Assaí que ocorrerá a partir de 2022, refletindo uma forte aceleração do ritmo de expansão, adicionando pontos estratégicos em localizações excepcionais. São 63 lojas em grandes regiões metropolitanas, cerca de 50% no estado de São Paulo.
A transação apresenta baixo nível de canibalização com as lojas atuais do Assaí devido à estratégia de expansão adotada pela Companhia antes da cisão com o GPA. Além disso, esses pontos comerciais estabelecidos há mais de 20 anos em grandes centros urbanos, mais próximos do público transformador e de estratos sociais de renda mais elevada, tem como característica a rápida maturação.
A operação acrescentará aproximadamente 420 mil m² de área de vendas, correspondente a um incremento de cerca de 50% em relação ao parque atual de lojas, que aliado à estratégia de expansão orgânica, resultará em mais de 300 lojas em 2023.
Além disso, no passado, a companhia teve grande sucesso nas 20 conversões do Extra Hiper realizadas entre 2016 e 2019. Neste caso, o faturamento praticamente triplicou em relação ao formato de hipermercado, alcançando maturação de vendas no sexto mês de operação.
A companhia estima que a 71 lojas Extra Hiper que serão convertidas em Assaí poderão triplicar o faturamento, alcançando R$ 25 bilhões. O valor da transação a ser pago ao GPA é de R$ 4 bilhões, e será realizado de forma parcelada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2024.
Esse valor equivale a cerca de 15% do faturamento das lojas a serem convertidas na maturidade. Essa operação foi aprovada exclusivamente pelos membros independentes do Conselho de Administração de ambas as Companhias. O encerramento do processo de Due Diligence está previsto para o final do mês de novembro, com a assinatura definitiva dos contratos em dezembro/21 e a entrega das lojas ao Assaí em janeiro/22.
CONCLUSÃO E VALUATION
Eu já comentei sobre isso, mas não custa comentar de novo. Na última década, o setor de varejo de alimentos passou por uma transformação difícil devido à mudança dos hábitos dos consumidores, levando os consumidores a comprar marcas mais baratas e a visitar as lojas com menos frequência.
O papel anterior dos hipermercados como balcões únicos (abastecimento geral) foi substituído pelo atacarejo (modelo do ASSAÍ). Mais recentemente, a indústria também passou a desenvolver mais iniciativas de DTC (direto ao consumidor) para consumidores finais e B2B (ex: Parceiro BEES e Zé Delivery, da Ambev (SA:ABEV3)). Sendo que, 60% das vendas à vista costumavam ir para pequenas empresas (supermercados familiares e donos de restaurantes) e apenas 40% para consumidores finais.
Hoje, as famílias já fizeram pelo menos uma compra por ano em uma loja de atacarejo (vs. 47% em 2015). Na nossa humilde opinião, Assaí tem espaço para crescer e já tem uma execução muito boa dos seus processos (levando em consideração uma rampa de crescimento de dois dígitos nos últimos anos e aumento de margem). Além disso, a companhia conta com uma produtividade acima dos pares e exposição pura em Cash&Carry (o que é muito bom). Sendo assim, vejo a empresa negociando a 0,5x P/S, 6x EV/EBITDA e 11,5x Lucros (todos forward 2021). Considero bastante atraente dado aos múltiplos atraentes e o histórico de entrega de resultado.
Valeu pessoal!