Restrições dos EUA a exportações de chips pode acabar com boom da IA?

Publicado 14.01.2025, 13:35
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  • Veto a exportações de chips dos EUA pode acabar com boom da IA?
  • O governo dos EUA ampliou as restrições à exportação de chips de IA para 120 países.
  • A medida enfrenta críticas da indústria, que alerta para impactos na competitividade americana e nas cadeias globais de suprimentos.
  • Expansão de empresas, como Nvidia, Microsoft e Amazon, pode ser prejudicada?
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Ao estabelecer o precedente com controles de exportação sobre chips de inteligência artificial (IA), em outubro de 2022, o Bureau of Industry and Security (BIS), do Departamento de Comércio dos EUA, expandiu consideravelmente essa política na segunda-feira. A “Regra Provisória Final sobre a Difusão de Inteligência Artificial” da administração Biden agora se aplica a 120 países.

Essa Regra Provisória Final (IFR, na sigla em inglês) faz parte do amplo “Marco de Controle de Exportação para Difusão de Inteligência Artificial”.

O objetivo principal dessa ação regulatória, liderada pela Secretária de Comércio, Gina Raimondo, é o mesmo dos controles anteriores: negar à China acesso global a tecnologias avançadas de semicondutores usadas no desenvolvimento e fabricação de chips de IA.

“À medida que a IA se torna mais poderosa, os riscos à nossa segurança nacional se intensificam ainda mais.” - Gina Raimondo para repórteres

O número de países isentos das novas restrições é ligeiramente superior ao da aliança de vigilância Fourteen Eyes, com 18 nações. Entre elas estão Reino Unido, Taiwan, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, França, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Coreia do Sul, Suécia e Países Baixos.

Curiosamente, membros da Otan como República Tcheca, Hungria, Croácia e as repúblicas bálticas não estão na lista de exclusão, tornando esta uma das iniciativas mais exclusivas do mundo.

A nova regulamentação terá um período de comentários de 120 dias, permitindo que a administração Trump, após a posse em 20 de janeiro, faça ajustes. Contudo, como a postura contra a China tem apoio bipartidário, mudanças significativas são improváveis.

A questão é: isso reduzirá tanto o fornecimento global de chips de IA a ponto de neutralizar a alta das ações de IA?

Análise dos novos limites para chips de IA

Segundo a ficha técnica divulgada pela Casa Branca na segunda-feira, pedidos em massa de chips de IA com capacidade computacional equivalente a até 1.700 GPUs de ponta não serão afetados. Para comparação, a Meta (BVMF:M1TA34) (NASDAQ:META) anunciou em janeiro de 2024 a aquisição de capacidade computacional equivalente a 600.000 GPUs H100 da Nvidia (BVMF:NVDC34) (NASDAQ:NVDA).

Para empresas desse porte, o governo Biden introduziu o status de “Usuário Final Verificado Universal” (UVEU), permitindo a aquisição de até 7% da capacidade global de computação em IA, o que “provavelmente equivale a centenas de milhares de chips.”

Além disso, entidades nos países mencionados acima podem solicitar o status de “Usuário Final Verificado Nacional” (NVEU), permitindo acesso a 320.000 GPUs em dois anos. Já entidades fora desse sistema poderão adquirir até 50.000 GPUs.

Esse limite de 50 mil pode ser dobrado mediante acordos diretos entre governos, conferindo flexibilidade na aplicação.

LEIA TAMBÉM: Ações de Empresas de Inteligência Artificial

Reação da indústria de semicondutores às novas restrições

A Semiconductor Industry Association (SIA), que representa 99% do setor de chips dos EUA, expressou preocupação com a adoção de uma regra tão abrangente “dias antes de uma transição presidencial e sem consultas significativas com a indústria.” A SIA alertou que a medida “pode causar danos não intencionais e duradouros à economia americana e à competitividade global.”

O Information Technology Industry Council (ITI), que representa gigantes como Microsoft (BVMF:MSFT34) (NASDAQ:MSFT), Meta e Amazon (BVMF:AMZO34) (NASDAQ:AMZN), compartilha preocupações semelhantes. Segundo o ITI, restrições arbitrárias ao setor de semicondutores dos EUA poderiam beneficiar concorrentes estrangeiros.

Ken Glueck, vice-presidente executivo da Oracle (BVMF:ORCL34) (NYSE:ORCL), afirmou em seu blog que o novo marco regulatório “entrará para a história como um dos mais destrutivos já impostos à indústria de tecnologia dos EUA.”

Conforme a AP, algumas fontes internas sugerem que essas restrições podem até impactar GPUs usadas em videogames, além de limitar a expansão de data centers fora dos 18 países listados.

Charlie Dai, VP e analista principal da Forrester, prevê consequências inesperadas:

“Isso não apenas restringe o acesso da China a tecnologias avançadas, pressionando empresas dos EUA a inovarem, como também limita a participação global das companhias americanas e incentiva a China a acelerar seu próprio desenvolvimento tecnológico, alterando o panorama global e intensificando a competição tecnológica EUA-China.”

Em resumo, toda a indústria tecnológica parece estar contra a nova proposta regulatória.

Nova incerteza para empresas

Dada a dependência de computação em nuvem, que utiliza GPUs e chips de IA, empresas em todo o mundo devem enfrentar interrupções. Novos custos de conformidade também podem gerar um efeito de consolidação, favorecendo companhias com maior poder financeiro.

Ao mesmo tempo, o governo dos EUA pode isolar nações restritas, enquanto a China acelera seu desenvolvimento de chips de IA com a arquitetura aberta RISC-V, sob o 14º Plano Quinquenal.

Embora os principais clientes da Nvidia sejam grandes empresas como Microsoft, Alphabet (BVMF:GOGL34) (NASDAQ:GOOGL) e Amazon, suas expansões estão agora em risco. A capacidade de computação de IA fora dos EUA será limitada a 50%, enquanto em países confiáveis o limite é de 25%, e em nações não confiáveis, apenas 7%.

Esse cenário pode prejudicar a Nvidia, desestabilizando cadeias globais de suprimentos e planos de expansão de infraestrutura de IA. Em um blog, Ned Finkle, representante da Nvidia, classificou a nova regra como “sem precedentes e equivocada,” afirmando que “busca manipular o mercado e sufocar a concorrência.”

Diante da rejeição generalizada, é possível que a administração Trump alivie parte da “regulamentação de mais de 200 páginas.” Durante sua campanha, Trump buscou aproximação com líderes do Vale do Silício, que, em troca, sinalizaram apoio. Mark Zuckerberg, CEO da META, é um exemplo notável, já que anunciou a reversão de iniciativas de DEI, cancelou “checadores de fatos” e eliminou produtos como absorventes em banheiros masculinos.

Ainda assim, resta saber se a ala de segurança nacional ganhará mais espaço em relação à tecnocrática. Deve-se lembrar que essa última, dentro do Fórum Econômico Mundial, dá grande importância à difusão global da IA.

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