Estão aumentando as preocupações com o cenário de produção de petróleo nos EUA, principalmente com a aproximação do prazo de implementação das sanções dos EUA e da UE contra o petróleo da Rússia. A menos que haja uma reversão dessa política, tais sanções devem entrar em vigor em 5 de dezembro. Com isso, a demanda por exportações petrolíferas dos EUA deve aumentar.
Será que produção americana conseguirá atender à demanda? A seguir, fazemos uma análise do seu estado atual e de algumas questões que estão afetando a oferta no futuro próximo.
A Administração de Informações Energéticas (EIA, na sigla em inglês) prevê que a produção petrolífera dos EUA será de 11,8 milhões de barris por dia (mbpd) em média em 2022. A oferta do país recentemente ultrapassou a marca de 12 mbpd e variou na faixa de 11,9 mbpd a 12,2 mbpd entre as primeiras quinzenas de maio e setembro de 2022. Esse volume está próximo da taxa recorde de produção de 12,3 mbpd que os EUA alcançaram no início de 2020. Embora a produção finalmente tenha atingido a marca de 12 mbpd, a oferta média do petróleo norte-americano em 2022 ainda registra uma queda de cerca de um quinto, em comparação com as taxas de 2019.
Um artigo recente publicado no Wall Street Journal destacou que muitas empresas petrolíferas privadas que operam na Bacia do Permiano estão se aproximando do fim do período de alto crescimento. Esses produtores são responsáveis por grande parte do aumento da oferta pós-pandemia e atualmente estão operando quase metade das plataformas de perfuração naquela região. Eles também detêm cerca de um quinto da área mais valiosa no Permiano.
A análise do Wall Street Journal, baseada em dados da Enverus, mostra que a atividade de perfuração no Permiano já está desacelerando. De fato, segundo a análise, “eles aproveitaram vários dos melhores pontos de perfuração e terão que reduzir o ritmo acelerado de sondagens, à medida que seus estoques encolhem”. Com isso, a análise afirma que essas empresas não devem produzir um volume suficiente para atender à demanda dos EUA e global no longo prazo.
A EIA atualmente projeta que a produção dos EUA crescerá até uma média de 12,6 mbpd em 2023. Essa seria uma máxima histórica. No entanto, essa previsão se baseia em um crescimento constante da produção na Bacia do Permiano. Se o aumento da oferta no Permiano for reduzida, é pouco provável que os EUA atinjam esse volume tão grande.
No entanto, de acordo com o economista-chefe do API, Dr. Dean Foreman, não faltam áreas de qualidade para perfuração. Em uma entrevista concedida ao meu podcast Energy Week, no mês passado, ele explicou que “temos os recursos, as rochas são boas. Não há faltam rochas com boa geologia para perfurar”. Na verdade, o que está impedindo um aumento da produção são restrições de mão de obra, atrasos na cadeia de suprimentos, problemas financeiros e políticas energéticas.
O acesso aos mercados de capitais continua sendo um problema para as empresas petrolíferas que não podem ou não querem autofinanciar seus projetos de perfuração. Os poços perfurados, mas incompletos, estão começando a se acumular em algumas regiões, devido à escassez de profissionais especializados. Apesar do suporte ostensivo da Casa Branca no sentido de aumentar a produção doméstica, não houve uma mudança concreta nas políticas que obstaram a construção de infraestrutura e o processo licenciamento. Além disso, as tarifas aplicadas ao aço no governo Trump continuam em vigor, dificultando o trabalho dos produtores de energia.
A grande lição para os investidores é que a previsão de EIA para 2023 provavelmente é otimista demais, dadas as limitações que os produtores enfrentam na maioria das regiões dos EUA. Mas o problema não é a falta de petróleo acessível, mas as restrições aos produtores, as quais criaram um ambiente no qual o crescimento se tornou mais difícil do que nunca.