A Starbucks (NASDAQ:SBUX) (SA:SBUB34), maior rede de cafeterias do mundo, orgulha-se de utilizá-lo. “Usamos apenas grãos de arábica, para que você possa se deliciar com o café de alta qualidade que esses grãos conseguem criar”, afirmou Aaron Robinson, gerente de compras de café em uma postagem no site da companhia.
Robinson disse ainda, exaltando a oferta:
“O arábica pode ser elegante. Pode ser complexo. Pode ter um corpo interessante e acidez capaz de ser usada e combinada em sabores novos e interessantes".
Pode ser. Mas os torrefadores – ou aqueles cientistas e outros especialistas do mercado cujo trabalho é escolher os grãos perfeitos para os clientes e as melhores redes – podem ter outras ideias, na medida em que a restrição global de arábica os faz recorrer ao robusta, cuja disponibilidade é mais fácil.
“Os torrefadores estão cada vez mais substituindo os grãos de arábica pelos de robusta, devido às restrições causadas pela Covid-19 no Vietnã, grande país produtor, e à escassez de opções de frete por contêiner, o que está impactando os preços”, disse a Reuters em uma reportagem de 20 de setembro.
Desde o excesso de chuvas na Colômbia a menor safra no Brasil, o impacto do clima e a baixa produtividade no campo, além de outras questões, acabaram diminuindo o comércio global de arábica e dificultando a busca de torrefadores por grãos de qualidade e de menor custo dessa variante.
Mas o robusta também não está livre de problemas. Quem busca seus grãos em Londres diz que está enfrentando dificuldades para obtê-los do Vietnã, devido a uma escassez de contêineres para exportação, um dos efeitos do repique da epidemia de Covid.
Preços do café em alta há meses
O efeito cumulativo é que os preços do café, independente do tipo, estão em alta há meses.
“O mercado continua aquecido devido à falta de oferta disponível na origem”, disse Jack Scoville, analista-chefe de commodities agrícolas do Price Futures Group, em Chicago.
Com o fechamento de setembro se aproximando, o arábica em Nova York já acumula alta de 2,7% no mês e 57% no ano, girando em torno de US$1,98 por libra-peso.
Já o robusta, negociado em Londres, sobe quase 7% em setembro, devido ao excesso de demanda de torrefadores, que passaram a procurar essa variante mais prontamente disponível em substituição ao arábica, que está mais caro. No ano, o robusta acumula uma alta relativamente menor de 28%.
E embora a Reuters tenha citado que o arábica é o mais caro dos dois, uma análise melhor mostra que o robusta, a US$2.163 por tonelada, na verdade custa US$2,163 por libra-peso, ou seja, está mais caro que o arábica. Geralmente, o arábica é negociado com um prêmio frente ao robusta, mas a dinâmica pode ter mudado nas últimas semanas, devido ao aumento da demanda pelos grãos cultivados na Ásia.
Da mesma forma, apesar de a matéria da Reuters sugerir que a substituição está se tornando norma na indústria, nem a Starbucks nem qualquer outra grande rede de cafeterias anunciou qualquer mudança em suas compras de grãos devido às condições de mercado.
A Starbucks, sediada em Seattle, Washington, é a maior empresa de cafeterias do mundo, com 32.938 estabelecimentos até o primeiro trimestre deste ano. Em seguida vem Dunkin Donuts, com 10.000 restaurantes; Tim Hortons, pertencente à Restaurant Brands International (NYSE:QSR), com 4.300 lojas; e Costa Coffee, pertencente à Coca-Cola (NYSE:KO) (SA:COCA34), com 1.700 estabelecimentos.
No que se refere ao rali do café, os gráficos destoam desse cenário em sua perspectiva de mercado?
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
Segundo o analista técnico indiano Sunil Kumar Dixit, não. Ele afirma que os indicadores gráficos reforçam a corrida de alta.
Como explica Dixit:
“O candle de julho do arábica tocou US$2,15 e fechou com um padrão de engolfo altista, seguido dos candles de agosto e setembro, também posicionados de forma altista dentro de uma formação que reforça a continuação do movimento de alta para retestar US$2,15 como primeiro alvo mais ambicioso”.
“Um estudo cuidadoso mostra um suporte imediato a US$1,82, que é horizontal e estático no gráfico diário, mas dinâmico no gráfico mensal. Somente um rompimento para baixo pode fazer os preços buscarem o nível baixista de US$1,76.”
Para o robusta, Dixit afirma que o gráfico mensal mostrava “intensa ação de preços, claramente apontando para um movimento sustentado até a máxima anual de 2017 de US$2.282.”
“O momentum deve pausar em um rompimento abaixo da média móvel exponencial de 5 meses a US$2.110, com possível correção de preços até US$1.800, um alvo possivelmente dinâmico para o meio da Banda de Bollinger daqui a um ou dois meses”.
“Por outro lado, o índice de força relativa para o robusta mostra uma leitura extremamente sobrecomprada de 100/100. Ele deve corrigir em breve abaixo de US$2.110. Por enquanto, o potencial de alta prevalece”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.