Nosso cenário-base ainda é de crescimento negativo do lucro por ação (LPA) e de maior taxa de desemprego em maio/junho deste ano nos EUA.
Em outras palavras: uma recessão.
Mas, e se estivermos errados?
Reserva de mão de obra
Durante a pandemia, as empresas enfrentaram a escassez de mão de obra e grandes desafios ao tentar contratar novos colaboradores qualificados.
Essas lembranças ainda estão frescas na memória de muitos empreendedores, como ressalta o gráfico abaixo:
A rápida deterioração do mercado imobiliário americano (linha azul) historicamente aponta para grandes demissões no setor de construção, o que contribuiria para uma piora na taxa de desemprego.
Alguns cálculos superficiais sugerem que a estagnação do mercado imobiliário pode acarretar cerca de 1,5 milhão de perdas de empregos em todos os segmentos relacionados ao setor (construção, finanças, corretores e atividades auxiliares). Somente esses cortes colocariam os EUA em território recessivo.
Mas, por incrível que pareça, o setor de construção americano registrou contratações líquidas positivas nos últimos 12 meses.
A única explicação razoável é a reserva de mão de obra.
Como as empresas tiveram grande dificuldades para contratar profissionais qualificados durante a pandemia e provavelmente esperam que a estagnação do mercado imobiliário tenha vida curta, não estão demitindo ativamente seus colaboradores, temendo dificuldades para recontratá-los.
Dois fatores confirmam essa visão: o crescimento dos salários não está acelerando e a média de horas trabalhadas na semana continua caindo. Se as empresas mostram disposição em reservar pessoal mesmo com uma queda da atividade, é provável que tentem cortar custos reduzindo as horas trabalhadas dos colaboradores e evitando aumentar seus salários.
Tudo indica que seja isso o que está acontecendo, o que deve atrasar o início de uma recessão.
No fim das contas, é um exercício inócuo.
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Aviso: Este artigo foi publicado originalmente em Macro Compass (BVMF:PASS3).