Publicado originalmente em inglês em 17/08/2021
O impressionante colapso do governo afegão e a tomada de poder do país pelo Talibã fizeram os investidores correrem para a segurança dos títulos públicos americanos.
O rendimento da nota referencial de 10 anos afundou abaixo de 1,23% após permanecer acima de 1,35% na última semana. As notícias do fim de semana, dando conta do caos em Cabul, aceleraram o declínio iniciado na sexta-feira, quando o relatório de sentimento dos consumidores ficou abaixo das expectativas nos EUA.
O foco na ata da reunião de julho do Federal Reserve, prevista para quarta-feira, ficou em segundo plano diante dos eventos no Afeganistão e da tardia resposta do presidente americano Joe Biden, que interrompeu suas férias em Camp David para retornar à Casa Branca na segunda-feira e falar sobre a situação.
A imediata repercussão negativa da retirada americana e o subsequente caos acabaram por apagar a divisão partidária, de modo que até mesmo aqueles que defendiam a saída criticaram a forma abrupta e inepta com que foi executada.
Os tumultuados eventos ameaçaram manchar permanentemente a presidência de Biden, potencialmente criando uma crise de competência, segundo analistas pró-presidente.
Em seu pronunciamento na Casa Branca, Biden novamente culpou os afegãos por não terem lutado por seu país, defendendo que os EUA nunca iriam atingir seu objetivo de fazer com que o país se tornasse uma democracia viável.
Alguns analistas expressaram a preocupação de que o Afeganistão poderia voltar a se tornar um paraíso para terroristas, aumentando a ameaça à segurança nacional dos EUA. Contudo, Biden disse que Washington está combatendo com eficiência o terrorismo ao redor do mundo e faria o mesmo no Afeganistão.
O rendimento do treasury de 10 anos repicou para 1,27% durante a fala de Biden, mas sua declaração não deve restaurar a confiança dos aliados nos EUA. A ironia de que os EUA estavam enviando 6000 tropas para consertar o problema causado pela retirada de 2500 não passou despercebida por muitos observadores.
Dados sobre a produção industrial e vendas de varejo na China desaceleraram significativamente em julho, aumentando as preocupações dos investidores com a economia e aumentando a demanda de títulos governamentais.
O Departamento do Tesouro americano anunciou, no início deste mês, que começaria a reduzir as emissões em novembro, em boa sintonia com a redução de compras do Fed, para que os preços continuassem firmes (e os rendimentos baixos).
A ata da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto pode fornecer algumas indicações quando o Fed pode começar a diminuir suas compras. No entanto, uma blitz de pronunciamentos de autoridades monetárias nas últimas duas semanas deixou claro que isso deve acontecer mais cedo que tarde. Membros mais rigorosos pressionam por um anúncio em setembro e reduções já em outubro, mas outros podem querer avançar mais lentamente.
Títulos europeus reagem em compasso
A confusão no Afeganistão e o aumento das preocupações também deram suporte aos títulos governamentais da zona do euro. O rendimento do título referencial de 10 anos da Alemanha afundou para -0,489% antes de se recuperar para -0,467%, perto do fechamento de sexta-feira a -0,468%. As negociações foram escassas, haja mista que muitos investidores estão de férias.
Os títulos do governo britânico se recuperaram dentro de uma consolidação estreita, já que o rendimento do gilt de 10 anos perdeu o patamar de 0,551% e registrou pico a 0,597% antes de fechar a cerca de 0,575%, também em linha com o fechamento de sexta-feira.
No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau convocou uma eleição antecipada em 20 de setembro, na esperança de ganhar a maioria no parlamento após obter bons números no enfrentamento da Covid-19. A preocupação com a agenda progressista de Trudeau fez com que o título de 10 anos do Canadá caísse para 1,167%, em comparação com o fechamento de sexta-feira a 1,184%.