Em seu menor patamar desde 12 de novembro de 2020, o Ibovespa se aproxima da marca dos 100 mil pontos em meio às preocupações com os riscos fiscais, que vêm pressionando o mercado há algum tempo. Com isso, após o índice encerrou o pregão de quinta-feira (18) em queda de -0,51 por cento, aos 102.426 pontos, pelo quarto dia consecutivo de perdas, houve uma recuperação no dia seguinte com uma alta de 0,59% a 103.035 pontos.
Lá fora, nos EUA, os investidores seguem atentos a uma correção das Bolsas em Wall Street diante de uma possível resposta de política monetária mais antecipada por parte do Federal Reserve (Fed) para tentar conter a escalada da inflação.
Inflação pode ser mais persistente em certas partes do mundo
Para piorar. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, na quinta-feira (18), que a inflação pode se tornar mais resistente em certas partes do mundo se as interrupções na cadeia de suprimentos continuarem ou se as expectativas de inflação ficarem desancoradas.
O cenário no país. “Os níveis contínuos de inflação alta nos Estados Unidos podem exigir uma resposta de política (monetária) mais antecipada, o que pode impor pressão sistêmica de baixa para a economia global e a norte-americana”, disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, em um briefing regular.
Por falar em inflação… No Brasil, a inflação avançou 1,25 por cento em outubro, a maior taxa para esse mês em 19 anos, pressionada pela alta dos combustíveis e dos alimentos, segundo o IBGE. O índice de preços ao consumidor acumula uma alta de 8,24 por cento no ano.
Entenda o grande debate da inflação no Brasil
A aceleração de preços é global. Mas por aqui destoa de outros países, alcançando taxas mais elevadas. E quais têm sido os motores da inflação no Brasil?
O início de tudo é com os choques no preço dos alimentos, em meados de junho, com o auxílio emergencial. O governo colocou dinheiro na mão de quem não tinha renda e o aumento do consumo de alimentos básicos levou a uma alta de preços nas gôndolas de supermercados. Em seguida, vieram os choques no preço dos combustíveis e gás derivados do aumento da taxa de câmbio no mercado interno e, depois, sofremos choques no preço da conta de energia elétrica por conta da falta de chuvas, fazendo o Brasil viver sua pior crise hídrica nos últimos 91 anos.
Esses choques acabaram contaminando os demais preços da economia e, para controlar esse cenário, o Banco Central tem usado como remédio a elevação da taxa básica de juros, a Selic.
Por que a inflação do Brasil é pior?
Por aqui, a alta acumulada dos preços em 12 meses ultrapassa a casa de dois dígitos, enquanto em países do G-20 esse número está em 4,5 por cento. Nos 38 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o número médio é ainda menor: 4,3 por cento.
O que é preciso fazer para controlar a inflação?
O melhor remédio para controlar o cenário de inflação é entrar com a mesma estratégia usada em 2016.
Naquela época, tínhamos o mesmo cenário: inflação forte e atividade fraca. Com a entrada de Temer na reta final de 2016, o mercado viu um choque de credibilidade a partir de seu discurso.
Para tentar conter a aceleração dos gastos públicos, tivemos a criação do teto de gastos — medida que vem funcionando como uma espécie de “âncora” fiscal do país nos últimos anos e que ajuda a controlar o crescimento do endividamento público.
Em segundo lugar, tivemos a Reforma Trabalhista e de regulamentação do processo de terceirização, removendo algumas amarras dos empreendedores e estimulando novas contratações.
Além disso, o país conseguiu aprovar a segunda grande reforma estrutural, a Reforma da Previdência, que abriu espaço fiscal e de responsabilidade para mitigar o peso dos gastos com Previdência e servidores no Orçamento do governo.
Como resultado, quais foram os efeitos na economia? Essas ações sinalizaram uma maior responsabilidade com a situação fiscal do país, por meio do maior controle dos gastos públicos. Isso contribuiu para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, permitiu o ciclo de queda das taxas de juros. Dessa forma, a Bolsa de Valores brasileira também foi favorecida e voltou a subir.
Então, é necessário um novo choque de credibilidade para ajudar a mudar o cenário atual de inflação elevada e atividade fraca que estamos presenciando.
Como investir em renda fixa durante a alta da Selic?
Considero que, com a perspectiva de Selic ainda mais alta, é importante olhar para os títulos pós-fixados, que passaram a render um pouco mais.
Por outro lado, o ciclo de alta mais forte da Selic tem reduzido ainda mais as expectativas para a nossa atividade econômica. Inclusive, diversos economistas e instituições financeiras já preveem estabilidade ou recessão econômica para 2022.
Por fim, é preciso ter cuidado para conseguir bons rendimentos. No curto prazo, é necessário liquidez e segurança.
Este conteúdo foi publicado originalmente na área de assinantes do Renda Fixa PRO, e representa uma parte da mentoria exclusiva realizada em 18 de novembro de 2021.